BRT de Porto Alegre fica R$ 1,2 milhão mais caro e deve operar só em 2015
Tiago DantasDo UOL, em São Paulo
Os três corredores de ônibus projetados em 2010 pela Prefeitura de Porto Alegre como principal legado da Copa do Mundo para a cidade estão ao menos R$ 1,2 milhão mais caros do que o previsto e podem ser entregues somente em 2015. É o segundo atraso do projeto da capital gaúcha anunciado no mês – o governo já havia informado que a inauguração iria acontecer em outubro de 2014.
O TCE-RS (Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul) encontrou prática de sobrepreço em dois itens do contrato de R$ 195 milhões firmado entre a prefeitura e as construtoras. De acordo com o tribunal, o governo está pagando cerca de R$ 1,1 milhão a mais do que o cobrado pelo mercado pelo serviço de fresagem (remoção de asfalto para instalação de placas de concreto por onde os ônibus passarão). Além disso, está gastando cerca de R$ 50 mil a mais pela iluminação noturna da obra.
Os conselheiros do TCE-RS avisaram a prefeitura sobre o problema, o que resultou num imbróglio judicial que acabou paralisando a construção dos BRTs (Bus Rapid Transit, nome dado ao sistema de corredores exclusivos de ônibus). Atendendo à recomendação do órgão de controle, o governo municipal reduziu o repasse que fazia às construtoras. O consórcio, então, foi ao TJ (Tribunal de Justiça) contra a prefeitura para receber o valor integral.
Ao analisar o caso, a Justiça entendeu que não há sobrepreço no contrato dos BRTs e concedeu uma liminar (decisão provisória) às empreiteiras. Se fosse seguir apenas a decisão judicial, a prefeitura deveria, portanto, voltar a pagar o dinheiro que o TCE considerou irregular. Como isso não aconteceu, o consórcio formado pelas empresas Sultepa e Conpasul, responsável por dois dos três corredores, resolveu paralisar os serviços até que haja uma decisão definitiva.
A PGM (Procuradoria Geral do Município) trabalha para derrubar a liminar da Justiça. Em meio a duas decisões opostas, o prefeito José Fortunati (PDT) pediu ao TCE-RS, semana passada, que os conselheiros apresentem um relatório final sobre as contas da obra. O tribunal informou, no entanto, que só poderá apresentar o resultado definitivo sobre as contas quando as obras acabarem.
Prefeito cobra definição
"Qual das duas [TCE ou TJ] traduz a melhor decisão? A Prefeitura somente aguarda a decisão das instâncias fiscalizadoras para prosseguir com as obras. A decisão é absolutamente técnica", disse o prefeito, em seu blog. "Exigem da Prefeitura agilidade na execução das obras. Queremos que as empresas executem as obras, mas para isso precisamos da agilidade na decisão sobre o mérito da matéria", completou.
Procurada na segunda-feira, a construtora Conpasul ainda não se pronunciou sobre a questão. Ao pedir a liminar na Justiça, a empresa argumentou que não há sobrepreço no contrato e que está cumprindo o determinado pelo edital.
A suspeita de sobrepreço não é o único problema enfrentado pelo projeto dos BRTs, que deve transportar 64 mil passageiros por dia. Outros dois pontos ainda precisam ser resolvidos pela Prefeitura de Porto Alegre. A licitação para construir paradas e estações dos corredores de ônibus não foi lançada e os veículos que andarão pelas pistas exclusivas não foram comprados.
Em entrevista ao UOL Esporte no início de setembro, o diretor-presidente da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre), Vanderlei Cappellari disse que os BRTs não farão falta para a Copa. Segundo ele, a Fifa aprovou o plano de mobilidade de Porto Alegre para o Mundial já sabendo que o sistema não estaria operando e as obras consideradas essenciais pela entidade serão concluídas a tempo.