Djalminha diz que não se arrepende de cabeçada que o tirou da Copa-02
Renan Prates
Do UOL, em São Paulo
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AP Photo/Hasan Jamali
Djalminha teve sua ida para a Copa do Mundo de 2002 vetada após cabeçada no técnico do La Coruña
Djalminha faz parte de um seleto grupo de jogadores acima da média que não conseguiram ter uma boa trajetória na seleção brasileira. Sua ida para a Copa do Mundo de 2002 foi vetada pelo técnico Luiz Felipe Scolari após a cabeçada que o meia brasileiro deu no treinador do La Coruña, Javier Irureta, em um treino da equipe espanhola. Mas mesmo sem ser pentacampeão do mundo, o ex-jogador disse não se arrepender do fato.
"Se o Felipão diz que atrapalhou, tenho que acreditar nele [risos]. Ele já deu entrevistas dizendo que atrapalhou, que eu seria convocado. Não gosto muito do se... não aconteceu porque não tinha que ser, está tudo certo. Lógico que gostaria de participar da Copa, independente de ser para ganhar. Ganhando, melhor ainda", declarou ao UOL Esporte.
Em maio de 2002, Djalminha se envolveu numa confusão com Irureta durante um treino do La Coruña. O auxiliar Paco Melo marcou pênalti durante a tradicional 'pelada', o brasileiro não gostou da marcação e passou a discutir com ele. Irureta foi defender o auxiliar e levou uma cabeçada.
Atual presidente do Barcelona, Sandro Rosell era executivo da Nike na época e muito próximo da seleção brasileira. Ele escreveu um livro sobre as suas memórias do pentacampeonato brasileiro e contou o episódio do dia em que Felipão soube do ocorrido com Djalminha e decidiu não convocado, chamando o jovem Kaká, à época meia do São Paulo, para o seu lugar.
"Quando vinha ao Rio de Janeiro, Scolari jantava e dormia na minha casa algumas vezes. Um dia me ligou para dizer que já havia feito a lista dos 23 jogadores para a Copa do Mundo e queria me mostrar. Quando chegou a minha casa, lembro que estávamos na sala e liguei a televisão no canal da TVE Internacional. Foi justamente neste momento que foi exibida uma reportagem com a cabeçada que Djalminha deu no seu técnico Irureta. Ficamos paralisados e Scolari se levantou e disse: "P.. que pariu! Acaba de cair um dos meus jogadores. Já não posso convocá-lo, como vou chamar um jogador que faz isso com seu técnico, um colega meu". Ali, na minha casa, Djalminha caiu da lista e se incorporou Kaká, na época no São Paulo", escreveu Rosell no livro.
Mas mesmo assim Djalminha disse não ter ficado arrependido. "Não sou muito de me arrepender das coisas que eu faço. Não estava louco, fora de si. Não estava anormal. Se a consequência foi essa, paguei, depois se arrepender não adianta. De repente podia ter não feito e não ter ido. Depois que acontece, fica muito mais fácil falar".
Com passagem de destaque por Guarani, Palmeiras e La Coruña, Djalminha teve poucas oportunidades com a camisa da seleção brasileira, atuando apenas em 14 oportunidades, e conquistando a Copa América de 1997.
Djalminha apoia irreverência de Emerson Sheik e diz que futebol anda muito chato
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Na condição de quem fez parte de uma geração onde a irreverência predominava em campo, com provocações antes, durante e depois das partidas, Djalminha admite que o futebol de hoje em dia está muito chato devido ao politicamente correto. Ele saiu em defesa do atacante Emerson Sheik, do Corinthians, um dos únicos que ainda possuem essa característica.
"A gente está falando de esporte, não está falando de guerra. Não é nada agressivo. No esporte, a brincadeira cabe, a zoação cabe. As pessoas não podem encarar como falta de respeito e de ética. É simplesmente uma brincadeira normal de quem quer o esporte feliz", afirmou Djalminha.
"O Émerson tem que continuar assim, pois motiva o torcedor, que gosta. Cria um clima tranquilo suave, muito melhor do que aquele clima pesado".
"São opções né. Eu também lamento muito, não só a minha pouca presença na seleção. Tive boas passagens. Não foi tão longa, por isso também lamento não ter sequência como o Alex [Coritiba], que é um jogador dos que mais admiro pela qualidade técnica".
Djalminha se aposentou dos gramados com apenas 34 anos. Mesmo com veteranos como Alex, Seedorf e Juninho Pernambucano em alta, ele mantém a opinião de ter se aposentado no momento certo. "Negocio do se não é comigo. Escolhi o momento certo de parar me sentia bem, estava com a cabeça boa, que é o principal".
Sonho interrompido no Flamengo após briga com Renato Gaúcho
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Quando atuava pelo Flamengo, Djalminha se desentendeu com Renato Gaúcho, atual técnico do Grêmio, durante o clássico contra o Fluminense, em 1993, pelo Torneio Rio-São Paulo. O ex-meia disse que se acertou com o antigo desafeto, mas admitiu que o episódio foi preponderante para a saída do Rubro-Negro.
"Com certeza eu ficaria mais no Flamengo. O incidente foi o causador da minha saída. Tinha o sonho de não só eu, mas a minha geração, de tentar reeditar um pouco o que a geração do Zico fez, com jogadores revelados em casa conquistando tudo, mas isso foi interrompido, e todo mundo foi brilhar em outros clubes", relembrou.
Presidente do Flamengo na época, Luiz Augusto Veloso vendeu Djalminha, Marcelinho Carioca por um preço baixo a Guarani e Corinthians contra a vontade dos jogadores. Ambos brilharam com a camisa dos rivais. "Acho que hoje em dia não aconteceria isso, de dispensar tantos talentos como naquela geração por um valor tão barato pra clubes no Brasil".
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