Escrevo esse texto cruzando o Atlântico. No avião, sob um mar que parece um céu, e um céu que parece Deus, penso que geografia é também uma matemática. Sabe quando a distância te ajuda nas contas? Naquela lista invisível, e eventualmente opressora, de tudo que você ainda é, mesmo depois de anos...
Não, eu não sei mais que dia é hoje. Nem do mês e nem da semana. Também já não sei bem como me chamo e nem o porquê de estar me sentindo assim. "Mas assim, como?" Então, esse é o problema. Mais um "não sei" para minha coleção de verão.
Quando Ayrton Senna morreu em frente aos televisores de um Brasil em suspenso, eu tinha 18 anos. Ao lado da minha melhor amiga em um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, lembro da cena: nós duas no sofá tentando compreender como era possível estar tudo ótimo em um segundo e ficar tudo péssimo...
De uns tempos para cá, tenho consolado, com alguma frequência, um amigo recém-separado. Conheço sua dor, tenho intimidade com ela, a respeito, e por pouco - talvez porque seja esse o trabalho do ator - não a sinto como minha.
De uns tempos para cá, tenho consolado -com alguma frequência- um amigo recém-separado. Conheço sua dor, tenho intimidade com ela, a respeito, e, por pouco - talvez porque seja esse o trabalho do ator - não a sinto como minha.
Do quarto ouvi um grito: 'Não é possível, isso é roubo'. A frase, saída da boca do meu filho, tinha um tom assertivo e uma tristeza evidente, mas eu, vinda de outro cômodo (e praticamente de outro planeta), demorei a entender o contexto.
Penso na morte todos os dias. E não como uma coisa triste, quer dizer, claro que a morte é triste, principalmente se é algo que vem "antes da hora", como o caso do cantor britânico Liam Payne, do One Direction. E mesmo em circunstâncias menos trágicas, é difícil escapar da dor de perder alguém...
Eu tinha sete anos de idade e já pensava em casamento. Lembro que tinha uma brincadeira que era bem comum na minha escola, em que a gente colocava no papel três 'projetos de futuro' e ia fazendo uma espécie de 'Uni, Duni, Tê' amoroso e familiar.
"Mulher é inteligente. Mulher não vota em mulher." Não era nem meio-dia quando a frase do Pablo Marçal no debate do UOL com os candidatos à Prefeitura de São Paulo invadiu as redes e, consequentemente, todas as partes do meu corpo (e não só o cérebro). Isso porque eu voto no Rio de Janeiro...
Primeiro, eu queria agradecer. Porque isso que a gente criou junto aqui -uma coluna falada, onde a troca é real e comovente-, pelo menos do meu lado da tela, tem sido uma verdadeira ilha de certeza. Em meio à absoluta falta de garantia da vida, nada como encontrar dois ou três lugares para pousar a...
Tive um mês difícil. Meio anti-Instagram, digamos assim. Ao mesmo tempo, vi coisas lindas: a peça do Othon Bastos, a exposição do funk no mar, o último filme do Wim Wenders, uma livraria ser desfeita (as vezes triste também é lindo).
Sempre quis ser mãe. Mas entendo, cada vez mais, minhas amigas que optam por não ter filhos. No meu caso, embora tenha sido muito feliz nessa viagem extraordinária que é ver o desenvolvimento de duas pessoas, também preciso dizer o tanto de vezes em que me senti sozinha.
'Pode chorar?' Essa foi a primeira pergunta que ouvi de uma amiga que entrevistava um dia desses para um documentário. Tomei um susto. Assim que começamos a conversar ela pediu, seríssima, autorização para algo que nos é liberado - e estimulado - desde o instante zero, mas que, por algum motivo, em...
"Lá vem você, ser igual a todo mundo e produzir mais um texto sobre a Rebeca. Ô pessoa com talento para arquibancada. Mas ó: nada de pauta feminista, tá? Que ninguém mais aguenta esse papo de diversidade e igualdade de gênero. Será que não dá para celebrar sem militar?"
Eu sei, talvez você nunca me perdoe. E já faz mais de uma semana, ou seja, a cada dia que passa a minha situação fica pior. Mas sabe quando o calendário anda rápido demais e quanto mais você tentar alcançá-lo, mais você se dá conta de que já perdeu totalmente qualquer possibilidade de conserto?
Assim que as cortinas do teatro se fecharam eu comecei a organizar meus pensamentos. Às vezes leva tempo para conseguir, de fato, compreender onde se está depois do impacto de uma obra. Quer dizer, o endereço eu sabia, era "Sesc 14 Bis", eu havia dito ao taxista uma hora e meia antes, orgulhosa...