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Copa 2018

Por que uma tradição religiosa preocupa tanto o Egito no retorno à Copa

Cúper classificou o Egito à Copa depois de 28 anos - Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Cúper classificou o Egito à Copa depois de 28 anos Imagem: Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Do UOL, em São Paulo

13/03/2018 04h00

O argentino Héctor Cúper se tornou quase um herói dos egípcios no ano passado ao conseguir classificar a seleção nacional para a Copa do Mundo depois de 28 anos de ausência. Agora, a poucos meses do torneio, ele descobriu que terá uma questão a mais a resolver sobre a equipe além da lista de convocados: o jejum previsto pelo islã justamente às vésperas do Mundial.

O Egito é um dos sete países classificados à Copa na Rússia cuja maioria da população é muçulmana (os outros são Tunísia, Marrocos, Nigéria, Senegal, Irã e Arábia Saudita). Pela tradição, o Ramadã é o mês sagrado em que todo muçulmano deve se manter em jejum diariamente do nascer do sol até o pôr-do-sol.

Neste ano, o Ramadã terminará no dia 14 de junho, dia da abertura da Copa, entre Rússia e Arábia Saudita. O Egito, por exemplo, estreia no dia seguinte, quando enfrenta o Uruguai. Assim, se forem respeitar o jejum, os jogadores do time de Héctor Cúper passarão os 30 dias finais de preparação com um hábito alimentar bem diferente do habitual no restante do ano.

“Meus jogadores fazem jejum do nascer do sol até o fim do dia. E eu treino que horas? Às 5h? Não posso colocar para treinar alguém que sequer tomou alguma coisa e não tem calorias no organismo. Mas já conversamos com os médicos e vamos buscar uma saída”, alertou Cúper em entrevista ao “La Nación”.

Uma saída traçada pelo treinador é apelar às exceções permitidas durante o Ramadã. Uma delas é com pessoas que estão em viagem. Assim, a ideia é tentar convencer os jogadores a não seguir o jejum durante todo o mês que antecede a Copa.

Até o presidente da federação egípcia, Hany Abo Rida, promete interceder junto aos atletas. “Para dificultar, na Rússia o sol vai se por mais tarde, o que significa que os jogadores não poderiam comer até perto das 21h. E pretendemos chegar à Rússia cerca de uma semana antes. Por isso, faremos o possível para persuadir os jogadores a não seguirem o jejum no Ramadã”, disse ele à agência “TASS”.

O Egito, inclusive, comunicou à Fifa que terá como base na Rússia a Chechênia, região de maioria muçulmana. Estima-se que o islamismo represente a religião de uma parcela significativa da população russa (entre 6% e 15%).

Fifa quer ajudar muçulmanos

Além da preocupação das seleções com seus jogadores no Ramadã, a Fifa também já avisou que pretende ajudar os demais muçulmanos que estejam na Rússia durante a Copa. A indicação foi feita pela senegalesa Fatma Samoura, secretária-geral da entidade.

“Nós na Fifa queremos ter certeza que todos os muçulmanos, sejam jogadores, funcionários ou torcedores, tenham as informações necessárias que precisem, como, por exemplo, saber onde comprar a comida que podem ingerir ou onde rezar”, declarou Samoura, que também é muçulmana.

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