Um holandês, um Chevrolet, e um desejo: curtir a Copa no Brasil

Vagner Magalhães

Do UOL, em Mata de São João

O holandês Ben Oude Kamphuis completa 53 anos no próximo sábado. No dia 15 de janeiro ele deixou San Francisco, na Califórnia, a bordo de um Chevrolet, o "laranja mecânica". Trouxe consigo alguns mapas em papel e uma ideia fixa: chegar ao Brasil antes do início da Copa do Mundo. Ele calcula ter rodado cerca de 20 mil km até  Salvador, na Bahia. A partir dos Estados Unidos, viajou por 12 países, colecionou amigos, histórias, mas não pretende acompanhar nenhuma partida dentro das modernas arenas construídas para o Mundial.

Mesmo se dizendo um apaixonado por futebol - é torcedor do Ajax - ele conta que estar sem ingressos para os jogos não gera nenhum tipo de frustração."A experiência de vida que se ganha em uma viagem dessas supera qualquer partida de futebol. Estou há mais de cinco meses na estrada celebrando a seleção holandesa. Foi uma viagem incrível. Todo o dinheiro que eu tinha gastei em gasolina", afirma. Em seguida, queixa-se: "como a gasolina de vocês é cara".
 
Para economizar com hospedagem, ele montou a sua "casa" na carroceria do veículo. Ali, uma cama adaptada e mais uma coleção de objetos variados, entre eles uma flâmula do Ajax. No caminho, muita gente ofereceu, além de carinho, comida. "As pessoas me chamavam para dentro de suas casas", lembra.
 
Kamphuis nasceu em Amsterdã, na Holanda, mas está nos Estados Unidos há 27 anos. Conta que trabalha como terapeuta, com crianças excepcionais. Algumas delas deixaram as mãos pintadas na lataria do veículo, como um singelo desejo de boa viagem.
 
O carro, aliás, é uma atração à parte. Pintado de laranja, por ele mesmo, é todo cheio de penduricalhos. Boa parte deles foi incorporada durante a viagem, presente das pessoas que conheceu pelo caminho, que ele relata em um fôlego só: "Estados Unidos, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru e Brasil". Sua maior preocupação está nas cidades grandes. "Muita gente acaba retirando a decoração. É diferente das cidades pequenas", afirma.
 
O holandês disse que os momentos mais tensos da viagem foram na fronteira entre Estados Unidos e México, local que ele considera "barra pesada". "Não é uma localidade agradável. Há muito tráfico de drogas, gente desconfiada. É melhor passar rápido", diz.
 
No caminho, diz ter perdido as contas de quantas vezes foi parado pela polícia. "Na Nicarágua, queriam propina. Mas na maioria das vezes os policiais me paravam só para ver o carro. E fazer uma foto, é claro", diverte-se.
 
No fundo, ele diz que a aventura foi motivada por um simples motivo: "celebrar a vida". "Farei 53 anos no próximo sábado e fico com a sensação de que tudo vai muito rápido. Neste período em que estou viajando, perdi dois amigos meus. Não há tempo para esperar", diz ele.
 
Antes de sair, teve de convencer o chefe e seu filho adotivo para se ausentar por um período tão longo. "No início, quando comecei a planejar a viagem, há dois anos, não acreditaram muito. Mas depois, até me incentivaram".
 
Depois de Salvador, o holandês pretende partir para São Paulo, local em que a Holanda enfrenta o Chile. Lá ele quer encerrar a viagem. "Porto Alegre - onde a Holanda enfrenta a Austrália - está fora dos meus planos. Vou com o carro até o Porto de Santos e lá ele será embarcado em um contêiner. Eu volto de avião. Cheio de histórias para contar".
 
 

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