Com um celular na mão e alguma opinião na cabeça, as redes sociais foram inundadas por "críticos gastronômicos" cheios de opiniões sobre os restaurantes que frequentam.
Os 50 melhores restaurantes da América Latina, os 101 bares mais imperdíveis do mundo, os 100 melhores chefs de todo o planeta: na gastronomia, vivemos em um mundo (cada vez mais) dominado por rankings.
Na dieta hiperglobal que dominou nossos pratos em todos os cantos do mundo, a quantidade de espécies animais que comemos cotidianamente não passa de uma dúzia.
A feijoada não foi criada pelos escravos, os doces portugueses feitos de gemas não eram segredos mantidos a sete chaves por freiras cozinheiras e a pizza, como a conhecemos, nasceu nos Estados Unidos, não na Itália.
Em gastronomia não existe nojo ou preconceito. Ou, ao menos, não deveria existir. Há sempre alguém que tem como hábito comer aquilo que a gente repudia, detesta, abomina.
Das 6 mil espécies de plantas que os humanos consumiram ao longo do tempo, nossa sociedade agora come diariamente apenas nove — das quais apenas três (arroz, trigo e milho) fornecem 50% de todas as calorias que ingerimos.
Cinco anos depois do anúncio de seu suicídio em um hotel na França aos 61 anos, Anthony Bourdain segue como um dos nomes mais influentes da gastronomia mundial.
Basta olhar os livros que contam a história da gastronomia no mundo: não há nome de mulheres cozinheiras ou registros de suas passagens pelas cozinhas profissionais.
Depois dos "chefs capas de revista", e dos "chefs-filósofos", vivemos a era dos chefs-ativistas, aqueles que sujam as suas Crocs nas ruas em prol de movimentos e causas humanitárias.
Restaurantes possuem um lado amargo: chefs tóxicos que não aceitam erros proliferam nas cozinhas. Em nome de pretensas agilidade e perfeição, eles praticam assédios, humilhações e até agressões físicas em cozinheiros.
O nome do restaurante — Trippa — não foi uma escolha ao acaso, claro. E a seleção do menu, pouco convencional para outras trattorias de Milão, também não.