Aumento de preço de obra da Copa supera até bolha imobiliária de SP
Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo*
Obras de infraestrutura planejadas para a Copa do Mundo de 2014 registraram aumentos de até 478% nos últimos quatro anos. A variação de preço é tão grande que supera até a valorização dos imóveis em São Paulo – que não é nada pequena.
A título de comparação, o metro quadrado na capital paulista subiu 200% em uma década, segundo pesquisa do Secovi (Sindicato da Habitação). Recentemente, estudo de bancos centrais de 54 países decretou que o Brasil teve o maior aumento médio no preço de imóveis nos últimos anos.
A obra da Copa que teve a maior variação de preço foi o Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. A reforma do terminal de passageiros vai sair quase seis vezes mais cara do que o previsto, passando de R$ 41,3 milhões para R$ 239,1 milhões, segundo dados oficiais.
O poder público tem suas justificativas para o aumento dos preços: problemas com desapropriações, mudanças no projeto, adaptação de demanda. O UOL Esporte lista abaixo as sete obras de infraestrutura que tiveram as maiores variações de preços com base em dados do Portal da Transparência.
1. Aeroporto Afonso Pena (Curitiba) – 478% mais caro
A reforma do terminal de passageiros do Aeroporto de Curitiba estava orçada em R$ 41,3 milhões em 2010, de acordo com a primeira versão da Matriz de Responsabilidades, documento assinado por prefeituras, governos estaduais e União com compromissos para a Copa.
A obra deve custar, agora, R$ 239,1 milhões e está prevista para ser inaugurada em maio. "A Matriz de 2010 foi elaborada num ambiente de determinado crescimento de demanda, sendo que as revisões posteriores – e 2012 e 2013 – foram adequadas à nova realidade de crescimento daquele período", informou a Infraero.
De acordo com a estatal, o transporte aéreo no Brasil está se popularizando, e a malha aérea deve estar adaptada a isso – e não só para atender aos torcedores da Copa do Mundo. "É importante esclarecer que o objetivo da empresa transcende esse marco, tendo como meta a adequação dos terminais não apenas para atender a demanda prevista para os jogos, mas aquela projetada para o setor aéreo brasileiro."
2. Aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães (Salvador) – 211% mais caro
A reforma do terminal de passageiros do aeroporto de Salvador iria custar R$ 30 milhões, segundo previsão de 2010. O preço da intervenção aumentou para R$ 93,53, segundo a última atualização, para atender a uma demanda maior de passageiros. A entrega das obras está prevista para abril de 2014.
Em continuação à nota enviada por email, a Infraero informou que "estão em andamento, atualmente, 49 intervenções em 21 terminais (sendo 12 aeroportos Copa). Como estatal, a Infraero precisa passar por uma série de etapas para executar esses empreendimentos – planejamento, licitação de projetos, licenças ambientais, licitação de obras, avaliação por parte dos órgãos de controle etc."
Segundo a estatal, em algumas dessas etapas, ocorreram percalços que atrasaram a realização dos projetos. "Cabe à Infraero revisar continuamente o planejamento, procurando soluções para atingir as metas. E isso reflete na Matriz."
3. Porto de Mucuripe (Fortaleza) – 95% mais caro
Em 2010, o governo federal planejou gastar R$ 106 milhões com a reforma do terminal marítimo de Mucuripe, em Fortaleza. Passados quatro anos, o custo subiu para R$ 205 milhões – incluindo no montante a compra de equipamentos, rede de energia e combate a incêndio.
De acordo com a Secretaria de Portos da Presidência da República, a obra atingiu 85% de execução e está dentro do que foi assinado com o PAC-Copa 2014 (Programa de Aceleração do Crescimento). A inauguração é prevista para maio de 2014.
4. Aeroporto Viracopos (Campinas) – 69% mais caro
A construção do MOP (Módulo Operacional Provisório) do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, passou de R$ 2,9 milhões para R$ 4,9 milhões. A implementação do terminal foi concluída em agosto de 2011, segundo a Infraero. O aumento no valor também está relacionada à readequação das demandas.
5. Corredor Mário Andreazza (Cuiabá) – 49% mais caro
O custo das desapropriações fizeram a obra do corredor rodoviário Mário Andreazza subir de R$ 31,3 milhões para R$ 46 milhões, segundo o governo do estado do Mato Grosso. "A obra da ponte custa R$ 12,6 milhões e da rodovia é de cerca de R$ 22,1 milhões. A diferença para chegar ao montante de R$ 46 milhões se deu em razão das desapropriações", informou a Secretaria Extraordinária da Copa.
6. Requalificação da Rodoferroviária (Curitiba) – 35% mais caro
A obra de requalificação da Rodoferroviária, em Curitiba, tinha previsão inicial de gasto de R$ 36,2 milhões, segundo a Matriz de Responsabilidades da Copa, de 2010. O último relatório da CGU (Controladoria-Geral da União) mostra um gasto de R$ 48,9 milhões.
Estão previstas a reforma do prédio da rodoferroviária e dos acessos ao local. Os serviços foram divididos em dois lotes. A previsão é que tudo fique pronto até maio. Atualmente, 60% da obra foi executada.
Segundo a Prefeitura de Curitiba, "todas as obras sofrem reajuste a partir de um ano de execução, previsto em lei. Além disso, ocorreram pequenas modificações no projeto original e gastos com deslocamento de pessoas e material (entre os dois blocos do terminal) para que a rodoviária continuasse operando mesmo com obras, sem prejuízo ao usuário".
7. Porto de Natal (Natal) – 35% mais caro
O terminal marítimo de Natal está passando por uma reforma estimada em R$ 72,5 milhões. Em 2010, porém, a previsão de gasto era de R$ 53,7 milhões. A intervenção deve terminar em maio.
Segundo a Secretaria de Portos, os trabalhos incluem uma série de ações, como a adaptação do antigo armazém frigorífico, a construção de terminal de passageiros, a ampliação de cais do berço 1 de 209 metros para 236 metros, a recuperação do cais e do dolfim de amarração.
* Atualizado às 17h57