Jornalista austríaco tem encontro incômodo com Marin e investiga ligação com ditadura

Bruno Freitas

Do UOL, no Recife

  • Bruno Freitas/UOL

    Austríaco Robert Florencio persegue o passado de Marin e tem encontro com filho de Herzog

    Austríaco Robert Florencio persegue o passado de Marin e tem encontro com filho de Herzog

Desde 2010 o austríaco Robert Florencio carrega uma cisma em relação à figura de José Maria Marin. Jornalista de uma revista em seu país, ele teve oportunidade de conversar com o dirigente, na época vice-presidente da CBF, para tratar da preparação brasileira para o Mundial. Hoje, três anos depois, o repórter volta ao país já conhecedor da biografia do cartola, agora com a missão de relatar na Europa a ligação do personagem com os tempos de ditadura.

Florencio escreve para a revista Ballester, especializada em futebol, distribuída na Áustria, Alemanha e Suíça. Em 2010 o repórter tentou ouvir Ricardo Teixeira sobre os possíveis "elefantes brancos" da Copa brasileira, estádios que correm risco de ser subtilizados após o Mundial. No entanto, acabou direcionado a conversar com Marin, na época um dirigente quase sem representatividade dentro da CBF, com exposição zero.

O encontro aconteceu no apartamento de Marin, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Segundo o jornalista austríaco, o dirigente se irritou com o tema dos estádios e passou mais de uma hora apenas se vangloriando de seu currículo como homem público.

"Não me ofereceu nem uma água. Na época não conhecia ele, mas saí da entrevista com uma impressão ruim dele. Ficou o tempo todo falando bem de si mesmo. Só depois fui conhecer a seu respeito", relata Florencio, que carrega em Recife o cartão de visita de Marin, com o brasão da Federação Paulista de Futebol e o título de presidente de honra.

De volta ao Brasil para a cobertura da Copa das Confederações, Florencio tem a missão de escrever sobre a ligação de Marin com o regime militar. O atual presidente da CBF foi deputado da base de sustentação política da ditadura nos anos 70.

Neste trabalho de pesquisa, o austríaco tem entrevista marcada depois da Copa das Confederações com Ivo Herzog, filho do jornalista Wladimir Herzog, morto pela ditadura.  

Como deputado estadual da Arena (Aliança Renovadora Nacional), base de sustentação política do governo militar, José Maria Marin discursou no plenário da Câmara paulista em 1975 pedindo providências contra o tipo de jornalismo praticado pela TV Cultura.

Dias depois o então diretor de jornalismo da emissora, Vladimir Herzog, apareceu morto na sede do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo, onde havia ido voluntariamente para interrogatório sobre supostas "atividades ilegais".

"Claro que a CBF é uma entidade privada, mas é difícil entender como o Brasil permite que uma pessoa como essa seja o representante do país no COL (Comitê Organizador Local), principalmente com o histórico da presidente. Como já foi falado, é como se a Alemanha tivesse um ex-nazista na chefia do Comitê Organizador da Copa", opina Florencio, com menção à vivência de Dilma Rousseff na militância de esquerda nos anos de ditadura militar.

Nos últimos meses Ivo Herzog vem liderando um movimento que pede a saída de Marin da presidência do Comitê Organizador Local da Copa, em razão de seu envolvimento com a ditadura. Junto com Romário, entregou um abaixo-assinado na CBF, com pedidos de mais de 55 mil pessoas contra o dirigente.

De acordo com Florencio, a história do passado de Marin, antes de sua aparição à frente da Copa do Mundo no Brasil, com a renúncia de Ricardo Teixeira, é praticamente desconhecida na Europa. "Só uma vez vi uma reportagem a respeito em uma televisão regional da Alemanha", diz.

José Maria Marin, presidente da CBF
José Maria Marin, presidente da CBF

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