Sem reciclagem, lixo da Copa de 2014 irá parar em aterros sanitários nas 12 cidades-sede
Roberto Pereira da Silva
Do UOL, em Fortaleza (CE)
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Secopa-CE/Divulgação
Apenas 30% do entulho gerado pela demolição do antigo estádio do Castelão (CE) foi reciclada
Nem os tratores e guindastes que roncam nas obras da Copa do Mundo de 2014 e da Copa das Confederações de 2013 conseguem abafar uma verdade ambiental assustadora: apenas Curitiba (PR) demonstra ter capacidade para cuidar da montanha de lixo que os eventos vão produzir nas sedes escolhidas para os jogos. A capital paranaense recicla, hoje, 23% de sua coleta diária, o que é visto por técnicos ingleses, que monitoram o processo de sustentabilidade das obras, como uma verdadeira façanha.
DESPESAS COMPARTILHADAS
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A exemplo do que acontecerá com a Bahia e provavelmente com outras sedes da Copa das Confederações, o Estado do Ceará também precisará de dinheiro extra para cobrir as despesas geradas pela instalação de estruturas provisórias exigidas pela Fifa para os estádios que receberão os jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo. LEIA MAIS
São essas as conclusões de uma equipe técnica da Inglaterra que, após trabalhar nas Olimpíadas de Londres, está em Fortaleza (CE) para discutir o impacto ambiental da Copa de 2014.
Durante a Copa da África do Sul, 2010, a reciclagem foi feita com duas lixeiras gigantes instaladas nos estádios, uma para resíduos orgânicos e outra para recicláveis. Durante um monitoramento, percebeu-se que os resíduos das duas lixeiras eram misturados em aterros sanitários, porque não existia, no país, um sistema de reaproveitamento de resíduo plástico, papel ou metal.
A 18 meses da Copa do Mundo e a sete meses da Copa das Confederações, a situação é crítica em 11 das 12 sedes: ninguém sabe quantas toneladas de lixo as cidades terão de recolher, como vão reciclar ou esconder em aterros sanitários.
"Se fizermos um ranking de referência, Curitiba estará em primeiro lugar, porque a cidade inteira está preparada culturalmente para isso", disse ao UOL Esporte a consultora inglesa Joe Carris, uma das responsáveis pelo projeto assinado pela ONG Useful simple, de Londres, em visita técnica a Fortaleza.
A capital cearense, Belo Horizonte (MG) e Curitiba fazem parte da entidade Iclei, com sede na Alemanha, que estuda soluções urbanas de grande impacto no meio ambiente. O monitoramento nas três sedes da Copa é feito pelo programa Carbon Foot Print (Pegada ou Rastro do Carbono, em tradução livre).
Mesmo sendo provavelmente a primeira cidade a entregar uma das arenas da Copa 2014, Fortaleza ainda sofre com a falta de um plano objetivo para cuidar do lixo da Copa. A verdade vem sendo discutida por técnicos ingleses que fazem consultoria ambiental para Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba. O custo desse trabalho é financiado pelo governo britânico e tem o aval do Planalto, em Brasília.
Durante reunião técnica realizada nesta quinta-feira, em Fortaleza, os números apresentandos não foram muito animadores. A capital cearense ainda joga boa parte de seu lixo em aterro sanitário (no município de Caucaia, na Grande Fortaleza). A parte reciclada não corresponde a 1% das 100 mil toneladas coletadas ao dia.
As representantes inglesas quiseram saber que tipo de projeto sustentável foi seguido para a construção (reforma e demolição) da arena Castelão. Três pontos foram lembrados: reutilização de água, uso de sanitário a vácuo (que economiza 80% de água) e a reciclagem do entulho gerado pela demolição de 30% do estádio antigo, utilizado na construção do piso e calçadas do estádio.
A checagem continua na próxima semana, em Fortaleza. O debate reunirá técnicos e representantes das 12 sedes da Copa.