"Fifa não está aqui só para encher os bolsos e sair do país", afirma Valcke
Rodrigo Mattos e Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Ao final da primeira fase da Copa das Confederações, a Fifa e o governo federal avaliaram que as críticas à competição e à Copa-2014 são consequência de um problema de comunicação. Para eles, a população não recebeu informações suficientes sobre os benefícios da realização do Mundial. Por isso, a entidade e o governo iniciaram uma verdadeira campanha para mostrar dados que teoricamente provam como a competição favorece o desenvolvimento do país, sem prejudicar investimentos em educação e saúde. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a falar em usar estatais para fazer propaganda para melhorar a imagem da Copa.
"Nós [a Fifa] não estamos aqui só para encher os bolsos e sair do país", afirmou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. Em seguida, ele acrescentou: "Sempre se pode fazer mais. Acho que estamos trabalhando. Você pode dizer que não é suficiente, mas não tenho vergonha do que estamos fazendo", contou. "Não há contradição nos investimentos [da Copa] com educação. No plano de turismo, há fortalecimento da educação técnica", deu um exemplo o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes.
Em paralelo, há uma intenção da Fifa de minimizar o impacto negativo na imagem do Brasil no exterior por conta dos protestos. Apesar de ter pedido mais segurança para a competição, a entidade tenta transmitir a imagem de há um exagero no noticiário sobre violência e o não há caos no país.
"Temos que usar a objetividade. Jornalismo não é uma questão de audiência, mas de responsabilidade. Vi na TV um sinal de trânsito destruído. Isso foi mostrado várias vezes, por vários ângulos. Dá a impressão de que não havia luzes de tráfego no país. E esse não é o caso. Vocês são os responsáveis por fazer a opinião pública. É um convite para ver todo o cenário", afirmou o diretor de comunicação da Fifa, Walter de Gregorio.
Em seguida, Valcke começou a listar valores que a Fifa traz para o país-sede da Copa. Entre eles, citou o gasto da entidade de R$ 32 milhões com hotéis, e R$ 448 milhões em despesas para para o Mundial. Também citou empregos dados para equipes que trabalham em serviços de hospitalidade, recepção, comidas e bebidas, em um total de 15 mil pessoas.
A Fifa obtém com a Copa do Mundo um total de receita de US$ 4 bilhões nos quatro anos de ciclo do Mundial. Segundo o secretário-geral, que afirma que o dinheiro não é para "Mercedes", um total em torno de US$ 1,4 bilhão é investido na organização da competição. Desse total, no entanto, inclui-se valores como prêmio para os participantes ou seguro para os times, recursos que ficam longe do país-organizador da competição. A entidade ainda argumenta também que há o investimento social com "Football For Hope" e o "11 for Health", mas apenas 0,5% do total ganho com o Mundial será investido em programas sociais no Brasil.
A maior parte do dinheiro vai para a administração da Fifa, as associações nacionais de futebol pelo mundo, programas de desenvolvimento do esporte e também um fundo de reserva da entidade --esse já tem cerca de US$ 2 bilhões.
Enquanto a Fifa acenava com o investimento feito no país, o Ministério do Esporte afirmava que não há "gasto" com a Copa, mas investimento em programas de infraestrutura. "Teriam de ser feitos investimentos no país. Nesse planejamento, foi estabelecido uma matriz de responsabilidades. Ela não é uma compilação de gastos da Copa do Mundo. É um plano estratégico de investimentos", disse Fernandes.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, insistiu que não há recursos do orçamento federal para estádios. Ele se prende ao fato de o dinheiro não sair diretamente do Tesouro, embora exista verba federal em forma de terrenos da União vendidos para pagar a construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, de renúncia fiscal para reformas das arenas e empréstimos a juros baixos pelo BNDES.
"O governo também dá subsídio para os jornais. Por que isso? Porque entende que a população deve ler mais jornais. As empresas estatais fazem propaganda nos veículos. Muitos recebem muito dinheiro público. Isso não dá o direito de o governo ter ações desses veículos", contra-atacou Rebelo. O ministro reconheceu a participação societária da União na Terracap, empresa do Distrito Federal que bancou a construção do Mané Garrincha. "É uma participação minoritária. O governo federal não empenhou recursos." De fato, o dinheiro saiu da venda de terras que pertencem 49% ao governo federal.
Aldo ainda mostrou dados de consultoria privada que preveem investimento acima de R$ 100 bilhões no país por conta do Mundial. Para ele, a questão é que a população não conhece esses números e por isso faz críticas ao Mundial. Ele atribui isso a jornalistas que só veem pontos críticos, e a falha de comunicação do governo.
"Da parte do governo, deveria ter um esforço maior de comunicação. Vamos falar com a Caixa e o Banco do Brasil [para fazer a propaganda]. Quem sabe uma estratégia de comunicação", explicou Rebelo.