Professores da USP querem levar a Parada Gay para festas da Copa
Felipe Pereira
Do UOL, em São Paulo
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Reprodução
Cartaz convocando torcedores a usarem as camisas dos seus clubes na Parada Gay
Uma campanha que pretende invadir a Copa do Mundo pede que homossexuais compareçam com a camisa de seus times na Parada Gay de São Paulo, que será realizada no próximo domingo. A iniciativa de professores da USP (Universidade de São Paulo) em conjunto com a organização do evento e a Prefeitura é o primeiro passo de uma campanha para enfrentar o preconceito contra homossexuais nos estádios, que de tão presente resultou em ameaças de morte a presidentes de torcidas organizadas gays.
A primeira etapa ocorre na próxima quinta-feira, na Praça da República, onde serão feitas imagens de voluntários com as camisas de seus times a partir das 9h. No dia da Parada, oito fotógrafos vão circular entre a multidão fazendo novas fotos, explica o professor Flavio de Campos, que está à frente do projeto e que coordena na USP um Núcleo de Pesquisa sobre Futebol e Modalidades lúdicas (Ludens).
Ele compara o preconceito existente no futebol ao que ocorre nas Forças Armadas. Para reverter a situação, ele fechou apoio com a Prefeitura de São Paulo para a iniciativa e negocia a exposição das melhores fotos na Fan Fest da cidade, as festas oficiais da Fifa (Federação Internacional de Futebol) que ocorrem durante a Copa do Mundo.
O coordenador do Ludens diz que o futebol se tornou um elemento de construção de uma masculinidade e virilidade que virou recorrente não aceitar qualquer manifestação ou pessoa fora da heteronormatividade. "Isso se aplica até mesmo para atletas que são perseguidos por suposta orientação sexual", afirmou.
Campos lembra do repúdio que atos racistas no país e no exterior geraram na sociedade brasileira, mas ressalta que atitudes homofóbicas são toleradas. Cita o caso do goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, chamado de "bicha" pela torcida do Corinthians. O professor diz que a coordenação de políticas LGBT da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania entrou com uma ação na Justiça que não surtiu resultado porque o juiz classificou o episódio como "coisas do jogo".
Com até o Estado chancelando o preconceito, os homossexuais não são aceitos nas arquibancadas dos estádios. "O torcedor ainda não pode, mas friso este 'ainda' porque a construção de uma sociedade democrática passa pelo respeito a diversidade sexual".
Depois da iniciativa deste domingo, onde é esperada a adesão de milhares de pessoas e pretende ser bem humorada e pacífica, Campos espera que a campanha se amplie. No médio prazo, espera que paradas gays de cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre repitam a iniciativa. Também quer aumentar o número de participantes e estender o debate até 2016 incluindo outros esportes e recebendo apoio de cartunistas, chargistas, músicos, cineastas e artistas plásticos. Editar livros para manter o tema em discussão e aos poucos vencer o preconceito.
Campos acredita que quando houver um estágio mais avançado de tolerância será possível ver jogadores assumindo a homossexualidade. O professor não considera atletas não se assumirem gays uma sinônimo de covardia, mas consequência do ambiente hostil em que vivem.
"Não dá para exigir que os atletas coloquem em risco suas integridades físicas e sofram danos em suas carreiras. Não cabe a nós imputar responsabilidades aos jogadores. Cabe aos movimentos democráticos da sociedade civil, às autoridades e a todos os cidadãos combater e criminalizar a homofobia e criar espaço para atrair atletas profissionais para essa campanha", afirmou.