Carrasco de 2010, Sneijder vira patinho feio da Holanda no Brasil

Fernando Duarte

DO UOL, no Rio de Janeiro

O treino aberto da seleção holandesa no último sábado transcorria sem maiores incidentes até o treinador Louis Van Gaal interromper aos berros uma exercício de triangulações. Uma carraspana que tinha como endereço os ouvidos do meia Wesley Sneijder. Um afago posterior no pescoço do jogador do Galatasaray não escondeu o que há alguns meses parece ter ficado óbvio: de herói da Laranja no vice-campeonato mundial de 2010, em que foi carrasco do Brasil, Sneijder virou patinho feio. 

Assim como no campo do Flamengo na Gávea, Van Gaal não fez questão alguma de esconder sua insatisfação com o que viu como uma acomodação do meia após a África do Sul. Em 2010, Sneijder era ídolo na Inter de Milão e fechou a temporada de clubes ganhando a Liga dos Campeões da Uefa contra o Bayern de Munique. Desde então, sua carreira empacou e a mudança para a Turquia foi um sinal de desvalorização. E que não passou despercebido por Van Gaal.
 
"Eu não entendo como um jogador jovem como ele (29 anos) decide ir jogar numa liga de segundo escalão em vez de buscar maiores desafios", criticou o treinador quando a transferência foi anunciada no ano passado.
 
Naquela época Van Gaal já tinha perdido a paciência com Sneijder. Um dos culpados pela péssima campanha na Eurocopa de 2012, quando a Laranja perdeu as três partidas que jogou e caiu na primeira fase, causando a renúncia de Bert Van Marwijck, o técnico imediatamente barrou o meia quando assumiu o comando do time e em algumas partidas sequer convocou o jogador. Parecia também uma maneira de resolver a picuinha do meia com Robin Van Persie, seu grande desafeto no time – e Van Gaal ainda esfregou sal na ferida ao tirar a faixa de capitão de Sneijder e dá-la a Van Persie.
 
 "Wesley está fora de forma e não me parece estar se esforçando o suficiente. Quero levar para a Copa quem está jogando bem em seu clube regularmente, não quem tem nome", reclamou Van Gaal, mais uma vez em público, no início de abril.
 
Nos planos do treinador, Sneijder teria que funcionar mais como um meia mais centralizado em vez do jogador mais "flutuante" que ele vinha sendo para a equipe. Não funcionou e o carrasco do Brasil perdeu espaço para Kevin Strootman, da Roma.
 
A presença de Sneijder em sua terceira Copa do Mundo ficou ameaçada o suficiente para que mídia holandesa apostasse em sua exclusão, mas a novela sofreu uma reviravolta quando Strootman sofreu uma séria lesão no joelho que o tirou do mundial e forçou Van Gaal a alterar o esquema tático da seleção para a dura missão de enfrentar espanhóis, chilenos e australianos no Mundial: tanto em seu 4-4-2 quanto em seu 5-3-2, Sneijder é um jogador importante justamente por seu perfil mais "indisciplinado" em termos de posicionamento e na armação de jogadas.
 
Mas Sneijder não ganhou a convocação de presente: em meio às broncas de Van Gaal, o jogador procurou os serviços de um preparador físico inusitado: o kickboxer holandês Gokhan Saki. Bizarra na teoria a parceria na prática deu um upgrade na forma física do jogador. "Gohkan devolveu minha energia, voltei ao peso que tinha aos 22 anos", comemorou Sneijder numa recente entrevista.
 
A principal declaração, porém, foi uma "mea culpa" destinado não apenas ao treinador, mas a um país em que o estilo vaidoso e festeiro de Sneijder frequentemente desperta críticas. "Van Gaal estava certo. Hoje eu entendo que estava decepcionando o time por não trabalhar duro o suficiente. Minha forma física e técnica tinha decaído", completou.
 
As cenas da Gávea mostram que Van Gaal não pretende afrouxar a marcação sobre o jogador, ainda que tenha elogiado seu esforço durante um período de treinos da Holanda em Portugal, pouco antes do embarque para o Brasil.
 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos