Demolido há 80 anos, estádio da Copa de 1930 atrai turistas a lavanderia
O cruzamento das ruas Charrúa e Coronel Alegre seria só mais uma esquina tranquila do bairro de Pocitos, em Montevidéu. No local, apenas uma lavanderia e um marco histórico tentam se diferenciar dos pequenos prédios residenciais ali construídos.
O marco histórico, porém, registra um importante ponto de referência do futebol mundial: ali ficava o círculo central do Estádio Pocitos, antiga casa do Peñarol e palco do jogo de abertura da Copa do Mundo de 1930. Foi no Pocitos que, em 13 de julho daquele ano, a França venceu o México por 4 a 1, graças aos gols de Lucien Laurent, Marcel Langiller e André Maschinot (dois); Juan Carreño descontou para os mexicanos.
Inaugurado em 1921 com um amistoso Peñarol 1 x 1 River Plate, o estádio há muito não existe mais - foi demolido entre 1937 e 1946 como parte do processo de urbanização da capital uruguaia. Ainda assim, quem vive por ali está acostumado à presença de turistas, que costumam dedicar alguns minutos para conhecer a esquina.
"Vem muita gente, de muitos países", conta Gianella Estevez. Aos 36 anos, é ela que cuida da lavanderia diante da qual está instalada a escultura referente ao antigo círculo central.
"Vem muita gente do Brasil, do Chile, da Argentina. Também já vi gente do Peru e da Bolívia. Aqui era o campo do Peñarol, e eles fizeram uma homenagem. Veio até o Sanguinetti", relembra Gianella. Em setembro de 2013, o Peñarol realizou ali uma cerimônia para comemorar os 122 anos de sua fundação, em evento que contou com a presença de Julio María Sanguinetti, ex-presidente uruguaio.
Por muito tempo, a esquina teve pouco destaque entre os moradores locais. Foi apenas a partir de 2002 que, diante da iniciativa do arquiteto Héctor Enrique Benech, os uruguaios passaram a buscar onde exatamente ficava o campo do Estádio Pocitos.
Em junho de 2006, a partir de imagens aéreas, foi possível determinar não apenas o local do antigo círculo central como também onde ficavam as traves nas quais Lucien Laurent fez o primeiro gol da história das Copas do Mundo.
Para marcar o centro exato, o arquiteto Eduardo di Mauro instalou ali a escultura Cero a Cero y Pelota al Medio - prêmio dado mediante um concurso promovido pela Prefeitura de Montevidéu, pelo Museu do Futebol Uruguaio e por uma conhecida companhia de refrigerantes.
O lugar onde ficavam as traves do gol de Laurent também ganhou uma escultura de Di Mauro, Donde duermen las arañas, em uma calçada residencial na própria rua Coronel Alegre, poucos metros à frente da esquina. Ainda havia o plano para levantar um monumento em um dos cantos do campo, mas o levantamento impossibilitou a iniciativa.
As homenagens, porém, não foram capazes de romper a tranquilidade da esquina, perturbada apenas pelos eventuais turistas. Na lavanderia instalada pela família "em 1973 ou 1974, por aí", Gianella trabalha sozinha, ao lado de poucas máquinas de lavar; com uma rotina pacata, é comum que converse na frente do estabelecimento com algum cliente ou vizinho que passe pela porta.
"(O local) não é muito conhecido mesmo", explica Gianella. "Creio que, no museu do futebol do Estádio Centenário, há fotos (do estádio). Não sei bem. Acho que há o mapa do campo também", acrescenta, em tom de suposição.
Passada a abertura do Mundial de 1930, o Pocitos recebeu apenas mais um compromisso do torneio: Romênia 3 x 1 Peru, pelo Grupo C. A partida, marcada para 14 de julho, recebeu cerca de 300 torcedores - o menor público da história de um jogo válido por Copas do Mundo. Três anos mais tarde, o Peñarol adotou o Estádio Centenário como casa, ajudando a escrever os últimos capítulos do Pocitos.
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