Copa: só 20% do efetivo necessário para segurança nos estádios têm treinamento

Renata Mendonça e Luis Kawaguti

Da BBC Brasil em São Paulo

Faltando menos de dois meses para a bola rolar na Copa do Mundo do Brasil, o número de seguranças privados no país com o treinamento necessário para atuar dentro dos 12 estádios que abrigarão o torneio corresponde a apenas 20% do total exigido pela Fifa.

Dos 25 mil vigilantes privados previstos pelo Comitê Organizador Local da Copa (COL) para cuidar da segurança dos jogos do mundial, somente 5.084 em todo o país já passaram pelo curso de extensão de Segurança em Grandes Eventos e estão com a documentação em dia, segundo levantamento feito pela Polícia Federal a pedido da BBC Brasil.

Fontes do setor dizem temer que o treinamento seja feito de forma corrida ou mesmo que não seja possível concluí-lo antes do início do mundial. Os vigilantes que não tiverem o certificado do curso serão impedidos de entrar nos estádios pela Polícia Federal, que já está fiscalizando as empresas contratadas pela Fifa.

Se não houver seguranças suficientes prontos a tempo, o plano de contingência do COL é que forças de segurança pública assumam a função. Porém, autoridades organizadoras e empresas de segurança envolvidas dizem estar confiantes de que o treinamento dos seguranças será concluído no prazo.

Atualmente o Brasil tem cerca de 220 centros de formação de vigilantes. Eles terão que treinar aproximadamente 20 mil profissionais em menos de 40 dias para cumprir as exigências da Fifa. Cada turma pode ter no máximo100 alunos e deve cumprir 50 horas de aulas.

Para o COL, a data limite para a apresentação dos seguranças é 21 de maio, quando começa o período de "exclusividade" pedido pela Fifa para poder testar operações nos 12 estádios antes do pontapé inicial da Copa, no dia 12 de junho, em São Paulo.

"Eles (seguranças) com certeza vão estar treinados. O comitê está acompanhando esse trabalho, nós estamos bem tranquilos", afirmou o gerente de segurança do COL, Hilário Medeiros, à BBC Brasil.

Algumas das funções desses seguranças contratados pelo COL e pela Fifa serão fazer a proteção das delegações nos hotéis e, principalmente, atuar como "stewards" nos estádios - uma espécie de segurança e atendente ao mesmo tempo.

A necessidade do curso de extensão para a formação desses profissionais foi instituída em uma lei de dezembro de 2012 e vale não só para jogos de futebol, mas para qualquer evento com mais de 3.000 participantes.

Na Copa das Confederações, a exigência não foi colocada em prática por falta de tempo, mas todos os stewards que atuarão na Copa do Mundo precisam passar pelo curso.

Polícia no estádio

"Se faltar segurança privada (durante a Copa), faremos o emprego da segurança pública, da segurança armada. Mas estamos trabalhando para ter certeza que não vamos ter esse problema", afirmou Medeiros.

Na prática, isso significa colocar membros das forças de segurança para exercer a função inicialmente prevista para vigilantes privados.

Recurso semelhante foi usado na Olimpíada de Londres em 2012, quando a empresa privada de segurança não forneceu os agentes necessários ao evento e as forças de segurança britânicas assumiram a função.

"Acreditamos que as empresas contratadas serão capazes de recrutar os agentes com a qualificação necessária. Caso isso não seja possível, estudaremos as alternativas e como implementá-las", afirmou o COL em nota.

A entidade não detalhou, no entanto, como seria um eventual uso das forças de segurança nos estádios. Se os policiais agiriam fardados, em que parte do estádio ficariam ou se usariam armas, por exemplo.

Atrasos

A oficialização da contratação as nove empresas que serão responsáveis por fornecer o efetivo da segurança privada para o torneio só ocorreu em março.

Segundo um profissional de uma das maiores empresas de treinamento de São Paulo, boa parte das empresas de segurança que negociavam com a Fifa esperou a formalização do contrato para ter garantias e começar a pensar em treinar seu pessoal, o que já resultaria em atraso.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Vigilantes, Francisco Lopes, a Polícia Federal deu uma autorização especial para que as empresas de treinamento organizem turmas com até 100 vigilantes. Normalmente, ao menos em São Paulo, as turmas têm menos da metade desse número de alunos.

Os cursos também poderão ser ministrados fora dos edifícios das empresas, o que na prática significa que as companhias devem alugar auditórios para ministrar as aulas de formação. Lopes afirmou que a medida não compromete a qualidade do curso e que o treinamento pode ser concluído a tempo.

Ele afirmou ainda que empresas em Belo Horizonte e Brasília já estariam adiantadas no treinamento, mas outras cidades que sediarão jogos (ele não citou quais) estariam enfrentando dificuldades para treinar o contingente necessário.

Assim, disse ele, as empresas de formação estariam prontas para fornecer o treinamento. No entanto, as empresas contratadas pelo COL estariam enfrentando dificuldades para enviar seus vigilantes para o treinamento.

"Vou ter que tirar um vigilante que está atuando em uma empresa, vou tirá-lo do posto dele e vou colocar ele para fazer esse curso que é de cinco dias", disse um gerente de uma das empresas. Segundo ele, a substituição do profissional no atual posto de trabalho por outro vigilante é um dos fatores que dificultam seu treinamento.

Para o Comitê Organizador, porém, haverá tempo suficiente para as empresas treinarem o efetivo necessário. "A legislação não foi feita para a Copa do Mundo, ela já entrou em vigor em 2012 para qualquer evento de mais de 3000 pessoas. E a gente contratou empresas que garantiram que todos estariam formados, estamos acompanhando essa formação", disse Medeiros.

"Nossos gerentes de sede estão acompanhando como as escolas estão fazendo o calendário de treinamento, tenho conversado com as empresas. Caso as empresas não formem os agentes de imediato, não será feito o pagamento e vamos atrás de outras empresas".

Stewards

O uso dos seguranças privados na função de "stewards" será em parte novidade para os torcedores brasileiros, acostumados com a presença de policiais militares nos estádios em jogos dos campeonatos nacionais e regionais.

Os stewards foram usados em menor escala na Copa das Confederações. Eles fazem parte de um modelo de segurança adotado mundialmente pela Fifa. São agentes privados contratados para recepcionar os torcedores nos estádios e auxiliá-los durante o jogo, indicando o assento ou explicando como chegar aos bares e banheiros.

Eles também têm a atribuição de tentar conter pequenos tumultos, recolher cartazes com mensagens políticas e impedir filmagens irregulares e eventuais invasões de campo.

Mas apesar da presença deles, os organizadores planejam manter policiais militares em locais estratégicos nos estádios. Eles poderão ser acionados caso os stewards não consigam resolver determinadas situações de conflito.

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