Governo do Rio troca apoio por calote e vê fuga de eventos esportivos
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
Atraso em pagamentos, calote e até quebra de contrato. A vida de quem contava com o apoio do governo do Rio de Janeiro para realizar um evento esportivo no Estado mudou em 2013. Se antes competições e feiras ligadas ao esporte conseguiam ajudas milionárias vindas dos cofres estaduais, hoje não obtêm nem o que já havia sido prometido pelo próprio governo. Isso porque a SEEL (Secretaria Estadual de Esporte e Lazer) cortou drasticamente sua política de atração de campeonatos e convenções esportivas para o Rio. A medida afugentou organizadores e causou até cancelamentos de eventos de renome já marcados para o Estado.
Só neste ano, dois importantes eventos da agenda esportiva foram cancelados após a mudança: primeiro foi a competição de hipismo Athina Onassis Horse Show, considerada a mais importante realizada no Brasil; depois, foi a feira de futebol Soccerex, maior convenção sobre negócios ligados ao esporte mais popular do mundo. Ambos os eventos já haviam sido realizados no Rio anteriormente com a ajuda de recursos públicos. Após a chegada do deputado estadual André Lazaroni (PMDB) ao comando da SEEL, perderam esse apoio e tiraram seu time de campo.
O Athina Onassis Horse Show desistiu do Rio em agosto. Após realizarem quatro edições do evento na capital fluminense, organizadores alegaram atrasos em obras da Hípica de Deodoro e cancelaram o torneio de 2013. Na época, o governo do Rio já havia decidido cortar a ajuda ao evento após o Ministério Público abrir uma ação para contestar os repasses públicos ao torneio. Em 2009, 2010 e 2011 foram cerca de R$ 10 milhões. Em 2012, foram mais R$ 10 milhões em isenções.
Já em novembro, foi a vez da Soccerex cancelar sua edição 2013 reclamando publicamente da falta de compromisso do governo com a convenção. A feira do futebol tinha boa parte de seus custos bancados com recursos públicos. O UOL Esporte apurou que cada edição da Soccerex custava cerca de R$ 30 milhões ao Estado. O valor bancava hospedagem, passagens e toda a estrutura do evento. A SEEL resolveu cortar os repasses. A Soccerex promete processar o Estado por isso.
"Fomos tratados de maneira vergonhosa pelo governo do Rio de Janeiro. É uma quebra de contrato que vamos contestar isso na Justiça, mas o mais triste é a falta de respeito. Fomos avisados por e-mail de que o acordo estava quebrado'', disse o chefe da organização da feira Duncan Revie, ao UOL Esporte, após o cancelamento.
Outro evento que pode processar o Estado do Rio de Janeiro é o Prêmio Laureus. Conhecido como o "Oscar do esporte", o evento homenageia anualmente os esportistas que mais se destacaram no ano anterior. Em 2013, O Laureus ocorreu no Rio pela primeira vez. A organização, contudo, não recebeu o que havia combinado com o governo. Hoje, cobra R$ 11 milhões do Estado, ainda amigavelmente.
A edição de 2014 do Laureus também está marcada para o Rio. Antes de voltar ao Estado, organizadores esperam receber cerca de R$ 23 milhões. O valor deve ser pago até meados do mês que vem. Devido aos atrasos nos pagamentos referentes a 2013, a organização do prêmio já não confirma se ele vai ser mesmo acontecer na capital fluminense. "Divulgaremos os detalhes do Laureus World Sports Awards de 2014 em breve", limitou-se a informar.
Além do Laureus e da Soccerex, outra entidade que não está satisfeita com a mudança de postura da SEEL é a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais). A entidade exibia a marca do governo do Rio em um programa de TV produzido por ela e recebia pagamentos por isso. Os pagamentos, porém, foram interrompidos. A marca do Rio perdeu espaço.
O patrocínio era parte do esforço do governo para trazer as Finais da ATP, torneio que reúne dos melhores do ano, para o Rio. Ainda na gestão de Marcia Lins na SEEL, o governo fez campanha para isso. Ela fracassou, mas havia uma expectativa de que o evento viesse ao Brasil pela primeira vez em 2016. Após a quebra de contrato de patrocínio com a associação, essa possibilidade praticamente acabou.
A SEEL foi procurada pelo UOL Esporte para comentar sua nova postura. Em nota, ela confirmou que não pretende mais investir recursos públicos diretamente em eventos esportivos. Segundo o órgão, todos os eventos podem recorrer à Lei de Incentivo ao Esporte para arrecadarem verbas para sua realização com patrocinadores, que conseguiriam renúncia fiscal. Sobre as acusações de quebra de contrato, a SEEL não se pronunciou.
Leia a nota completa:
O Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer e da Suderj, recomendou aos organizadores desses eventos que utilizassem a captação de recursos através da Lei de Incentivo ao Esporte e à Cultura, que concede isenção de ICMS aos patrocinadores. O objetivo dessa recomendação é justamente para que o Tesouro Estadual não seja fonte direta desses patrocínios.