Já confirmado como novo treinador do Manchester United, função que assume assim que encerrada a participação da seleção holandesa na Copa do Mundo do Brasil, o técnico Louis Van Gaal tenta deixar como legado uma equipe que não "desmanche" durante o torneio por conta de uma guerra de egos. Depois de as desavenças entre jogadores terem feito a Laranja naufragar na última Eurocopa (2012), o disciplinador Van Gaal retornou ao cargo que, ironicamente, marcou uma das maiores decepções de sua carreira – o fracasso holandês nas eliminatórias do Mundial de 2002.

Se o fato de o elenco holandês ter "rejuvenescido" em relação ao que esteve há quatro na África do Sul também servir para um treinador com um bom currículo em trabalho com jogadores mais jovens, o pulso firme de Van Gaal é crucial no controle de duas estrelas da Laranja, formado por Robin Van Persie, Wesley Sneijder e Arjen Robben. Em especial Van Persie e Sneijder, cuja antipatia mútua e rivalidade ajudaram a rachar o grupo vice-campeão mundial na Eurocopa, a ponto de a Holanda ter voltado da competição com três derrotas em três partidas – Sneijder teria até se recusado a passar a bola para Van Persie.

Se não foi a primeira vez em que diferenças pessoais implodiram uma campanha holandesa – em 1996, por exemplo, Edgar Davids causou furor com acusações de racismo no time – a Holanda dessa vez não pôde se dar ao luxo de simplesmente "podar" os mais problemáticos. Van Persie e Sneijder são peças importantíssimas nos planos da Holanda de escapar de um dos grupos mais difíceis da Copa (o B, ao lado de Espanha, Chile e Austrália) e evitar um confronto prematuro com o Brasil nas oitavas-de-final.

"Sneijder e Van Persie já brigaram em público para ver quem batia uma falta e até nas celebrações de gols fica nítido que eles não se gostam. É o tipo de problema que Van Gaal pode e sabe controlar", explica Mark Miserus, repórter do jornal holandês "De Volkskrant" que acompanhou na tarde desta sexta-feira o treino da Holanda na Gávea.

A grande ironia da situação é que poucas pessoas têm um ego tão inflado quanto o do treinador – suas brigas com o brasileiro Rivlado no Barcelona ficaram famosas. No entanto, quando  o nome do holandês foi anunciado no mês passado como novo comandante do United, ex-pupilos fizeram fila para elogiar os métodos de Van Gaal.

E os jogadores de agora rapidamente perceberam a necessidade de dançarem conforme a música. E a Holanda foi uma das equipes que mais rápido se classificaram para a Copa do Mundo, fechando seu grupo nas eliminatórias com uma invencibilidade de 10 partidas e um saldo de 29 gols.