Protestos em Belo Horizonte terminam em confronto entre PM e manifestantes
Bernardo Lacerda, Fernando Lacerda e Gabriel Duarte
Do UOL, em Belo Horizonte
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Gabriel Duarte/UOL
Manifestantes e policiais se enfrentam em confronto nas imediações do Mineirão, na capital mineira
Embora tenha ocorrido de forma pacífica durante boa parte do tempo, a manifestação iniciada no começo da tarde desta segunda-feira pelas ruas da capital mineira foi marcada por um tumulto generalizado, com a Polícia Militar usando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para conter os manifestantes, que reagiram atirando pedras nos policiais. A confusão teve início ainda durante a partida entre Taiti e Nigéria, no Mineirão, pela Copa das Confederações, e continuou no início da noite. Uma pessoa ficou ferida ao cair de um viaduto e foi atendida no Hospital Risoleta Neves, em Venda Nova.
De acordo com o coronel Alberto Luiz, assessor de comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais, cinco pessoas foram detidas por causa de pichações e agressões a policiais. A PM alega que os manifestantes não respeitaram o acordo para avançar da barreira montada pelos policiais e o confronto foi inevitável.
No início da noite, a ordem da PM era dispersar a multidão que se localizava nas proximidades do Mineirão. Os manifestantes, porém, seguiram no local e responderam à ação da Polícia. Os automóveis que vinham pela Avenida Antônio Carlos deram meia-volta e retornaram na contramão em direção ao Centro de Belo Horizonte. O trânsito ficou bastante confuso neste momento.
Outro grupo, que estava entre os servidores públicos estaduais da educação, também entrou em confronto com a Polícia quando tentava se aproximar dos outros manifestantes. Eles foram contidos pela cavalaria da PM e policiais usaram cacetetes sobre os manifestantes. A reportagem do UOL Esporte viu, no meio do tumulto, pessoas feridas.
Numa tentativa de esfriar os ânimos, os policiais recuaram e permitiram a passagem dos manifestantes, que entraram na Avenida Abrahão Caram e caminharam em direção ao Mineirão. No entanto, foram impedidos de seguir por nova barreira, montada pela Tropa de Choque. O clima ficou bastante tenso, com os manifestantes gritando palavras de ordem e a PM posicionada para intervir.
Por volta de 19h, ocorreu novo confronto entre os manifestantes e a Polícia, com muito tiro de bala de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e policiais usando cassetetes. Em meio a muita fumaça, pessoas corriam de um lado para o outro.
A estudante de psicologia Kenia Monteiro, que levou um tiro de bola de borracha na perna, acusou os policiais de usar da força e não dialogar. "Me senti numa praça de guerra. Acho que estamos de volta à ditadura. Estávamos tentando negociar com a Polícia, e eles chegaram atirando. Levei um tiro na perna sem fazer nada", disse.
O confronto seguiu pela Avenida Antônio Carlos. Os policiais usaram bombas de efeito moral até mesmo dentro e um posto de gasolina. Manifestantes se dispersaram em grupos e fizeram barricadas de fogo ao longo da via. Alguns estabelecimentos comerciais foram danificados, como uma concessionaria de veículos e várias lojas.
Por volta de 19h40, os manifestantes se espalharam e o clima, aparentemente, esfriou. O trânsito na Antônio Carlos, no sentindo centro-bairro, foi liberado. Porém, o aparato policial seguiu numeroso no local. Muitos manifestantes se dirigiram a pé, pela Avenida Antônio Carlos, para a Praça Sete, onde outro ato de protesto havia começado por volta das 17h. Quem voltava da Pampulha engrossava o ato em torno da praça. Por volta de 21h30, o número de pessoas ali já havia reduzido bastante, mas o trânsito continuava totalmente interrompido. Na Praça Sete não houve confronto.
