Ameaça de morte e golpe de prostituta: ambulante vive saga para ver seleção

Luiza Oliveira

Do UOL, em Teresópolis (RJ)

  • Luiza Oliveira/UOL

    Antônio Rodrigues da Silva, o Toninho do Queijo, vai para a porta da seleção tentar ver jogadores

    Antônio Rodrigues da Silva, o Toninho do Queijo, vai para a porta da seleção tentar ver jogadores

As mãos calejadas e as rugas marcadas pelo sol dão pistas das aventuras vividas por Antônio Rodrigues da Silva. A peruca, a faixa e a parafernalha verde e amarela dão a certeza do amor pela seleção brasileira. Mas só quando esse alagoano arrasta seu sotaque arretado dá para ter a noção das peripécias para acompanhar a seleção na Copa do Mundo.

A saga de um ano passando por cinco estados do Brasil teve de tudo: foi assaltado por uma prostituta, sofreu ameaça de morte, quase foi preso. E só superou tudo graças ao trabalho: vendendo muito queijo provolone defumado – que ele jura que não estraga por até um mês fora da geladeira.

Toninho do Queijo, como é conhecido, decidiu sair de Maragogi-AL e ir para Teresópolis assim que soube que a seleção iria se preparar na cidade. Os quase 2200 km de distância e as 36 horas de viagem até eram cansativas. Mas o grande problema eram os R$ 370 da passagem de ônibus. Sem dinheiro para a travessia, decidiu ir aos poucos.

Partiu rumo a Aracaju, capital de Sergipe, onde ficou por quase dois meses até juntar dinheiro para dar o próximo passo. De lá, partiu para Porto Seguro-BA para ficar por mais dois meses. Assim que o bolso encheu novamente partiu para Linhares no Espírito Santo. A última parada foi também a mais longa: oito meses morando em terras capixabas.

Toninho se instalou em Guapimirim, a 22 km da casa da seleção. O esforço vem valendo a pena. Desde que chegou ao estado fluminense, as vendas subiram e a renda dobrou. No Sudeste, pôde subir os preços e até foi regularizado como microempresário. É dono da RR Laticíneos. Agora, chega a vender 900 porções de queijo por dia ao preço de R$ 10 cada. Quando vivia no Nordeste, vendia três queijos por R$ 10. 

Agora, sua rotina – que pretende seguir durante toda a Copa - é a que pediu a Deus. De dia, fica na porta da Granja Comary à espera dos ídolos e usa a voz para tentar convencer Felipão a abrir os portões. De noite, fica na porta de bares à espera de clientes e usa a voz para convencê-los a abrir os bolsos.

"Foi muito difícil chegar até aqui, mas estou muito feliz. É a realização de um sonho. Só de estar perto, de participar da festa é sensacional. Eu queria muito ver o David Luiz".

Mas nem sempre foi assim. Nesse tempo de peregrinação muita coisa aconteceu. Toninho se sente vítima de preconceito por ser nordestino e ambulante. Certa vez, oferecia seus provolones na calçada na porta de um bar em Macaé e foi escurraçado pelo dono do bar. "Sai daqui, sai daqui. Se não sair, meto um tiro na sua cara". Achou melhor não arriscar.

Em Porto Seguro, passou por momentos piores. Se hospedou em um hotel simples com uma diária de R$ 35 reais. Mas o barato saiu caro. Segundo ele, recusou um programa oferecio por uma prostituta e acabou se dando mal. A moça planejou um golpe com o dono do hotel. Pegou a chave reserva, entrou no quarto e roubou todo o dinheiro que ele tinha.

Até a ex-esposa lhe causou problema e ele teve que percorrer 200 km até Barra de São Francisco para resolver. "Fui sacar um dinheiro e não consegui. Quando fui ver a Justiça tinha bloqueado a minha conta porque atrasei em seis meses a pensão dos meus filhos. Eles queriam me prender, mas não me acharam porque fiquei viajando. Tive que conversar com a minha ex-mulher e pagar metade da dívida para ela retirar o processo", conta ele.

Aos 40 anos, é pai de quatro filhos em quatro casamentos diferentes. Amanda (19 anos), Anderson (12 anos), Daniele ( 11 anos), e Henrique ( quatro anos). Agora, ele já cogita arrumar uma namorada do Rio de Janeiro.

"Não é todo mundo que aguenta a minha rotina. Tem que gostar de viajar igual a mim. Mas quem sabe eu arrumo uma fluminense".

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