Gustavo Franceschini/UOL

Pedro Lima gravava tudo que acontecia no Itaquerão desde que as obras começaram, em 2011. Na primeira semana em que desligou sua câmera, porém, ele perdeu a imagem mais importante de todos esses meses. Em negociação com o servidor que abrigava seu site, o garoto de 17 anos não conseguiu registrar o acidente da última quarta, que matou dois operários na obra do futuro estádio do Corinthians.

"A gente fazia tudo de graça até semana passada, mas o servidor começou a querer cobrar. Como nós já gastamos bastante com conta de luz, porque a câmera fica ligada o dia inteiro, a gente ainda está vendo como vai fazer. E há uma semana ela estava desligada", disse Pedro, que atendeu a reportagem do UOL Esporte e outros dois jornalistas horas depois do acidente.

O projeto de filmar o dia-a-dia e a evolução da obra começou por conta das ligações constantes de parentes e amigos, que pediam informações sobre o andamento das coisas. Pedro mora no bairro de Artur Alvim, a menos de 3 km do estádio corintiano, com vista privilegiada para o local.

Depois de passar os primeiros meses transmitindo as obras com uma câmera improvisada, hoje Pedro conta com uma câmera de R$ 1,6 mil, comprada com a ajuda de amigos e vizinhos. O aparelho é similar àqueles utilizados em portarias de prédios ou estabelecimentos comerciais, e "vigia" o Itaquerão diariamente.

A câmera fica instalada em um mastro na laje do sobrado em que Pedro vive com a família. Vizinhos e trabalhadores da região identificam a casa de longe, e fazem do garoto alguém bastante conhecido no bairro. Nesta quarta, ele novamente ganhou uma atenção especial.

O guindaste gigante que destruiu parte da fachada do prédio leste do Itaquerão desabou por volta das 13h. Pedro e seus pais, no momento, estavam em uma apresentação de dança da irmã do jovem fanático, e só ficaram sabendo do ocorrido momentos depois.

Durante a tarde, a ausência de um vídeo que registrasse o instante exato em que o guindaste se chocou com o estádio fez várias emissoras procurarem Pedro. "Me ligaram da Globo, do SBT, da Bandeirantes. Só que eu não gravei", disse o garoto, sem perder o sorriso tímido em nenhum momento.

Se fosse mais ganancioso, Pedro poderia ter sofrido bastante. As gravações do garoto são reproduzidas em seu site (www.arenatimaoaovivo.com.br), que tem mais de 2 milhões de visitantes apenas na atual versão. Segundo ele, todas as imagens são armazenadas em discos rígidos para que, no futuro, possam ser comercializadas. Com o acontecimento mais marcante do período, porém, as imagens poderiam valer ainda mais. 

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