Trabalhadores querem aproveitar atrasos em obras da Copa para garantir salário maior

Vinicius Konchinski*

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Aristides Batista/AE

    Operários da Arena Fonte Nova, em Salvador, pedem aumento de salário em assembleia-geral

    Operários da Arena Fonte Nova, em Salvador, pedem aumento de salário em assembleia-geral

Enquanto governo e empresários correm para entregar as obras para a Copa do Mundo de 2014, um grupo de trabalhadores vê nos possíveis atrasos uma oportunidade. Para os operários que trabalham na preparação do Brasil para o Mundial, a demora no planejamento do país para o torneio pode garantir a eles um salário maior daqui para frente.
 
Usar o prazo apertado para a entrega das obras da Copa como forma de pressão nas negociações salariais dos próximos anos é uma das estratégias que sindicalistas pretendem usar a seu favor. A ideia foi discutida e aprovada em uma reunião de representantes de sindicatos de trabalhadores da construção pesada de dez das 12 cidades-sedes da Copa do Mundo realizada nesta terça-feira, em São Paulo.

O QUE QUEREM OS OPERÁRIOS

Piso salarial unificado no país Para todas as obras, piso de R$ 968 mais crescimento real do setor da construção para os não qualificados (ajudante e servente). Para os qualificados, acréscimo de 30% sobre este piso
Plano de Saúde Para todos os trabalhadores das obras e extensivo aos familiares
Cesta Básica De R$ 300, paga por meio de cartão-alimentação
PLR* No valor de dois salários
Folga familiar De cinco dias a cada 60, a começar em uma segunda-feira e somando-se às folgas de sábado e domingo, para o trabalhador voltar à sua cidade de origem e ver a família
Hora extra De 80% em dias de semana, 100% aos sábados e 150% aos domingos e feriados
Ingressos para os jogos da Copa Reivindicação que será levada à Fifa. Pelo menos um ingresso para cada trabalhador dos estádios
  • * Participação nos Lucros e Resultados
  • Fonte: sindicatos das obras da Copa
 
"Podem chamar a gente de aproveitadores, mas o que interessa para o trabalhador é o salário. E o salário tem que aumentar", afirmou Raimundo Gomes, presidente do Sintepav-CE, que representa os trabalhadores do Castelão, estádio da Copa de Fortaleza.
 
Gomes participou da reunião desta terça. Logo após o encontro, ele disse que os sindicatos de todo país estão unidos em busca de melhorias da remuneração e das condições de trabalho para os operários das obras do Mundial. Por isso, eles fecharam uma pauta conjunta de reivindicações. Essa pauta foi entregue ao governo e empresários no início de março. Depois da Páscoa, a resposta dos patrões começará a ser cobrada.
 
"Após o feriado, já temos mobilizações marcadas no Ceará. Lá, a data-base da categoria é no mês de abril", disse o sindicalista. "Temos acordos com os sindicatos de todo Brasil. A partir de agora, o pedido de um é o pedido de todos."
 
Os sindicatos cobram dos empresários um piso salarial unificado para todo país, além de aumento do valor da cesta básica paga a eles, do aumento número de folgas e outros benefícios. Cobram ainda ingressos para os jogos do Mundial.
 
Atualmente, a diferença entre os salários pagos aos operários do Sul e Sudeste e o que recebem os operários do Norte e Nordeste é o que mais incomoda os trabalhadores. De acordo com Maurício Rombaldi, coordenador da Internacional dos Trabalhadores da Construção da Madeira, ela chega cerca de 20%. No Rio, por exemplo, um operário do Maracanã ganha no mínimo R$ 970. Já o operário do Castelão ganha R$ 690.
 
"Não há razões para um discrepância deste tamanho", afirmou Rombaldi. "Nós vamos fazer pressão para resolver isso e claro que o prazo para a entrega das obras vai ser usado como ferramenta na mesa de negociação. Se houver uma greve, a situação de algumas cidades-sede estará comprometida."
 
Ele ressaltou, porém, que ainda é cedo para se falar em greve geral nas obras da Copa. A pauta de reivindicações conjunta, disse ele, foi bem recebida pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o Ministério do Trabalho e a Secretária Geral da Presidência da República. Para Rombaldi, cabe agora aguardar que ela se transforme em melhorias.
 
*Colaborou Vinícius Segalla, do UOL, em São Paulo
Obras da Copa
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