Defender Depardieu é o mesmo que dizer: está liberado violar mulheres
O sucesso mundial de uma figura pública carrega muitos poderes. Um deles é o de ser exemplo, ditar comportamentos, mostrar o que é socialmente aceito ou não.
O sucesso mundial de uma figura pública carrega muitos poderes. Um deles é o de ser exemplo, ditar comportamentos, mostrar o que é socialmente aceito ou não.
É necessário um exercício de linguagem para discutir um tema que divide o país. A pergunta não é: você é a favor ou contra o aborto?
A desigualdade de gênero vem de berço, sustentada pela própria legislação brasileira. Para não parecer que digo isso por ser mulher, citarei um homem para explicar meu ponto.
Thiago Brennand não é um psicopata. Evandro Guedes não é um monstro. O policial militar que matou a própria esposa a tiros no meio da rua não é uma exceção.
Negar, atacar e inverter os papéis de vítima e agressor. Essa estratégia tem nome: Darvo, na sigla em inglês (deny, attack and reverse victim and offender). Quanto mais avança a luta das mulheres pelo direito à própria dignidade, mais essa tática é usada por homens denunciados por abusos.
Há algo de podre no reino de Santa Catarina. Ali, bem debaixo dos nossos narizes, uma jornalista — mulher — foi condenada a um ano de prisão em regime aberto e a uma multa de R$ 400 mil, desproporcional à sua renda, por fazer o seu trabalho.
Aviso de gatilho: este conteúdo pode ser perturbador para quem já passou por situações de violência
Quando a nutricionista e apresentadora Mariana Goldfarb expôs, para 1 milhão de seguidores, ser uma sobrevivente de relacionamento abusivo, já havia comentaristas de plantão para defender o seu ex:
A Justiça guarda uma armadilha para quem é mãe e vítima de violência doméstica. Quando ela decide se separar e denunciar o agressor, precisa lidar com processos em diferentes setores.
As disputas entre as milícias no Rio de Janeiro, dominadas por homens com apelidos que remetem a ficção científica, animais selvagens e virilidade, me fazem lembrar de uma declaração do especialista no tema Bruno Paes Manso.
Neste texto, trato de um dos temas que eu, como jornalista, mulher e mãe, tenho mais dificuldade em abordar. Digo isso como forma de alerta: o assunto pode gerar angústia e sofrimento na leitora e no leitor.
"Olha a Elis aí: ela é um ananás (ou abacaxi-ornamental). Toda espetante, como a Elis era. E ao mesmo tempo deslumbrante. Da forma dela de espetar, de repente nasce a cor, a beleza. É um abacaxi, mas é um abacaxi vermelho, não o abacaxi da feira. Essa (bromélia) é a cara da Elis."
Quando Helena Lahis pediu o divórcio, após mais de 20 anos de casamento, ouviu de sua família que estava possuída. O seu marido era um alto executivo de uma das maiores gravadoras do país, o casal tinha duas filhas, a vida era perfeita: ela só podia estar louca.
Você pode ser estuprada por alguém que conheceu no Tinder? Eu sei a resposta, você também. Mas a Justiça não tem certeza.
Em dezembro se completam cinco anos desde que João Teixeira de Faria, o então celebrado médium João de Deus, foi denunciado pela imprensa pelos abusos sexuais cometidos no centro espiritual que recebeu Xuxa, Oprah, juízes e governadores.
Em agosto, o Supremo Tribunal Federal proibiu o uso da tese da legítima defesa da honra para defender assassinos de mulheres. Em seu voto, a ministra Cármen Lúcia afirmou que, mais do que uma questão jurídica, essa é uma questão de humanidade.
A escalada de violência relatada pela ex-namorada do jogador Antony em reportagem de Beatriz Cesarini e Pedro Lopes é tristemente comum, e não há nada no comportamento dela que justifique as demonstrações de posse e ódio dadas por ele.
Ansiosas, irritadas, estressadas e com medo. Esgotadas. Essa sensação que a gente tem de estar sobrecarregada, de que não vai dar conta e de que ainda por cima não atende aos chamados padrões estéticos é coletiva.
A violência de gênero tem uma peculiaridade. Mesmo quando acontece em frente às câmeras, há quem questione se o ato foi criminoso, se a vítima poderia ter feito algo para evitar a situação.
Semana sim, outra também, perfis de feministas que combatem o ódio às mulheres recebem ameaças e ataques digitais, muitas vezes coordenados.