Manifestante ferido
O UOL Esporte apurou que um manifestante, identificado como Gustavo Magalhães Justino, de 18 anos, se feriu durante o protesto ao se atirar o Viaduto José Alencar, que dá acesso ao Mineirão. A Polícia Militar informou que ele teria sido empurrado durante o tumulto, mas uma testemunha disse que o companheiro se jogou ao se sentir acuado. Ele foi encaminhado ao Hospital Risoleta Neves, em Venda Nova.
Gabriel Castro, de 32 anos, que levou dois tiros de bala de borracha durante a manifestação (na perna direita e no braço esquerdo), disse que Gustavo pulou do viaduto quando a Polícia chegou ao local. "Ele não aguentou o tanto de bombas de efeito moral e se atirou para se defender. A Polícia nos cercou mesmo a gente tentando o defender. Ele ficou bem machucado, mas não tenho informação sobre ele", afirmou.
Ato com 30 mil manifestantes começou pacificamente
As ruas da capital mineira foram tomadas por manifestantes que se concentraram no início da tarde em dois pontos da cidade – na Praça Sete, no Hipercentro, e na Igreja São Francisco, na região da Pampulha – e depois se dirigiram ao Mineirão. A Polícia Militar montou um esquema para isolar o estádio. Foi a partir daí que houve o confronto.
Embora uma liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) tenha proibido manifestações no estado durante a Copa das Confederações, milhares de pessoas se reuniram, no início da tarde, no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro e logo em seguida tomaram a Praça Sete, interrompendo o trânsito das avenidas Afonso Pena e Amazonas. De Polícia Militar, a manifestação reuniu aproximadamente 30 mil pessoas.
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Durante a manifestação em BH aconteceram momentos de tensão entre manifestantes e PM
Depois de se concentrarem em grande número, os manifestantes iniciaram caminhada em direção ao Mineirão. Acompanhado pela Tropa de Choque, o grupo, formado por estudantes, policiais civis em greve, entre outros, entoavam gritos e pediam o apoio da população. "Oi torcida, acabou a inércia" e "Sem violência, rumo ao Mineirão".
Mais próximo ao Mineirão, funcionários do Estado da área da educação reuniram-se na Igreja de São Francisco com balões amarelos, cartazes e faixas. Os manifestantes aproveitaram a Copa das Confederações para reivindicar melhores salários e qualidade de trabalho para a categoria.
"É impressionante que tenha dinheiro para gastar com a Copa do Mundo e não tenha para a educação. Nós queremos igualdade, se gasta tanto dinheiro com a Copa, gaste com educação", observou a presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira.
Os servidores públicos direcionaram os protestos ao governo de Minas e também atacaram a Fifa, organizadora das copas das Cofederações e do Mundo. "Da Copa eu abro mão. Quero dinheiro para saúde e educação", gritavam em coro.
Os manifestantes tentaram se aproximar do Mineirão, mas foram contidos pela Tropa de Choque e pela Cavalaria Montada. O deputado estadual Rogerio Correa (PT) acompanha a passeata e negocia com os policiais.
A Polícia Militar criou cordões de isolamento em diferentes pontos que ligam ao Mineirão para impedir que os manifestantes se aproximem do estádio, onde os torcedores chegavam para acompanhar a partida entre Taiti e Nigéria.
Os manifestantes que saíram da Igreja de São Francisco conseguiram se aproximar do Mineirinho. Porém, pararam numa barreira da PM, da qual só será liberado quem tiver ingresso para o jogo. Moradores da região foram impedidos de ultrapassar o bloqueio. Vários torcedores tiveram dificuldades para passar e se atrasaram para chegar ao estádio.
O grupo que partiu da Praça Sete parou em outra barreira montada pela Polícia na Avenida Antonio Carlos, próximo ao Viaduto São Francisco. Com a aproximação dos manifestantes, o comércio da região fechou as portas.
O vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Gladson Reis, que negocia com os policiais, disse que o movimento é contra os altos investimentos e a corrupção envolvendo as Copas das Confederações e do Mundo, além de protestar contra o aumento das passagens de ônibus e da liminar da Justiça mineira que impede o direito de se manifestar.
Atualizada às 21h35
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