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Sabe o Skavurska? Ainda não lembraram dele para a Copa na Rússia

Alvaro Thuler como Boris Tutchenko em comercial da NET que popularizou o "skavurska" - Reprodução YouTube
Alvaro Thuler como Boris Tutchenko em comercial da NET que popularizou o "skavurska" Imagem: Reprodução YouTube

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/03/2018 04h00

Um dos personagens mais marcantes da publicidade brasileira em anos recentes está à procura de trabalho. Nada excepcional em um país com 12% de taxa de desemprego, não fosse por um detalhe: o ator Alvaro Thuler encarnou o coronel russo Boris Tutchenko, o “skavurska” da propaganda da operadora NET.

“Eu imaginava que, com a Copa na Rússia, iria sobrar algum trabalho pra mim”, diz o ator. “Achei que fossem me procurar. Eu não falo russo, mas a gente aprende, né?”, avisa Thuler, em um tom que mistura descontração com desapontamento.

Thuler explica que, por questões contratuais, não poderia fazer o “Skavurska” para outra empresa. Mas nada impede que ele encene outro personagem “russo”.

O ator de 55 anos vive na Zona Sul de São Paulo e fez diversos comerciais e peças de teatro após o fim da campanha. O personagem Boris Tutchenko, um coronel russo gordo e bonachão, teve o auge da popularidade em 2008.

No comercial, ele dizia “skavurska” como uma palavra supostamente russa. O termo não significa nada, mas funcionou como estratégia de marketing: surgiram times e bandas com esse nome, e até hoje é possível encontrar, em fóruns e sites, gente perguntando seu significado.

Comerciais e teatro

“Duas semanas depois que os comerciais começaram a passar, eu não podia sair na rua que já me chamavam de skavurska”, lembra Thuler. Apesar de a fama ter passado, ele não deixa seu personagem mais famoso morrer. Ao trocar mensagens pelo WhatsApp, por exemplo, sempre termina escrevendo “skavurska”.

O ator calcula que fez em torno de dez comerciais, além de muitos vídeos institucionais, desde o fim do coronel russo. Também esteve em peças de teatro como “Amigos, amigos...mulheres à parte”, que ficou três meses em cartaz ano passado. Se pudesse, Thuler viveria do teatro, onde ele acredita estar a essência do trabalho de um ator.

“Era uma comédia, mas que falava dessa questão genética, de parente se relacionar com parente”, diz o ator sobre sua última peça. “Um amigo, o Tuca Miranda, escreveu a peça. Um parente da mulher dele casou prima com prima e uma delas está ficando cega e surda”, conta Thuler, explicando o enredo.

“Tempero de pobre”

Ele mantém o bom humor e a simpatia mesmo ao falar dos altos e baixos da vida de um ator veterano. Repete várias vezes que é extremamente grato à NET pela oportunidade, mas admite que ser tão associado a um personagem o atrapalhou em alguns momentos. “Nunca me disseram em um teste que não iam me chamar por causa disso. Mas a gente sente, né?”, diz.

As lembranças da infância pobre – o pai era mestre de obras – são enfatizadas por Thuler na hora de explicar o porquê de ele evitar reclamar da vida. “Conhece tempero de pobre? Chama fome”, diz ele. “Quando eu era moleque e não queria comer, por exemplo, arroz com ovo, meu pai guardava o prato e dizia que, quando o ´tempero de pobre batesse`, eu ia querer comer. Era o que acontecia.”

O ator também gosta muito de contar casos. Um de seus preferidos é sobre quando foi parado pela polícia na estrada. Um dos policiais o reconheceu, e comentou com o colega que aquele era o “coronel”. O policial então bateu continência para Thuler, acreditando que ele fosse de fato um coronel. “Quase atravessei a estrada de tanto rir.”

Apesar de “skavurska” ser uma palavra inventada, o ator conta que um grupo de russos “de verdade” ajudava nas gravações do comercial. “Quando fui fazer o teste, não dancei nem fiz o sotaque russo. Não manjava nada de Rússia. Depois os caras foram me passando isso”, explica.

Goleiro de pelada e amigo de boleiros

A relação do coronel Boris Tutchenko com o futebol, porém, vai além do fato de que neste ano teremos uma Copa do Mundo na Rússia. Thuler diz que adora acompanhar o esporte e até ano passado ainda jogava como goleiro em peladas.

A “carreira” foi interrompida por conta de um problema no joelho, mais especificamente na rótula. Por enquanto, Thuler tenta resolver com fisioterapia, porque uma cirurgia significaria três meses sem encostar o pé no chão. “Quando o médico me disse isso, pedi uma pausa e perguntei: tudo bem, doutor, mas sua mãe vai lá em casa me levar no banheiro?”.

Thuler lamenta também a palmilha especial que precisou comprar. “Custou 380 paus. Só aí já foram umas dez garrafas de vinho.”

Além disso, o ator foi amigo pessoal do meia Carlos Miguel, ex-Grêmio e ex-São Paulo. “Acompanhei toda essa transação do Grêmio para o São Paulo, fui ao casamento dele”, conta Thuler. Os dois se conheceram em uma quadra na capital paulista, onde o ator também jogou com Milene Domingues, ex-jogadora de futebol e mãe de Ronald, filho de Ronaldo Fenômeno.

“Eu gostava muito de contar piadas nesta época. Não era stand-up comedy, era comédia em pé mesmo. E eu e o Miguel acabamos ficando amigos.”

Thuler se diz um palmeirense “não fanático”. Não gosta de tirar sarro dos outros quando o time alheio vai mal, e reclama do nível atual do futebol brasileiro. “Às vezes prefiro ver uma pelada do que uma partida. Porque, do jeito que está, está difícil.”

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