Chamado para "colocar ordem", Gallo diz que sub-20 não é vitrine e veta "jogador clássico"

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/CBF

    Gallo (dir.) ao lado de seu auxiliar técnico, Mauricio Copertino

    Gallo (dir.) ao lado de seu auxiliar técnico, Mauricio Copertino

Disciplina, profissionalismo e comprometimento. Essas três palavras, das mais pedidas aos jogadores profissionais, são mantra também das categorias da base da seleção brasileira, que tem em Alexandre Gallo o nome para fazer uma reestruturação em um setor visto pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) como bagunçado.

Gallo assumiu a equipe nacional depois do fiasco da equipe sub-20 no Sul-Americano da categoria, disputado no Argentina. O Brasil foi eliminado na primeira fase e, assim, ficou fora do Mundial, que ocorre em junho, na Turquia.

A desclassificação desagradou ao presidente da CBF, José Maria Marin. O técnico Emérson Ávila foi demitido e uma reestruturação da base foi anunciada. Gallo chega à seleção junto com o ex-jogador Bebeto, que será o novo coordenador técnico de todas as categorias de base da seleção.

O fiasco no mais recente torneio gerou troca de farpas entre Ávila e a CBF. O primeiro disse que a geração não era boa e criticou a falta de planejamento da entidade, que entende que faltou linha dura.

Em entrevista ao UOL Esporte, Gallo evitou fazer qualquer análise e críticas ao trabalho do antecessor e ao que vinha ocorrendo. Mas deixou claro que a principal missão que a entidade deseja é uma casa arrumada e com atletas jovens mais preparados para as cobranças que terão e cientes da responsabilidade que têm ao representar a seleção.

"Na verdade, a conversa que tive foi para trazer profissionalismo a mais pra essa seleção sub-20. Todos são quase profissionais. Hoje, quase todo jogador de uma seleção sub-20 já atua na equipe principal em seu clube. Até na sub-17 tem jogador assim. A ideia é o contrário, é fazer da base uma antecipação de fases. É levar o profissionalismo pra lá", explicou Gallo.

"O foco principal foi a palavra de comprometimento, desde o presidente da CBF até todos envolvidos. O jogador não pode passar pela seleção, bater o carimbo e só se valorizar com isso. Queremos uma renovação de atletas comprometidos e com a cabeça voltada pra seleção. Vou tentar fazer o máximo de aproximação com clubes e treinadores pra que a gente realmente leve jogadores comprometidos e com entrega, luta e combate, que sempre é o que se pede. Quando o atleta percebe que tem comando, ele vai ter mais responsabilidade", continuou.

Um dos pontos mais questionados do futebol de base atualmente é a transferência de um futebol mais pegado e de resultado para jovens atletas ainda em desenvolvimento, o que pode inibir a ousadia e talento do jogador em ascendência.

Gallo disse acreditar que o jogador não perde sua característica e ousadia diante de um sistema tático organizado e que cumprir as funções do futebol moderno não implicam em um jogo burocrático. Cita como exemplo os dois maiores jogadores do mundo, Messi e Cristiano Ronaldo, e afirma que não há como um atleta ficar solto para atuar como quer.

"É uma situação mundial. O futebol se aproximou na parte física e tática, não existe espaço para o jogador ficar só com a bola de pé. Existe comprometimento, força, tem sido geral em todo o mundo", falou.

"O futebol moderno não tem mais espaço para o jogador clássico. Depende do jogador que tem participação na marcação. Veja só o Messi e o Cristiano Ronaldo. Eles recompõem a defesa, fazem parte da marcação, ajudam, roubam bola, se movimentam e participam das jogadas. Não se tem liberdade pra isso, mesmo na base. Só com 11, 12 anos o garoto tem liberdade por não ter organização. Mas numa sub-15, sub-17 ou sub-20 fica difícil de dar liberdade. O futebol evoluiu muito, está rápido e forte", acrescentou.

A ideia do novo comandante da base nacional é tentar implementar um futebol unificado em que o estilo de jogo do futebol brasileiro seja mantido, mas dentro de uma organização e disciplina que o façam estar dentro das tendências mundiais. O exemplo citado que deu certo é o da Espanha, que desde as suas categorias de base implementa o futebol de toque de bola e manutenção da posse de bola hoje praticado na seleção principal e também pelo Barcelona.

No entanto, as dimensões territoriais dos dois países é o principal entrave para que a ideia seja implementada tão facilmente. Gallo terá que que conversar e fazer um trabalho de aproximação com várias equipes nacionais e seus treinadores sobre como anda o trabalho nas categorias e pincelar jogadores.

"A base da Espanha é parecida com o que se faz no profissional, jogo tático, de manutenção de posse de bola. Todo mundo bate palma pra Espanha pelo futebol unificado da base ao profissional, mas em um país continental é difícil ter acesso a  todas equipes. É que vou fazer, conversar com treinadores e ver se existe possibilidade de unificar isso. É difícil de se fazer isso em um país continental. Em um estado é mais fácil.  Temos que estreitar contatos com clubes e treinadores."

Gallo será o treinador de todas as equipes da base e terá como enfoque em 2013 a seleção-sub-17, que em abril disputa o Sul-Americano, que será classificatório para o Mundial, disputado em outubro.

Sua principal motivação para deixar o Náutico e trabalhar na base da seleção foi o desafio de preparar a partir de já uma equipe competitiva para um dos principais sonhos do futebol brasileiro: conquistar uma medalha de ouro olímpica. E em casa, no Rio, em 2016.

"Me motivou muito que o presidente visualiza, que é a Olimpíada de 2016, de montar o time pra essa grande chance, medalha que não temos, jogando dentro do Brasil. Mas uma grande Se existe uma chance [de levar o ouro], essa á maior."

Seleção brasileira
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