Único remanescente inglês de 2002, lateral Cole atinge marca histórica e reencontra algozes brasileiros

Fernando Duarte e Paulo Passos

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • Divulgação/Chelsea

    Ashley Cole completará a marca de 100 jogos pela seleção inglesa, um recorde

    Ashley Cole completará a marca de 100 jogos pela seleção inglesa, um recorde

Privilégio será realidade e ironia para Ashley Cole na partida desta quarta-feira contra o Brasil (17h30, horário de Brasília). Ao mesmo tempo em que se tornará apenas o sétimo da história da seleção inglesa a atingir a marca de 100 jogos internacionais, o lateral esquerdo terá como adversários justamente o jogador e o treinador que lhe provocaram uma grande decepção na carreira. Cole, de 32 anos é o único remanescente da equipe que, em 2002, foi derrotada pelo Brasil de Luiz Felipe Scolari nas quartas de final da Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul e com um "gol espírita" de falta de Ronaldinho Gaúcho.

A derrota teve um sabor mais amargo para dois jogadores em especial. O goleiro David Seaman saiu de sua segunda e última Copa acusado de falhar na cobrança de efeito do atacante brasileiro, justamente o segundo gol. Já Cole ficou lembrado pelo drible de corpo humilhante que levou de Ronaldinho no lance que originou o gol de empate da seleção na vitória por 2 a 1. E, embora tenha resistido ao trauma, agora se vê ainda como símbolo de uma geração inglesa de muita promessa e poucas realizações.

Mas o poder de algoz de Scolari não se limitou a 2002. Apelidada de dourada - muito mais pelo conhecido ufanismo da mídia esportiva inglesa -, depois de uma rara goleada (5 a 1) sobre a Alemanha em 2001, a safra de Cole, Steven Gerrard e Frank Lampard disputou três copas e duas Eurocopas entre 2002 e 2012, sem jamais passar das quartas de final. Em três desses eventos caiu diante de times comandados por Felipão (Portugal em 2004 e 2006). Houve ainda o vexame de ficar pelo meio do caminho nas eliminatórias da Eurocopa de 2008.

Cole, porém, virou um bode expiatório perfeito por força de fatores extra-campo. Gerrard e Lampard, por exemplo, perderam pênaltis em Copa do Mundo, mas nem de longe apresentam a mesma propensão do lateral em aparecer nas páginas erradas pelas razões mais erradas ainda. Cole foi notícia por conta do fim inglório do casamento com a pop star britânica Cheryl Cole, uma das mulheres mais bonitas do Reino Unido, deflagrado por revelações dos tabloides sobre uma noite de embalo com uma cabeleireira de Londres, devidamente detalhada pela "conquista".

O jogador também foi duramente criticado pelo ainda mal explicado incidente em que acertou um tiro de espingarda de ar comprimido num empregado do Chelsea, clube que motivou a primeira encarnação de Cole como vilão: cria do Arsenal, ele despertou a revolta de torcedores em 2006 ao forçar uma transferência para o rival londrino, uma transação que causou irritação mais generalizada depois de o lateral descrever em sua biografia que se sentiu humilhado pela oferta de renovação de contrato do Arsenal - algo em torno de R$ 200 mil semanais na época.

Ganhou mais dinheiro no clube de Roman Abramovich, mas também o apelido de "Cashley Cole", um trocadilho com a palavra dinheiro (cash) em inglês. Negro, ele foi classificado como traidor ao defender publicamente o colega de equipe John Terry no episódio em que o zagueiro respondeu à acusação de racismo contra o zagueiro Anton Ferdinand.

Diante de tudo isso, é normal que Cole nos últimos tempos raramente dê entrevistas ou faça mais do que se pronunciar em zonas mistas. Em campo, porém, ele tem reinado absoluto em sua posição no clube e na seleção, ainda que sua hegemonia agora seja ameaçada pela idade e a ascensão de Leighton Baines, do Everton, justamente num momento em que Cole enfim parece estar se redimindo aos olhos do público.

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