PM do DF atira balas de borracha na cabeça de manifestantes que filmavam ação policial
Vinícius SegallaDo UOL, em Brasília
Pelo menos duas manifestantes que participaram do protesto em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha no último sábado foram atingidas na cabeça por balas de borracha disparadas pela Polícia Militiar. Nos dois incidentes, uma coincidência: ambas estavam filmando a ação da polícia quando foram alvejadas.
O procedimento correto na utilização do disparo de balas de borracha para dispersar multidões é sempre mirar e atingir os manifestantes na altura do tronco ou das pernas. Sempre que aparece alguém ferido na face por este tipo de artefato, as autoridades policiais afirmam que houve erro humano.
Não foi diferente neste último sábado. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal emitiu nota afirmando que "os policiais agiram dentro da medida, com uso progressivo da força conforme a resposta dos manifestantes". Não é o que parece quando se observa o ferimento na cabeça da estudante A.A.L., de 21 anos, que pediu para não ter seu nome identificado.
"Eu estava filmando os policiais soltando bombas, quando um deles gritou, "Vai filmar? Quer filmar?", e disparou direto para a minha cara, a uns 20 metros de distância. Eu baixei a cabeça e o tiro acertou minha testa", contou a estudante, ainda atordoada pelo impacto do projétil.
Infortúnio semelhante viveu a estudante de publicidade Isadora Cristina Ribeiro de Alencar, 18 anos. Ela recebeu um tiro de bala de borracha próximo à região do pescoço enquanto filmava a ação de policiais que tentavam remover manifestantes que estavam deitados no chão do Eixo Monumental. Resultado: um ferimento que precisou de nove pontos para ser fechado.
"Resolvi filmar a manifestação, pois assisti às imagens das manifestações em São Paulo e no Rio de Janeiro e não imaginei que a polícia daqui reagisse com tanta violência", afirmou Isadora ao jornal Correio Braziliense, na saída do hospital. Ela foi atendida no Hospital de Base junto com mais quatro pessoas, entre elas a estudante Natália Ramos, de 21 anos, com suspeita de fratura na costela fruto de uma cacetada de um policial.
A tese de que os disparos atingiram acidentalmente a cabeça das manifestantes, porém, ganha força quando se observa outros casos de "balas perdidas de borracha" disparadas pelos policiais. Por volta das 14h30 do último sábado, um torcedor de pouco mais de 40 anos que estava nos arredores do estádio com sua mulher e filha de nove anos foi atingido na barriga por um projétil não letal.
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