Trânsito pesado e desorganização irritam torcedores na Arena da Amazônia
Do UOL, em Manaus
A desorganização na Arena da Amazônia e o trânsito, que pegou muitos torcedores de surpresa, foram os maiores entraves para quem foi ao estádio assistir ao jogo entre Nacional (AM) e Corinthians, nesta quarta-feira, pela segunda fase da Copa do Brasil. Com o placar de 3 a 0, a equipe paulista venceu a anfitriã e só não aumentou o número de gols porque contou com um segundo adversário em campo: o calor.
Foram 35.773 pagantes para o jogo, cujo primeiro destaque foram os jogadores do Corinthians entrando em campo de capacetes. A homenagem era para Ayrton Senna, cuja morte completa 20 anos neste dia 1° de maio.
Apesar do jogo estar marcado para as 22h (horário de Brasília), cinco horas antes o trânsito no entorno da Arena da Amazônia recebeu barreiras do Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito (Manaustrans), horário que algumas linhas de ônibus também começaram a ter seu itinerários adaptados. Com as mudanças, o trânsito, que no dia a dia já é pesado no fim de tarde, começou a ficar ainda mais complicado a partir das 19h, com congestionamento de veículos na área denominada de "Quadrilátero da Copa".
Outro agravante no trânsito do entorno do estádio é que ao mesmo tempo que o público começava a chegar para o jogo, outras pessoas também chegavam para a Festa do Trabalhador, realizada ao lado da Arena da Amazônia, no sambódromo, e para a qual esperava-se um público de dez mil pessoas.
Uma hora antes de o jogo começar, torcedores aglomeravam-se em uma longa fila de mais de um quilômetro, pelo lado da avenida Constantino Nery. Paciente, o empresário Mauro Aguiar, 32, passou mais de uma hora para conseguir entrar no estádio. Quando conseguiu, o placar já estava em 1 a 0 para o Corinthians. Diferente de Mauro, torcedores mais exaltados tentaram, e conseguiram depois de insistir, entrar por um portão menor da Arena, que acabou sendo liberado pela segurança do evento.
"O tumulto inicial era porque havia um fluxo de pessoas que chegou em cima da hora, mas nós, de imediato, liberamos duas catracas que estavam ociosas para poder dar vazão a este público", disse o secretário de Segurança Pública do Amazonas, coronel Paulo Roberto Vital, acrescentando ainda que não esperava-se a realização da Festa do Trabalhador para o mesmo dia do jogo. "Você não tem como separar o público que vem para o jogo do que vai para a festa. Quando nos informaram da festa, tivemos que buscar outra estratégia".
Ainda fora do estádio, quem corria para entrar, mostrava a insatisfação com a organização, gritando, entre as palavras de ordem: "Copa desorganizada". Em contrapartida, quem entrou no estádio com antecedência experimentou circular livremente por zonas que deveriam estar proibidas para o torcedor comum.
Foi o caso do paulista Rafael Rocha, 34. Palmeirense e com o intuito de 'secar' o Corinthians, ele arranjou sem grandes problemas uma credencial de imprensa e obteve o acesso a áreas as quais não deveria ter. Situação parecida teve o autônomo Leonardo da Costa, 41, que, mesmo sem a credencial de jornalista e o ingresso adequado, circulou livremente pelos camarotes.
Se para muitos o ingresso para a arquibancada, no valor de R$ 60, estava caro, para a comerciante Emanuela Lima, 31, ele custou apenas R$ 15 – valor que ela pagou a uma das pessoas que fazia a segurança em uma das entradas da Arena.
Durante a partida, muitos dos torcedores reclamaram da falta de respeito aos assentos marcados. Parte destes assentos, segundo torcedores locais do Corinthians, foi ocupado irregularmente por torcedores da Gaviões da Fiel, o que acabou levando as pessoas que ocupariam cadeiras da área na qual estava a torcida a sentarem em outros lugares.
Vindos de Macapá (AP) especialmente para assistir o jogo, Hudson Ramos, 20, Charles Rosário, 40, e Dalva Brasão, 40, afirmaram ter se deparado com três problemas no estádio: a falta de espaço entre as fileiras de cadeiras, a falta de lixeiras e a dificuldade de conexão de internet. "Se uma pessoa quer passar para sentar lá na frente, todo mundo precisa se levantar para a pessoa transitar. É chato isso", disse Charles.
Imprensa também reclamou
Entre os jornalistas que cobriram a partida, alguns problemas relacionados aos jogos anteriores ainda atrapalharam a cobertura desta quarta-feira. O jornalista Anderson Silva disse que a internet wi-fi da Arena só funcionou a partir do final do primeiro tempo. "Além disso, na coletiva que tivemos após o último jogo – entre Vasco e Resende, no dia 3 de abril – eu já havia reclamado para o Miguel Capobiango (coordenador da Unidade Gestora da Copa no Amazonas – UGP Copa) sobre a falta de tomadas na Tribuna da Imprensa, mas este problema ainda não foi resolvido", disse.
Além de Anderson, outros profissionais da imprensa não contaram desta vez com o transporte por ônibus para fazer a transferência das dependências da Arena para fora do perímetro de bloqueio do estádio.
Assentos e acesso
O motorista Adalberto da Silva, 45, não sentiu dificuldades para acessar o estádio, mas passou os 90 minutos do jogo procurando conforto na cadeira na qual estava. Alto e acima do peso, ele disse que este foi o único ponto chato da partida. "A cadeira é pequena e acho que deveriam ter alguns assentos especiais".
O cadeirante Fabio Duarte, 50, é morador do Rio Preto da Eva, município a 80 quilômetros de Manaus, e ressaltou que a desorganização para chegar ao lugar onde assistiu ao jogo dentro da Arena foi seu único obstáculo. "Pegamos um ônibus na Vila Olímpica, que estava fazendo também o transporte dos cadeirantes, mas chegando na entrada do estádio, tivemos que subir de rampa no tumulto, com várias pessoas", disse.
Calor diminuiu o ritmo
Se para os torcedores havia adversidades, para a equipe corintiana também. Em coletiva após a partida, o técnico da equipe paulista, Mano Menezes, ressaltou que o ritmo de jogo de seu time diminuiu em virtude do calor. "Isso é um problema que quem vem de fora vai sofrer. Tanto que no segundo tempo fizemos passes mais curtos, com mais toque de bola".
Para o governador do Amazonas, José Melo, de todos os cinco testes já realizados na Arena, o desta quarta-feira foi o mais importante. "Tivemos a oportunidade de testar tudo", disse, acrescentando que hoje acredita na mudança de opinião de muitas pessoas que condenaram a realização da Copa na capital amazonense no passado. "Eu acho que na medida que outros países começam a conhecer Manaus, tudo vai se dissipando. Tudo aconteceu por conta da falta de conhecimento de pessoas que ainda pensavam que Manaus era uma grande selva".
A próxima disputa de grande público a ser realizada em Manaus será entre Princesa do Solimões e Santos (SP), pela Copa do Brasil, no próximo dia 8.