Topo

Copa 2018

Tite diz que busca características específicas para decidir lista da Copa

Tite comanda treinamento na véspera de Brasil x Rússia - Pedro Martins/Mowa Press
Tite comanda treinamento na véspera de Brasil x Rússia
Imagem: Pedro Martins/Mowa Press

Danilo Lavieri e Dassler Marques

Do UOL, em Moscou (Rússia)

22/03/2018 13h53

A menos de dois meses de escolher os jogadores que vão à Copa do Mundo, o tema convocação paira sobre Tite até mesmo na véspera do amistoso contra a Rússia, marcado para 13h (de Brasília) de sexta-feira. O treinador explicou alguns critérios que levará em conta para atender as necessidades que a equipe pode ter em um torneio curto, de sete jogos no máximo. Um deles é a busca por atletas com características específicas. 

"Willian José e Talisca têm um componente diferente, que não tínhamos na seleção. São características diferentes além de nome. Eles emprestam uma forma, uma característica e uma qualidade diferente do usual. Cabeceiam muito. As finalizações do Talisca de bola aérea são muitas. Mais de 40% dos gols do Willian José foram de cabeça. Ele traz um componente do pivô. Emprestam situações que podem ser um complemento", explicou Tite - os dois devem ser reservas em Moscou. 

O treinador também falou sobre como lida com a dúvida. "É um grau de dificuldade muito grande. Não adianta querer ser sutil e simpático. Vai ser muito difícil pelo tempo de preparação, só 19 jogos, não tenho condição de 'oportunizar' todos. Sou repetitivo, mas é a mais pura verdade. Aumento o número de convocados para que a possibilidade seja maior", disse sobre os 25 chamados para os amistosos em março. 

"Vejo treinamentos e acompanhamentos, a versatilidade, os bons momentos...acompanhamos jogos e treinos, então vai se contabilizando para não pegar só dois jogos. Mas, tudo isso vou colocar na balança e escolher dentro da necessidade de uma característica específica. Ser versátil pode pesar, sim. Como pode pesar ser um jogador específico, sim. Não se improvisa zagueiro, a margem de acerto tem que ser muito alta, é a última instância, como goleiro, de se corrigir um erro", complementou. 

Confira mais declarações de Tite:

A Rússia pela frente
A preparação nossa traz componentes importantes para a Rússia. Primeiro o contato da seleção com o país sede, o povo russo, nos aproximarmos, vermos, o lado humano, sabermos que mais que competir o esporte também agrega. Estarmos não só no clima do frio, mas humano também, da energia, atmosfera de preparação para a Copa. Tem um grau de dificuldade, a qualidade que tem na Rússia independe de linha de cinco ou de quatro. Empatou em 3 a 3 com a Bélgica, 3 a 3 com a Espanha, perdeu de 1 a 0 para Argentina e teve a possibilidade de gols. A Rússia traz um grau de dificuldade alto independente do sistema. 

Escalação do Brasil
Temos atletas de alto nível, eles competem. Aprendi que técnico de seleção é diferente de técnico de clube. Às vezes, o jogador não está bem no clube, aqui é um tom acima. Um está bem, mas outro está melhor. São atletas de alto nível jogando muito nos seus clubes. Willian saiu do time [em 2016], Coutinho estava arrebentando, mas ele não estava mal. Agora o Willian vem muito bem no seu clube.

Neymar fora
Primeiro que Neymar é insubstituível. Pelo alto nível, qualidade que tem, pelo top 3 que é. E Douglas Costa não vai substituir o Neymar, vai ser o Douglas Costa. Vai ligar com a pergunta da capitania, tem que assumir responsabilidade enquanto equipe de ser forte. Não posso colocar responsabilidade nas costas do atleta mais midiático. O Kaká deu uma entrevista emblemática em que diz que só foi melhor do mundo porque equipe estava bem. Quando fala da força da equipe, passa uma coisa que é verdade. A equipe precisa ser forte eventualmente forte. Não gostaríamos que tivesse acontecido com ele, com Filipe Luís e com Alex Sandro.

Sistema tático em Moscou
Na fase ofensiva, é 4-3-3. Sem abrir mão de um meio-campo forte, com sempre um dos jogadores voltando. Isso passa por imposição no meio, na capacidade criativa, lúdica. O meio traz isso e um jogador vai compor o meio. Não tem teste nenhum, é oportunidade e quem não estiver bem terá substituto.

Livro para os jogadores
Usei o artifício, uma característica minha desde o Guarani de Garibaldi em dar leitura aos atletas. É uma troca de experiências, uma linguagem do futebol em que o atleta se sente bem, se sente motivado a ler, tem diversos livros. Já dei mais de dez livros diferentes para fomentar o hábito da liderança, são exemplos de atletas importantes. Ele é um desenho da comissão técnica, não só meu. Temos mensagens importantes que podem ser passadas, situações, exemplos. O livro é liderar com coração. Se eu pudesse mudar o título, seria liderar com coração e razão. 

Thiago Silva na equipe
Tem alguns jogadores que competem em altíssimo nível e devem competir com respeito. E que jogam em alto nível em suas equipes e seleção. Thiago Silva têm 500 e poucos minutos. Miranda e Marquinhos têm mil e poucos. E tem outro zagueiro que está sendo disputada a vaga. É a realidade. Temos avaliação também dos clubes: Marquinhos, dos últimos 28 dias até agora, jogou um jogo e voltou a sentir de novo. Ele só esteve disponível em um jogo, e não participou. O Thiago fez os últimos oito jogos seguidos. Está jogado. A disputa é em alto nível. A comissão precisa ser justa em relação ao nível das equipes. O Miranda voltou nos últimos dois jogos.

Como adaptar o jogador à realidade da seleção
Sem tempo necessário de treinamento, pode estourar um atleta, é desafiador. Tentamos, de alguma forma, em vídeos representativos dos outros jogos trazer o atleta para mostrar. A saída de bola sustentada, se errou sempre tem cobertura. Vai atacar com quantos no campo adversário? Agora, mostrei jogadas certas e erradas do jogo contra a Inglaterra [novembro] para tentar remeter. Essa retomada, o quanto vai ser desafiadora, me deixa inquieto porque não tenho rotina de seleção e me gera expectativa. Posso encher o saco, passar informações demais, porque aí enche o ouvido dos atletas.

Copa 2018