Por direito de usar estádio, cartolas vão à Justiça contra empreiteira que faz Arena das Dunas, em Natal

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação

    Ao fim de fevereiro de 2013, a Arena das Dunas, em Natal, estava 57% concluída

    Ao fim de fevereiro de 2013, a Arena das Dunas, em Natal, estava 57% concluída

A realização de jogos de futebol na Arena das Dunas após a Copa-2014 vai se transformar em uma disputa judicial. É o que promete a Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol, filiada à CBF, que acusa a administradora do estádio OAS e o governo do Estado de descumprirem o contrato de concessão da praça esportiva. 

Por meio de licitação, a empreiteira obteve o direito para fazer a demolição do Machadão, a construção da Arena das Dunas e também a concessão, gestão e manutenção da nova arena. Só para realizar a obra o valor soma R$ 417 milhões, segundo o site da CGU (Controladoria Geral da União). O contrato foi assinado em abril de 2011 e entrega o estádio por 20 anos à empresa.

Por conta dessa concessão, a federação ficou preocupada de como seria o uso da arena após o Mundial para jogos dos times locais. Por isso, reivindicou e obteve que fosse incluído no contrato uma cláusula que tratasse dessa questão.

Pela cláusula 5.5, "a concessionária (OAS) deverá ceder o estádio e sua estrutura aos clubes, times, agremiações e equipes de futebol filiadas à Federação Norte Rio-Grandense de Futebol (FNF), nos termos e condições do protocolo de intenções a ser firmado entre esta Federação e o Governo do Estado, e a ser aceito pela Concessionária, para a realização de partidas em que os clubes, times, agremiações e equipes filiadas à FNF."

Mas a federação alegou que o protocolo nunca foi realizado. "Sem esse protocolo, vai haver um abismo jurídico. Vai poder haver jogos dos clubes no estádio? Pode no Estadual? Quais os valores estabelecidos? Quais as normas para utilização do estádio?", reclamou o presidente da federação, José Vanildo da Silva. "A ausência do protocolo fere frontalmente o futebol do Rio-Grande do Norte."

Por isso, o cartola enviou, na semana passada, notificações extra-judiciais para a OAS e para o governo do Estado para que se manifestassem em dez dias. Se não houver uma resposta no prazo, ele disse que vai entrar na Justiça para demandar a realização do protocolo. "Devo entrar com ação ordinária, pedindo tutela antecipada (espécie de liminar)", contou Vanildo.

O dirigente explicou que tentou contatar tanto a OAS quanto o governo antes de recorrer a notificações e medidas na Justiça. Mas a empreiteira não lhe deu atenção e o Estado prometeu responder-lhe quando fosse avisado da notificação.

Questionado pelo UOL sobre as acusações da federação nordestina, a empresa e o governo não responderam às perguntas enviadas após dois dias de insistência. Contatado por telefone, o secretário de Copa do Rio Grande do Norte, Demétrio Torres, falou pouco e alegou estar ocupado. 

"Não foi descumprido nada. Me liga amanhã", afirmou o secretário. O UOL informou o político que a reportagem seria publicada nesta quinta-feira e insistiu por respostas. "Tudo bem, um abraço, até logo", disse, antes de desligar o telefone.

A preocupação da federação é que se prolongue a realidade atual em que os times do Estado não conseguem jogar no principal estádio da capital. Ao contrário de Estados sem tradição no futebol, como Mato Grosso e Amazonas, o Rio Grande Norte tem dois times na Série B: América e ABC. E ainda tem uma equipe na Série C: o Baraúnas.

Sem o antigo Machadão, o América tem jogado em Goianinha, a 60km da capital do Estado, até nos jogos diante do rival ABC. A federação reclama que, durante a Copa, haverá cessão por três meses para a Fifa realizar o Mundial, mas nada foi pensado para esses clubes.

"Esse estádio é patrimônio público. O Estado que fez o estádio com financiamento e recursos públicos", lembrou Vanildo, reclamando que o uso também tem que ter interesse público. O próprio cartola disse que o América-RN iniciou uma negociação com a OAS para a utilização do estádio. Mas, para ele, uma negociação individual não vai estabelecer regras claras que sejam válidas para todas as partidas do Estado.

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