Movimento antivacinação aumenta risco de surto de sarampo durante a Copa

Verônica Mambrini

Do UOL, em São Paulo

  • Khalid Mohammed/ AP

    Crianças a partir de seis meses podem ser vacinadas contra o sarampo

    Crianças a partir de seis meses podem ser vacinadas contra o sarampo

O Brasil corre risco de ter um surto de sarampo durante a Copa do Mundo. Isso porque, apesar da doença já ter sido controlada, o país vai receber muitos torcedores vindos de locais onde cresce o número de adeptos da não-vacinação.

De acordo com o Ministério da Saúde, desde 2000 não existe circulação endêmica do sarampo no Brasil (transmissão originária no próprio país). Mas como o sarampo ainda não foi eliminado na Europa, Ásia e África, o país ainda detecta casos de viajantes que contraíram a doença nestes continentes e podem transmitir a outras pessoas – são os chamados casos importados, que podem aumentar durante a Copa. 

Foi o que ocorreu no Ceará. Em 2014, foram identificados 124 casos no estado. "Os casos iniciais começam a trazer casos secundários. Tem a ver com o fato de ser um destino turístico importante na Europa. Grande parte desses casos ocorrem com crianças com menos de 1 ano de vida, que ainda não foram vacinadas", explica o infectologista Jessé Reis Alves, coordenador do serviço de vacinação do Fleury Medicina e Saúde e coordenador do programa Check UP do Viajante.

Como o contágio é facilitado por conglomerações humanas, a Copa facilita a propagação do vírus. "Durante a Copa de 2006, na Alemanha, teve um surto de sarampo. E na de 2010, na África do Sul, teve também surtos, com milhares de casos. As pessoas viajam, vão para locais em que há um certo confinamento. Se existe um grupo de vulneráveis, a gente pode ter de novo o surgimento do sarampo", explica Jessé.

Em países como Japão e Alemanha, não há cobertura vacinal muito ampla contra o vírus. Para piorar, na Europa existe uma grande desconfiança na hora da vacinação por causa de um estudo dos anos 90 que associava a tríplice viral (vacina que protege contra sarampo, rubéola e caxumba) com o surgimento do autismo. 

"A pesquisa que associava a vacina a autismo gerou um impacto muito negativo, na Europa muita gente deixou de vacinar seus filhos. Na verdade, o que existe é uma coincidência da época de vacinação com o surgimento dos sintomas do autismo. Agora, anos depois, essa associação está mais do que descartada", conta Jessé. "Quase todos os países europeus tiveram problemas por conta da recusa em vacinar."

"Obviamente a falsa ideia de que não vacinar é bom para as crianças é perigosa. Abre a possibilidade de que uma porcentagem da população fique suscetível a doenças", diz Leonardo Menezes, pediatra e especialista em doenças infecciosas pediátricas do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). "A situação pode ficar fora de conmtrole, por conta de uma informação totalmente equivocada. Por conta de viagens de locais para fora e visitantes estrangeiros, a doença controlada volta para dentro do país e pode desencadear uma epidemia", diz o pedriatra. 

Com a ocorrência do surto no Nordeste, o Ministério da Saúde está realizando a vacinação de crianças com idade entre seis meses e 5 anos, mulheres até 49 anos e homens até 39 anos na rede pública. O infectologista do Fleury recomenda que, quem não lembrar se tomou a vacina ou não tiver registros de vacinação anterior, reforce a dose. "Especialmente quem vai trabalhar diretamente com atendimento ao turista. Pessoas que trabalham nos hotéis e taxistas, por exemplo. Com os adultos imunizados, é difícil a criança estar exposta ao sarampo por causa da Copa."

O risco de surto aumenta também porque a tendência de não vacinar crianças chegou ao Brasil. Uma pesquisa do Ministério da Saúde detectou que a média da vacinação no país era de 81,4%, enquanto que na classe A era de 76,3%. A discussão sobre não vacinar se dá principalmente em fóruns e grupos de discussão na internet. Em São Paulo, houve surtos na região da Vila Madalena, em 2011, que levaram a prefeitura a realizar campanhas pontuais no bairro estimulando a vacinação.

"Quem vacina protege não só o filho, mas também as outras crianças. Um grupo bem vacinado aumenta a proteção individual. Mesmo que alguém não possa receber vacina, essa pessoa fica protegida por tabela. É ato de saúde pública", diz Jessé. 

Embora o risco de surto não esteja descartado, não há motivos para alarmismo, já que a cobertura da vacina contra sarampo é de mais de 90% da população. O Ministério da Saúde está fazendo ações de prevenção de doenças transmissíveis em todas as 12 sedes da Copa do Mundo desde 2011 e, mais recentemente, nas cidades que serão centros de treinamento das seleções.

A imunização leva cerca de 15 dias a partir da vacina. Entre as medidas preventivas, o Ministério da Saúde afirma ter reforçado a cobertura da vacina com os profissionais que atuam no contato direto com os torcedores e turistas e, durante a Copa, promete monitorar possíveis surtos nas cidades-sedes. "Quem tem filho com menos de 6 meses deve evitar aglomeração e viagens. Aos 6 meses, a vacina pode ser dada, e mas o calendário tem que ser seguido normalmente depois, aos 12 meses", recomenda Leonardo. 

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