Seleção fecha ano de reviravolta com Espanha como nova antagonista

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Toronto (Canadá)

A Argentina é a maior rival, a França tem sido a carrasca recente e o Uruguai impôs ao Brasil sua maior derrota em Copas. Para 2014, no entanto, tudo indica que a Espanha, rival constante na atual temporada, seja alçada ao posto de antagonista da seleção comandada por Luiz Felipe Scolari.

"Eu não vou falar sobre a Espanha. A Espanha deixou uma marca bem estranha", disse o treinador no último sábado, após o amistoso sobre Honduras, sem esconder a relação difícil com a seleção que se apresenta como principal ameaça para a Copa do Mundo.

A batalha constante com o país ibérico foi um dos grandes destaques do ano de reviravoltas do Brasil, que começou 2013 desacreditado e termina falando grosso como favorito. Nesse processo, as batalhas com o país que dominava o futebol desde 2008 foram fundamentais.

A primeira grande queda de braço com a Espanha foi uma disputa conceitual por Neymar, que se arrastou pelos últimos anos. Disputado a tapa por Real Madrid e Barcelona, o atacante dividiu opiniões sobre a necessidade de sua saída do país, e levantou dúvidas nos críticos sobre o desempenho que teria na Europa.

A Espanha ficou com o atacante, mas quem apostou que o camisa 11 sofreria na "adaptação" se deu mal. O discurso de que Neymar precisava "evoluir" na Europa caiu por terra com o bom início do jogador no time mais badalado do planeta, e ajudou a reavivar a autoestima do torcedor brasileiro, que passou as últimas temporadas sem atacantes de peso no futebol europeu de alto nível.

A retomada do orgulho, tão exaltada pelos jogadores da seleção, passou pela Copa das Confederações. Depois de assumir um time questionado pelo mau desempenho e pela fragilidade diante de grandes equipes, Felipão virou a mesa com louvor. Em casa, conquistou a torcida, bateu gigantes como Itália e Uruguai e atropelou justamente a Espanha na decisão no Maracanã.

O 3 a 0 interrompeu o projeto de consolidação da seleção europeia, que empilhou duas Eurocopas e uma Copa do Mundo em um domínio quase inédito entre seleções na história. Para consolidar a importância da atual geração, a Espanha precisa vencer em 2014, e a derrota da Copa das Confederações já coloca o Brasil, automaticamente, como o maior rival para tanto.

No caminho para o bi, a Espanha escolheu um atacante brasileiro, jogando gasolina na fogueira que separava as duas seleções. Diego Costa, que já havia sido convocado por Felipão, optou pelos europeus, despertando a ira do técnico da seleção, que chegou a bater boca com um jornalista quando questionado sobre o assunto.

Como se a disputa pelo atacante do Atlético de Madri já não fosse suficientemente estressante, Felipão ainda se viu exposto após ter sofrido um trote. A "pegadinha" foi feita pela rádio Cadena Ser, da Espanha, que arrancou do técnico uma convocação antecipada de Diego Costa para os amistosos contra Honduras e Chile, passando-se pelo presidente do clube onde o atacante atua.

"Pergunta para a Cadena Ser como eles [espanhóis] estão", disse Felipão, na mesma entrevista coletiva após o amistoso contra Honduras, sem esconder a mágoa sobre o assunto e fortalecendo a ideia da Espanha como vilã. 

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