Para que gramado cresça a tempo, Arena Castelão consome 50 mil litros de água por dia
Roberto Pereira de Souza
Do UOL, em Fortaleza (CE)
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Divulgação
Gramado do Castelão foi plantado no último dia 19 e deverá estar pronto para uso em 60 dias
Por mais que o Estado do Ceará corra para entregar o primeiro estádio pronto para a Copa das Confederações (junho de 2013) e para a Copa do Mundo (junho de 2014), nada pode ser feito contra o fenômeno histórico da seca, que marca o sertanejo e boa parte do Estado. Apesar da ameaça de falta de água durante os eventos da Fifa, os técnicos do governo afirmam categoricamente: "mesmo que não chova em 2013, não teremos seca em Fortaleza, em 2014", disse a geóloga Maria Amélia Menezes, da empresa estatal que cuida dos sistemas de distribuição de água e recolhimento de esgoto do Estado.
A ironia parece obra de ficção: a Arena Castelão, que será entregue no próximo dia 16 (e não 17, como anunciara o governo estadual), com a presença da presidente Dilma Rousseff, está montada em uma área crítica de abastecimento de água. Para manter o gramado verdinho, macio ao toque das chuteiras, o complexo já está consumindo 50 mil litros de água por dia.
A Grande Fortaleza (que engloba 15 municípios) tem 98% de rede de abastecimento instalada, mas alguns bairros, incluindo a área do Castelão, sofrem com a baixa pressão da tubulação de quase meio século.
No Estado, o quadro é sombrio: 174 cidades (de um total de 184 municípios) vivem sob decretação oficial de emergência, devido à seca brutal que assola o Ceará.
Mas nada parece tirar o otimismo dos técnicos da Cia de Água e Esgotos, mesmo sabendo que os eventos da Fifa farão aumentar a demanda de água exatamente no período da seca.
"Mas se nós temos 174 cidades, de um total de 184, em estado de emergência pela seca em 2012, que garantia a senhora dá que Fortaleza não sofrerá um racionamento em 2013 e 2014?", perguntou a reportagem na última sexta-feira às autoridades estaduais.
"Sabemos por simulação e projeção de cenários de consumo. A água que consumimos vem dos Açudes Castanhão e Orós. A rede traz essa água para o açude de Gavião e de lá a tubulação segue para tratamento e distribuição urbana. A seca baixou o nível de água nos dois açudes em 25%, por isso iniciamos o trabalho de emergência no Interior", respondeu a geóloga Maria Amélia Menezes.
"Bem, se o interior não sofresse racionamento na entrega de água por caminhão-pipa, haveria seca também em Fortaleza, certo?"
"Alguns bairros da cidade sofrem interrupção no fornecimento de água em dias variados na semana, mas o problema é a tubulação, que é velha. Estamos reinstalando essa rede, não apenas devido ao impacto da Copa 2014, mas porque fizemos um plano diretor em 2006", explicou a coordenadora do programa da Cagece."Estamos trocando as adutoras da região do Castelão, uma estrutura que melhorará muito o abastecimento em outros bairros da área."
Maria Amélia e outros técnicos do governo estadual e municipal participaram na semana passada de um workshop desenvolvido com consultores ingleses ligados à ONG Useful Simple Project. A entidade é financiada pelo governo britânico e vem ajudando Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE) na elaboração e execução dos projetos de sustentabilidade nas obras da Copa.
Obras no Castelão
As gestoras ambientais inglesas Jo Carris e Judith Sykes ouviram atentamente as informações prestadas pelos ambientalistas do município e técnicos do governo estadual. Dois dados negativos ganharam destaque nos debates: metade da cidade de Fortaleza não está conectada a uma rede oficial de esgoto, mantida pela Cagece; e 25% da água que corre nas velhas tubulações subterrâneas se perde em vazamentos.
" O problema de desperdício existe em todas cidades brasileiras. Em Fortaleza, não é diferente, mas as novas tubulações devem reduzir esse problema grave", disse a geóloga Maria Amélia. Nesta representantes das 12 sedes da Copa exibirão, em Fortaleza, seus projetos de sustentabilidade em um grande painel temático.