Querido por brasileiros, Del Bosque chega ao topo com estilo "paizão"

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

  • Filip Singer/EFE

    Técnico foi escolhido como melhor do mundo em premiação da Fifa

    Técnico foi escolhido como melhor do mundo em premiação da Fifa

Não é difícil ouvir de jogadores que trabalharam com o melhor técnico do mundo segundo a Fifa as palavras "amigo", "simples" e "direto" para descrevê-lo. Dono de um currículo invejável, com títulos como a Liga dos Campeões, Copa do Mundo e Eurocopa, Vicente del Bosque acumula também uma lista de fãs entre os atletas. Zidane, Raúl, Figo e Xavi, além dos brasileiros Ronaldo, Roberto Carlos e Flávio Conceição estão entre os admiradores do espanhol.

"Eu trabalhei com muitos treinadores. Ele é diferente, justamente pela simplicidade. É básico, objetivo", descreve Flávio Conceição, que conviveu com Del Bosque durante duas temporadas no Real Madrid. "Ele tem um estilo paizão, amigo dos jogadores, ouve todo mundo e não inventa. Por isso ganha respeito", completa o ex-jogador.

ÍDOLO DO REAL, RESPEITADO NO BARÇA

  • Ex-jogador identificado com o Real Madrid, Vicente del Bosque consegue algo quase inédito no futebol espanhol: transcender a rivalidade Barça x Real. Em mais de quatro anos na seleção, não se envolveu em nenhuma polêmica com a torcida e, principalmente, a imprensa catalã. "Eu trato de fazer as coisas na maior justiça. Eu não nego o meu clube, onde me criei, fiquei 36 anos e defendi até a morte, que é o Real Madrid. Mas agora sou técnico da Espanha e não tenho preferência por nenhum clube", explicou o técnico em entrevista ao UOL Esporte.

Até assumir a seleção espanhola em 2008, o trabalho de maior destaque do treinador havia sido no Real Madrid. Ex-jogador do clube, com passagem pelas categorias de base, ele comandou o time que ficou conhecido como "galácticos", que tinha Zidane, Figo e Ronaldo, entre outros.

"Se eu pudesse votar (na premiação da Fifa) escolheria o Del Bosque. Porque conheço muito bem ele. Treinei com ele no Real Madrid. É um cara fantástico. É uma cara que simplifica muito a maneira de treinar", disse o "Fenômeno" em entrevista ao Sportv.

O irônico é que foi justamente o jeito "simples" que levou Del Bosque a perder o emprego há dez anos no Real Madrid. Mesmo após o técnico ter levado o clube a conquista de duas Liga dos Campeões, dois Campeonatos Espanhóis e um Mundial de Clubes, ele foi dispensado pelo presidente do clube Florentino Perez após a temporada de 2002-03. 

"É o fim de um ciclo. Precisamos de alguém com mais técnica do ponto de vista de estratégia e tática", justificou o dirigente na época. Segundo a imprensa espanhola, entretanto, foi o fato de ser muito amigo dos jogadores que levou o técnico a ser mandado embora.

QUERIDO POR BRASILEIROS

  • Roberto Carlos, Ronaldo e Flávio Conceição trabalharam com o técnico no Real Madrid

"Já não estava mais no clube, mas mesmo assim fiquei muito chateado na época", conta Flávio Conceição. "Pelo trabalho, ninguém entendeu a saída dele. Todos os jogadores ficaram chateados", diz.

"Em quatro anos foram quatro títulos importantes. Era um time cheio de estrelas e Del Bosque nunca teve problema de liderança dentro do vestiário. Agora, aquela era uma época de marketing. O Real Madrid, durante a presidência de Florentino Pérez, queria se converter em um time global, capaz de ter fãs nos cinco continentes. Del Bosque não se encaixava com essa imagem: não falava inglês, não usava sapatos e ternos italianos nem gravatas de seda", explica o jornalista Luiz Gómez, do El País. 

Até hoje Vicente Del Bosque não esconde a mágoa com o Florentino Pérez. "É uma coisa íntima, que ninguém pode se colocar no meu lugar. Não tenho que perdoar ninguém. Não gosto de me lembrar do que passou, mas é uma dor grande", afirmou o técnico à rádio Cadena Ser, em uma das poucas vezes em que falou sobre o assunto.

A mágoa talvez se justifique pela história no clube de Madri. Foram mais de três décadas de serviço à equipe. Antes de ser técnico, jogou por 12 anos como meio-campista e venceu cinco títulos espanhóis. Depois de se aposentar, trabalhou nas categorias de base, sendo por 15 anos diretor da "La Fábrica", como é conhecido o centro de formação de jogadores.

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