Parreira 'ofensivo' comandou última vitória do Brasil contra a França

Daniel Tozzi

Do UOL, em São Paulo

  • Washington Alves/REUTERS

    Scolari conversa com Parreira: novo desafio contra a França

    Scolari conversa com Parreira: novo desafio contra a França

Ele afirma que sempre buscou equilíbrio em suas equipes, mas, justa ou não, é a fama de defensivista, retranqueiro até, que acompanha Carlos Alberto Parreira em sua trajetória no futebol. Mas foi uma versão incontestavelmente ofensiva do hoje coordenador técnico de Luiz Felipe Scolari que ajudou a seleção brasileira a obter sua última vitória contra a França.

Em 26 de agosto de 1992, o Brasil do então técnico Parreira entrava no Parc des Princes, em Paris, com apenas um único marcador típico no meio-campo e várias opções ofensivas para superar uma França com estrelas como Papin e Ginola no ataque e liderada pela dupla Blanc e Deschamps, titulares no título mundial de 1998 e, coincidentemente, os últimos a serem técnicos dos "Bleus" - Blanc deixou o cargo após a Eurocopa 2012, sendo substituído por Deschamps, que estará no banco de reservas no amistoso deste domingo, às 16h (horário de Brasília), em Porto Alegre.

Com Mauro Silva à frente dos zagueiros Ricardo Rocha e Ricardo Gomes e com os experientes Jorginho e Branco bem posicionados entre a marcação e o apoio, Parreira mandou a campo a criação de Luís Henrique, Raí e Valdo para abastecer os atacantes Careca e Romário.

Com cinco jogadores notoriamente ofensivos, Parreira contou com gols de Luis Henrique e Raí para bater a França. Depois desse jogo, a seleção voltou a enfrentar os franceses por mais seis vezes. Não venceu nenhuma, e a única na qual conseguiu não levar gols foi justamente com Parreira como técnico: em 20 de maio de 2004, já com o Stade de France construído, França de Zidane e Brasil de Ronaldo empataram por 0 a 0 em partida que celebrou os 100 anos da Fifa (Federação Internacional de Futebol).

A proposta ofensiva de Parreira não sobreviveu à má fase de alguns dos principais jogadores. Luís Henrique entrou em colapso técnico e, vítima de contusões, viu sua carreira naufragar. Careca pediu dispensa das eliminatórias sob a alegação de não ter mais "espírito da seleção".

Romário chegou a ser afastado por indisciplina e só voltou quando houve o risco do Brasil não se classificar para a Copa do Mundo. Por sua vez, Raí transferiu-se do São Paulo para o Paris Saint-Germain no meio de 1993 e sofreu com a adaptação, o que acabou afetando seu futebol. Ele chegou a ir para a reserva em alguns amistosos, o que se repetiu na Copa do Mundo de 1994.
 
Diante das perdas, Parreira promoveu o retorno de Dunga à seleção para fazer com Mauro Silva a dupla de volantes. Zinho entrou no lugar de Valdo, mas desempenhando função exclusivamente no meio-campo. Durante a Copa, o volante Mazinho ocupou o lugar de Raí.
 
A vez do "quadrado"
 
Em sua passagem seguinte pela seleção, entre 2002 e 2006, Parreira voltou a flertar com um superataque. Com a ascensão de Adriano no futebol europeu e na seleção brasileira, o técnico sacou Juninho Pernambucano do meio-campo, mudou o esquema do 4-3-1-2 para o 4-2-2-2 e viu imprensa e torcida sonharem com o "quadrado mágico" - Kaká e Ronaldinho no meio de campo, com Ronaldo e Adriano no ataque. No meio-campo, Emerson e Zé Roberto seriam os marcadores.
 
Mas, mais uma vez, a ideia do técnico sucumbiu. Ronaldo e Adriano chegaram fora de forma à Copa do Mundo de 2006 e, pesados, não conseguiam dar a mobilidade exigida. Ronaldinho sofreu com o cansaço da extenuante temporada europeia, e Kaká sentiu uma lesão ainda na primeira fase. 
 
Parreira ensaiou mudanças. Fez seis alterações para o jogo contra o Japão, quando o Brasil já estava classificado. A vitória por 4 a 1, na melhor exibição brasileira no Mundial da Alemanha, não convenceu o técnico a efetivar as alterações. Contra Gana, pelas oitavas de final, a formação que iniciou a Copa estava de volta. 
 
E a derrocada veio na partida seguinte, justamente contra a França. Parreira desfez o quadrado e retornou ao sistema que havia abandonado dois anos antes, com Adriano indo para o banco e Ronaldinho sendo adiantado para jogar ao lado de Ronaldo. Mas, com Zidane e Vieira inspiradíssimos, a seleção caiu por 1 a 0, gol de Henry, e acabou eliminada do Mundial que era para ser do "quadrado mágico" ofensivo idealizado por Parreira.

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