Copa recebe país mais violento do mundo e craque marcado por tragédia

Giselle Hirata

Do UOL, em São Paulo

Azarão no grupo que tem a França na Copa, Honduras vem ao Brasil para tentar melhorar a imagem internacional recente, que aponta o pequeno país da América Central como um dos mais violentos do planeta, talvez até em primeiro lugar deste ranking. No entanto, mais do que índices alarmantes, a nação banhada pelo Caribe sofre com uma realidade social que não isenta ninguém, nem o craque da seleção nacional.  

De acordo com os dados divulgados pela UNODC (Escritório para assuntos de Drogas e Crimes da ONU), Honduras figura na primeira colocação do ranking dos países mais violentos, em 120º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), seguido de El Salvador (107º no IDH), Costa do Marfim (168º no IDH), Venezuela (71º no IDH) e Belize (96º no IDH). O Brasil é o 18º colocado.

Apesar de defender a seleção hondurenha e ajudar o país a se classificar para o Mundial no Brasil, o jogador Wilson Palacios tem motivos de sobra para ter traumas quando volta à sua nação de origem. Em outubro de 2007, o meia teve a sua casa, em La Ceiba, invadida por uma gangue armada, que acabou levando seu irmão mais novo, Edwin, sequestrado.

O incidente aconteceu logo depois Wilson se mudar para a Inglaterra para jogar pelo Birmigham City. Na época, os criminosos pediram um resgate de mais de US$ 200 mil. A família chegou a pagar o valor e, mesmo assim, o garoto (na época com 16 anos) não foi libertado.

A família Palacios viveu anos de agonia, esperando ter notícias de Edwin. E em maio de 2009, mais de 18 meses depois, a polícia descobriu os restos mortais do menino em uma região montanhosa de Honduras. A localização foi dada por dois membros da gangue que já estavam presos.

"O risco de sequestro é maior se você é conhecido, especialmente se for um jogador de futebol", disse Wilson Palácios ao jornal "The Guardian" após confirmarem que a ossada encontrada pela polícia era realmente de Edwin. "Estou ciente de que minha família deve tomar cuidado com a maneira com que eles vivem suas vidas. Isso é algo que está sempre em minha mente", declarou.

Segundo Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp, este tipo de crime é muito comum em um país onde a pobreza é extrema. "Depois do Haiti, Honduras é o segundo país mais pobre do mundo, além de ser o mais violento. Diante desta situação, muitos recorrem ao sequestro e outros tipos de crimes para conseguir dinheiro. E isso tão gritante que até os que não são ricos, mas possuem algum bem, correm o risco de serem capturados", comenta.

Uma recente pesquisa de uma instituição mexicana, o Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, mostra que Honduras é um dos países mais violentos do mundo. No ranking divulgado neste ano, a cidade hondurenha San Pedro Sula fica em primeiro lugar, com uma taxa de 169 homicídios por cada 100 mil habitantes.

"Honduras é um país com muita corrupção e com um governo frágil. O Estado não consegue ter controle sobre a violência que cresce a cada dia. O número de delinquências supera o contingente de policiais e, por isso, muitos casos ficam em aberto e sem resolução", explica Ayerbe.

O trauma vivido por Palácios não é um caso isolado no país. David Suazo, outra estrela do futebol hondurenho, hoje aposentado, também passou pela mesma experiência. Em 2002, seu irmão, Henry, foi sequestrado e passou duas semanas em cativeiro.

De acordo com Ayerbe, é difícil que a situação em Honduras mude em pouco tempo, uma vez que a política interna teria que ser reformulada. "O Partido Nacional, que é que ganhou nas últimas eleições, prometeu colocar as forças armadas nas ruas. Acredito que é uma medida que já estão tomando, mas leva tempo para organizar um país que vive com medo em meio ao fogo cruzado. É esperar para ver se dará resultado", destaca.

E quando se trata do quesito "sequestro no mundo futebolístico", o Brasil lidera o ranking mundial. Pela notoriedade, o país do futebol acaba expondo jogadores e seus familiares, que se tornam alvo de criminosos. Para citar alguns exemplos: Robinho, Luis Fabiano e Grafite, que tiveram as mães sequestradas entre 2004 e 2005. 

Seleção Hondurenha de Futebol
Seleção Hondurenha de Futebol

Futebol e ameaças

Esse tipo de medo que recai sobre jogadores de futebol vem de longa data. Antes de familiares se tornarem um meio de extorquir dinheiro de boleiros, os próprios jogadores eram alvos, não de sequestradores, mas do tráfico, da instabilidade política em alguns países e de apostadores.

Um caso clássico e famoso é o do zagueiro colombiano Andrés Escobar. Ele despontou nos anos 80, quando o tráfico dominava o país. Naquela época, os grandes cartéis financiavam o futebol nacional e até eram donos de grandes times. O Nacional de Medellin, por exemplo, era propriedade de outro Escobar: Pablo, um dos maiores traficantes de cocaína do mundo. E foi neste time que Andrés se destacou e, já nos anos 90, era a estrela da seleção nacional junto com Rincón, Asprilla, Higuita e Valderrama.

A Colômbia se classificou para a Copa de 1994, nos EUA, após uma goleada sobre a Argentina - 5 a 0, em Buenos Aires. Pelé até chegou a apostar na equipe como uma das favoritas no Mundial. Mas, na partida contra a equipe norte-americana, Escobar cometeu um erro e marcou um gol contra que praticamente eliminou a seleção colombiana da Copa.

De volta à sua terra natal, Andrés foi tratado como o principal culpado pela eliminação da Colômbia do campeonato. E, no dia 2 de julho de 1994, foi assassinado na porta de uma casa noturna em Medellin. Até hoje não se sabe se ele foi alvo de torcedores furiosos ou de apostadores que perderam dinheiro com a derrota.

Além do caso Escobar, outras ameaças violentas marcaram a história das Copas. Na final do Mundial de 1938, a seleção italiana venceu a seleção da Hungria por 4 a 2. Acredita-se que os jogadores receberam telegramas de Mussolini, que fez ameaças de morte em caso de derrota. Na mensagem, algo como: "Vincere o morire!" (Vencer ou morrer!).

Em 2010, o atacante Asamoah Gyan, de Gana, ajudou o país a chegar às quartas de final da Copa na África do Sul. Mas, na partida contra o Uruguai, o jogador perdeu um pênalti que poderia classificar a equipe ganesa para a semifinal. Segundo o jornal "El Pais", Gyan recebeu várias ameaças de morte e teve que pedir proteção à polícia. 

OS JOGOS DE HONDURAS NA COPA DO MUNDO DE 2014


  • 1ª rodada
    Adversário: França
    Data: 15/06
    Local: Porto Alegre


  • 2ª rodada
    Adversário: Equador
    Data: 20/06
    Local: Curitiba


  • 3ª rodada
    Adversário: Suíça
    Data: 25/06
    Local: Manaus

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