Rede Aljazeera acalma os gringos: "o Brasil atrasa, mas no final dá certo"

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

  • Reuters

    Em 2007, a festa do anúncio do Rio como sede dos Jogos de 2016 só ficou pronta no final, lembra jornalista

    Em 2007, a festa do anúncio do Rio como sede dos Jogos de 2016 só ficou pronta no final, lembra jornalista

O jornalista norte-americano Gabriel Elizondo, correspondente baseado em São Paulo da TV Aljazeera, do Catar, conhece o Brasil de outros carnavais. Ele já estava trabalhando no país quando o Rio de Janeiro foi escolhido, em 2009, a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Também acompanhou de perto, em 2007, os Jogos Pan-Americanos, realizados na capital fluminense. 

É de posse desse conhecimento e de suas experiências no país do futebol que Elizondo avisa a todos os estrangeiros que estão preocupados com a organização da Copa do Mundo no Brasil, que começa no próximo dia 12 de junho: "O país-sede da Copa estará pronto no final".

Este é o título de sua reportagem publicada no site da emissora árabe no dia 1º de maio. Ele explica com exemplos recentes o que o faz estar tranquilo quanto à organização da Copa. No dia 2 de outubro de 2009, conta o jornalista, ele estava descansando em seu quarto de hotel em Copacabana quando foi chamado às pressas ao saguão do hotel pelo seu colega produtor da TV Aljazeera. Havia um problema acontecendo, e precisavam que ele fosse checar.

"O problema? Faltavam poucas horas para o COI (Comitê Olímpico Internacional) anunciar qual seria a cidade a sediar os Jogos de 2016. Mas, na praia de Copacabana, onde a prefeitura planejava realizar uma grande festa para os cariocas acompanharem o anúncio do COI, estava uma bagunça".

 O jornalista segue contando que, pouco tempo antes do anúncio, os telões gigantes que transmitiriam o anúncio ainda estavam sendo montados na praia, a área que seria reservada para a imprensa não estava pronta e "a organização visível era absolutamente zero".

"Mas, adivinhe? Na hora que em que o Rio de Janeiro foi anunciado como sede dos Jogos de 2016, estava tudo no lugar (embora no último minuto). Não foi bonito, mas funcionou. E a única imagem que realmente importava era a de milhares de pessoas gritando, comemorando e tremulando bandeiras brasileiras na praia de Copacabana".

Em seguida, Gabriel Elizondo fala sobre os Jogos Pan-Americanos de 2007, quando atletas de 42 países foram ao Rio de Janeiro. "A poucos dias do início dos Jogos, as pessoas diziam que estádios e ginásios não ficariam prontos, que as quadrilhas do tráfico de drogas seriam uma ameaça para atletas e turistas e que a água na Baía de Guanabara estava poluída demais para receber competições esportivas", recorda o correspondente internacional.

"Eu estive no Rio durante todo o Pan de 2007. Você sabe quantos incidentes graves por quaisquer dos assuntos acima citados aconteceram? Zero. E a situação da segurança no Rio estava muito mais precária em 2007 do que está agora."

Após este apanhando histórico, o correspondente internacional foca sua matéria no momento atual do Brasil: "E aqui estamos nós agora: a menos de 50 dias da Copa do Mundo, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirma que algumas preparações do Brasil para a Copa - nomeadamente o estádio em São Paulo (Itaquerão) - não estarão prontos até 'o último minuto'. Ele está certo".

Para o jornalista da Aljazeera, porém, isso não é motivo para preocupações. "Quando eu ouço isso (a fala de Valcke), eu não posso evitar de me lembrar daquele momento na praia de Copacabana, às vésperas do anúncio do COI. Montar telões em uma praia é diferente de organizar uma Copa do Mundo, o Pan não é uma Olimpíada, mas existem algumas lições aí", argumenta Elizondo.

"Basicamente, o Brasil tem um jeito estranho de fazer grandes eventos funcionarem... só no final. A pergunta que venho frequentemente fazendo a mim mesmo nos últimos anos é, "o Brasil estará pronto para a Copa?' Chego á conclusão de que depende do que você chamar de 'pronto'. Mas nós estamos onde estamos neste momento. E eu suspeito que, se a história é um indicativo, o Brasil estará 'pronto' para sediar o Mundial de futebol", escreve o jornalista, cautelosamente grifando entre aspas a palavra "pronto". 

"Se não ocorrerem mais acidentes inesperados, os estádios estarão prontos, eu aposto. Os aeroportos não serão como os melhores do mundo, mas serão capazes de transportar as pessoas do ponto A para o ponto B. E muitos deles, embora não todos, estarão melhores do que estavam em 2007."

O corresponde conclui sua reportagem dizendo acreditar que não haverá, tampouco, problemas mais sérios relacionados à segurança. "Provavelmente haverá furtos de turistas e jornalistas estrangeiros, e isso irá parar nos noticiários. Mas a minha aposta é de que a chance de haver grandes problemas de segurança durante a Copa é muito pequena. Até porque traficantes de drogas como os do Rio são 'homens de negócios' (businessmen), não terroristas. Eles farão o que for bom para os negócios".

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