Primeiro, eu queria agradecer. Porque isso que a gente criou junto aqui -uma coluna falada, onde a troca é real e comovente-, pelo menos do meu lado da tela, tem sido uma verdadeira ilha de certeza. Em meio à absoluta falta de garantia da vida, nada como encontrar dois ou três lugares para pousar a...
Tive um mês difícil. Meio anti-Instagram, digamos assim. Ao mesmo tempo, vi coisas lindas: a peça do Othon Bastos, a exposição do funk no mar, o último filme do Wim Wenders, uma livraria ser desfeita (as vezes triste também é lindo).
Sempre quis ser mãe. Mas entendo, cada vez mais, minhas amigas que optam por não ter filhos. No meu caso, embora tenha sido muito feliz nessa viagem extraordinária que é ver o desenvolvimento de duas pessoas, também preciso dizer o tanto de vezes em que me senti sozinha.
'Pode chorar?' Essa foi a primeira pergunta que ouvi de uma amiga que entrevistava um dia desses para um documentário. Tomei um susto. Assim que começamos a conversar ela pediu, seríssima, autorização para algo que nos é liberado - e estimulado - desde o instante zero, mas que, por algum motivo, em...
"Lá vem você, ser igual a todo mundo e produzir mais um texto sobre a Rebeca. Ô pessoa com talento para arquibancada. Mas ó: nada de pauta feminista, tá? Que ninguém mais aguenta esse papo de diversidade e igualdade de gênero. Será que não dá para celebrar sem militar?"
Eu sei, talvez você nunca me perdoe. E já faz mais de uma semana, ou seja, a cada dia que passa a minha situação fica pior. Mas sabe quando o calendário anda rápido demais e quanto mais você tentar alcançá-lo, mais você se dá conta de que já perdeu totalmente qualquer possibilidade de conserto?
Assim que as cortinas do teatro se fecharam eu comecei a organizar meus pensamentos. Às vezes leva tempo para conseguir, de fato, compreender onde se está depois do impacto de uma obra. Quer dizer, o endereço eu sabia, era "Sesc 14 Bis", eu havia dito ao taxista uma hora e meia antes, orgulhosa...
Recentemente, eu comecei a falar sobre menopausa. De cara, percebi que o tema gerava um certo espanto. Como se eu estivesse cometendo um ato meio suicida, de falar, em primeira pessoa, sobre o corpo feminino.
"E, aí? Conta! Ela é legal? Você se identificou?". Nos últimos dias, essa foi a pergunta que mais ocupou minha caixa postal. E não, não foi dessa vez que eu troquei áudios jurídicos com meus amigos advogados a respeito de nenhuma lei específica. Legal, no caso, queria dizer "do bem', e, não,...
Eu não ia contar, mas vou: eu sou muito ansiosa. Mal dormi. Quase liguei para Tata Werneck - a voz da ansiedade em 'Divertidamente 2' (que ainda não vi, mas é só no que penso). Além da menopausa, que também está me dando insônia, mas esse é outro assunto. Ou não, já que a pauta é a ansiedade.
Acordei às quatro da manhã. Meu filho ia viajar com a escola e tínhamos que madrugar no aeroporto. No saguão do embarque, mães e pais observavam seus filhos prontos para mais uma mudança. Para mais uma despedida. Para mais uma separação. De poucos dias, é verdade. Mas qual a conta dessas horas?
Usei meu vestido de noiva duas vezes. A primeira, obviamente, no dia do meu casamento. A segunda, para fazer um filme na Avenida Paulista, em São Paulo, é claro. O cenário, como bem provou a Parada Gay do último domingo, pode vir repleto de cenas de amor, e quem dera fosse sempre assim. Mas, como...
Sou atriz há 30 anos. Não sei exatamente qual foi o momento em que decidi que essa seria a palavra que iria me definir em fichas de hotel, mas tive uma ideia dois dias atrás. Vendo o Fantástico, naquela desatenção absolutamente sagrada que parece sobrevoar as tevês de domingo à noite. Como se a...
Afinal, chegamos à vida adulta. Ao admirável mundo das pesquisas de opinião. Do deus algoritmo. Das fórmulas ultratestadas. Dos pensamentos replicados. Do "vê se tem mercado pra fazer o que você acredita". Do medo total e absoluto de ser diferente ou original. De atender aos chamados do silêncio,...
Nunca fui boa de dormir fora de casa. Eu me lembro, quando criança, de ver minhas amigas fazendo planos de festa do pijama e de já sentir meu coração acelerando desde ali. Porque eu já sabia, e morria de culpa por isso, que muito provavelmente eu não seria capaz de atravessar a noite com elas. Não...
Volta e meia eu ouço as minhas amigas reclamando ou de cólica, ou dos sintomas da menopausa, ou das consequências da maternidade. Eu entendo todas as queixas, gente. Eu já passei por todas elas. Agora, eu estou entrando na menopausa. Mas eu acho que a questão, para mim, acaba se resumindo em uma...
Eu não ia na Madonna. Por um misto de preguiça com mansidão, tinha decidido ver pela televisão. Pelo menos foi assim que fiz minha cabeça e nada como dar aquela força para o cérebro, trocando ansiedade por aceitação.