De olho no cofre

Veja sete argumentos econômicos para defender a Copa do Mundo no Brasil

Tiago Dantas

Do UOL, em São Paulo

Os gastos públicos com a organização da Copa do Mundo têm sido alvo de protestos em todo o País, o apoio popular ao evento tem diminuído, segundo as últimas pesquisas, e os atrasos nas obras prometidas para o Mundial geraram críticas da imprensa internacional e da própria Fifa. Mas há dados oficiais e estudos de consultorias independentes que provam que organizar a Copa traz benefícios ao país.

"Por um lado, o Mundial gerará reflexos e benefícios em diversos setores da economia e da sociedade, sejam temporários ou duradouros, diretos ou indiretos. Por outro, também apresenta vários riscos, necessitando de processos de gestão eficientes no setor público e privado", diz o estudo Brasil Sustentável: Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014, feito em parceria pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a consultoria internacional Ernst&Young.

O UOL Esporte pesquisou outros estudos, levantou informações públicas do governo federal e ouviu a opinião de economistas e especialistas em planejamento urbano para montar uma lista com sete tópicos que mostram o que o Brasil tem a ganhar com a organização do evento neste ano.

1 – Turistas estrangeiros devem gastar 42% mais

O turismo é um dos setores da economia que mais pode se beneficiar da realização da Copa no Brasil. Entre junho e julho, são esperados 600 mil turistas estrangeiros, segundo o Ministério do Turismo – cerca de 10% do total de visitantes de outros países que o Brasil recebeu em 2013, ano com o maior número de chegada de estrangeiros na história.

O Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) estima que o gasto médio desses turistas será até 42% maior que o normal. Os estrangeiros devem deixar R$ 6,85 bilhões no País nos 30 dias do Mundial, contra R$ 11,8 bilhões gastos pelos turistas de outros países que vieram ao Brasil no ano passado.

Os economistas do Embratur estimam, ainda, que os três milhões de turistas brasileiros que vão circular pelo País por causa do Mundial devem injetar R$ 18,35 bilhões na economia. O turismo pode se beneficiar, ainda, da exposição do Brasil na imprensa internacional e da divulgação de destinos que ficam fora da rota das 12 cidades-sede, segundo especialistas.

2 – Economia pode ganhar até R$ 142 bilhões

Os setores de turismo e serviços devem colocar em movimento cerca de R$ 142 bilhões na economia brasileira entre 2010 e 2014, segundo estudo da Ernst&Young. Comparado com o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do último ano, a riqueza gerada pela Copa equivaleria a 2,9% do PIB de 2013.

No último ano, a soma das riquezas produzidas no País atingiu R$ 4,84 trilhões, segundo o Ministério da Fazenda. Estudos internacionais, porém, mostram que o impacto do evento na economia costuma ser pequeno: o PIB dos EUA aumentou 1,4% em 1994, o da França cresceu 1,3% em 1998; o da Coréia, 3,1%, e o do Japão, 0,3%, em 2002. A Alemanha teve acréscimo de 1,7% em 2006.

O governo federal pretende divulgar um balanço do setor ao fim do ano, quando será possível medir o real impacto da Copa na economia. A título de comparação, a Copa das Confederações rendeu R$ 740 milhões, segundo o Embratur, e atraiu cerca de 250 mil turistas entre 15 e 30 de junho nas seis cidades-sede do torneio. A JMJ (Jornada Mundial da Juventude), realizada entre 23 e 28 de julho, levou 3,5 milhões de pessoas ao Rio e movimentou R$ 1,2 bilhão, segundo o governo.

3 – Capacidade dos aeroportos deve dobrar

  • Divulgação/Ministério do Esporte

O governo federal costuma dizer que alguns investimentos em infraestrutura nas cidades sedes foram antecipados ou priorizados por causa da Copa do Mundo. Ainda que as obras não fiquem prontas a tempo do Mundial, devem melhorar a qualidade de alguns serviços prestados.

A capacidade dos aeroportos nas 12 cidades-sede, por exemplo, deve dobrar, segundo dados oficiais, passando de 81,7 milhões de passageiros, em 2011, para 167,4 milhões de passageiros nas 12 sedes, de acordo com dados da Infraero e das concessionárias privadas que administram os aeroportos.

A demanda de passageiros deve crescer num ritmo menor, de 36,2%, levando-se em conta apenas os dados dos aeroportos administrados pela Infraero (o que exclui Cumbica, por exemplo).

4 – Microempresas movimentaram R$ 280 milhões

A Copa do Mundo rendeu cerca de R$ 280 milhões em negócios para micro e pequenas empresas. Até o final do evento a expectativa é que o faturamento chegue a R$ 500 milhões, segundo levantamento realizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O aumento no faturamento equivale a 0,07% do que o setor movimenta ao ano: R$ 700 bilhões, de acordo com o IBGE. As microempresas são estratégicas para a economia do País, uma vez que são responsáveis por 20% do PIB e cerca de 60% dos empregos, segundo o Sebrae.

5 – Obras geram mais empregos

  • AP Photo/Denis Ferreira Netto

A construção dos seis estádios da Copa das Confederações foi responsável pela geração de 24,5 mil empregos, de acordo com balanço do governo federal. O programa de alimentos e bebidas da Copa do Mundo criará 12 mil empregos temporários em bares e lanchonetes. Além disso, a União pretende capacitar 90 mil pessoas por meio de cursos técnicos relacionados a serviços e turismo.

Mesmo assim, não há consenso sobre quantos empregos diretos devem ser creditados ao Mundial. Em 2010, um estudo da FGV previa que a Copa pudesse gerar 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos ao ano (num total de 14 milhões até 2014). O número, porém, é mais alto do que os últimos resultados obtidos pelo País. Em 2013, o Brasil gerou 1,1 milhão de postos de trabalho com carteira assinada, segundo o Ministério do Trabalho.

A previsão do governo federal em 2010 era mais modesta: 332 mil empregos permanentes e 381 mil temporários entre 2010 e 2014.

6 – Arrecadação de tributos pode crescer R$ 18,1 bilhões

A despeito da isenção fiscal para a Fifa e seus vários parceiros, os governos podem aumentar sua arrecadação de tributos por causa da Copa do Mundo. A pesquisa da FGV e da Ernst&Young aponta que o incremento do turismo, a geração de empregos e o consequente aumento do consumo no período do Mundial devem mexer com toda a economia.

Como reflexo disso, a arrecadação de tributos para União, Estados e municípios pode crescer R$ 18,1 bilhões. A previsão do governo federal é um pouco menos otimista: R$ 16,1 bilhões, segundo documento preparado pelo Ministério do Esporte em 2010.

7 – Imagem internacional e autoestima

Estudos internacionais sugerem que há ganhos não mensuráveis relacionado a grandes eventos como a Copa do Mundo, como a melhoria da autoestima da população e da imagem do país no exterior, o que, indiretamente, pode influenciar em ganhos em turismo nos anos seguintes.

"Dependendo do sucesso dos jogos e de como conseguir capitalizar essa imagem positiva, o País terá benefícios por muitos anos. A boa imagem lhe renderá, por exemplo, um incremento na atividade turística, a atração de investimentos estrangeiros, mais visibilidade e credibilidade", diz o estudo Brasil Sustentável.

A queda na popularidade da Copa dentro do Brasil, porém, pode afetar os resultados. A última pesquisa do Datafolha mostrou que 52% da população é a favor da Copa. Em junho de 2013, o índice estava em 65%. Em 2008, 79%. O número de brasileiros contra o Mundial saltou de 10% para 38% no mesmo período.

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