Emen Benítez, pai do jogador Christian Benítez, deseja assistir ao Mundial no Brasil junto com os netos em memória ao filho. Aos 27 anos, o atacante faleceu no dia 29 de junho, no Qatar, após ser internado com fortes dores abdominais e sofrer uma parada cardiorrespiratória. Chucho Benítez, como era carinhosamente chamado, era titular da seleção equatoriana e ajudou o país a se classificar para a Copa de 2014, com quatro gols marcados em nove partidas que disputou.

"Seria uma honra e eu gostaria muito de ver a Copa do Brasil com meus netos e minha família. Se me convidarem, meu passaporte já está pronto", disse Ermen em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. Christian era casado e tinha dois filhos, os gêmeos Emily e Cristiano. A morte do jogador ocorreu um dia após a sua estreia no time Al Jaish, na vitória por 2 a 0 sobre o Qtar Sports Club. 

Conhecido como "Pantera", Ermen Benítez foi o maior artilheiro da história do Campeonato Equatoriano entre as décadas de 80 e 90. Em 16 anos de carreira, passou por cinco clubes, marcou 191 gols e se tornou um ídolo no país – um exemplo que foi seguido por Christian. "Ele sequer me viu jogar, mas nasceu com sangue futebolístico. Foi um ótimo jogador e se entregava ao que fazia. Estou orgulhoso por tudo o que ele fez", ressaltou.

Durante a entrevista, Benítez também se lembrou da última conversa que teve com Christian. "Antes de viajar para o Qatar, ele me disse: "Pantera, tire o visto!" E por ironia da vida, o visto que me deram foi justamente para ir buscar o corpo do meu filho"

Tocar no assunto é bem difícil para Ermen, que considera o tema muito delicado e doloroso. "Vocês dizem que já passaram quatro meses, mas eu sinto como se tivesse acontecido ontem. A morte de um filho não se esquece do dia para a noite e a ferida segue aberta", desabafou.

Já sobre a seleção equatoriana, o ex-jogador se diz confiante, mesmo sem ter Christian atuando no time nacional. "O Equador tem crescido muito e eu acredito que os garotos vão se entregar por inteiro para chegar o mais longe que puderem. Inclusive, já conseguiram chegar às oitavas uma vez..."

Os equatorianos voltam ao Mundial depois de ficarem de fora do campeonato na África do Sul, em 2010. Em toda a sua história, o país só disputou duas Copas - a de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, e a de 2006, na Alemanha, quando conseguiu chegar às oitavas de final, sendo eliminado pela Inglaterra. 

Ocupando a 22ª posição no ranking de seleções da FIFA (em outubro de 2013), o time do técnico Reinaldo Rueda ficou com a terceira melhor defesa das eliminatórias. A equipe não é uma das favoritas, mas pode dar um bom trabalho aos outros países na primeira fase do torneio.

NOVO COMEÇO

Em outubro deste ano, Ermen inaugurou uma escolinha de futebol. A instituição, que leva o seu nome, já atende 800 crianças nas categorias sub-6, 8, 10, 12 e 14 anos. "Sempre gostei de ensinar o futebol às crianças e, depois que me aposentei, essa tem sido minha paixão", contou.

Segundo Benítez, a ideia inicial partiu do ministro do Esporte, José Francisco Cevallos, que tem um projeto de ampliar a prática esportiva em todo o país. "A única mudança que tivemos foi no nome da escola, que ia se chamar Christian Benítez, em homenagem ao meu filho. Mas, em respeito a sua esposa e aos meus netos, pedi que trocassem para o meu nome"

O ex-jogador diz que a escola mantém vivo o seu amor pelo futebol, embora ele sinta falta do calor de uma partida de verdade. "Quando você pratica esse esporte, ele nunca sai da sua mente, do seu corpo e da sua alma. Sinto saudade do contato com o campo e a rede, mas o sabor e o cheiro perduram quando estou ensinado e tornando o sonho de muitas crianças em realidade", pontuou.