A Federação Boliviana de Futebol ainda não decidiu qual valor repassará à família de Kevin Espada, mas existe uma chance de que os pais do jovem não recebam dinheiro algum. Segundo a própria entidade confirmou ao UOL Esporte, o Comitê Executivo da entidade pode decidir, nesta semana, cancelar a doação, embora essa opção seja pouco provável.

Trata-se, na verdade, de uma possibilidade baseada nos estatutos da Federação Boliviana. Na semana passada, os cartolas envolvidos divulgaram que a família de Kevin e os campeões da Copa América de 1963, maior título da história do futebol local, receberiam parte da renda gerada na vitória por 4 a 0 do Brasil sobre a Bolívia.

Pela regra, o Comitê Executivo daria a palavra final sobre quanto cada parte receberia, podendo, inclusive, decidir não repassar valor algum. A possibilidade é considerada remota, justamente porque o caso ganhou grande publicidade na última semana, e seria difícil recuar diante dos discursos já proferidos.

Quem faz a projeção é Javier Silva, chefe de imprensa da FBF, que foi consultado pela reportagem sobre o assunto. A informação inicial, no entanto, foi divulgada já na última quinta-feira, quando Alberto Lozada, secretário-geral da FBF, concedeu uma entrevista coletiva para a imprensa boliviana.

Na ocasião, ele explicou que a entidade sofreu danos financeiros ao realizar amistosos recentes com equipes como Haiti e Costa Rica, e ratificou que a decisão sobre o destino da renda era da FBF.

"A arrecadação é 100% da Federação Boliviana de Futebol, que, de forma voluntária, entregará o dinheiro à família de Kevin e aos campeões de 1963", disse ele, segundo o jornal El Diario.

A partida em Santa Cruz de la Sierra movimentou a cidade e encheu o estádio Ramon Aguilera, que cobrou um ingresso acima dos padrões normais para o futebol local. Por isso, a expectativa é que os valores sejam elevados. Até agora, a federação não sabe informar qual foi a receita da bilheteria, e promete que isso será feito nesta segunda, quando a instituição financeira responsável liberar o borderô. 

O assunto vem se arrastando desde o anúncio do amistoso, quando José Maria Marin, presidente da CBF, anunciou que toda a renda seria revertida à família de Kevin, morto atingido por um sinalizador de navio atirado por corintianos na partida contra o San Jose, pela Libertadores. Às vésperas da partida, no entanto, a FBF anunciou que a bilheteria seria dividida com os ex-jogadores bolivianos que venceram a Copa América de 1963, e criou uma situação desconfortável ao demorar a convidar Limbert Beltrán, pai de Kevin, para o amistoso. 

No jogo em si, a tragédia foi ignorada. Antes, durante e depois, o nome do jovem não foi mencionado na partida, marcada pela fragilidade do time da casa e a festa da torcida, composta em grande parte por brasileiros.