Os bons moços

Quem são os pilares da seleção brasileira
Julio Cesar

Vinícius Mesquita
Em São Paulo

Há mais de dois anos, quando o atual grupo da seleção ainda estava em construção, o calculista Dunga não se conteve e desabafou: “Os torcedores deveriam bater palmas e gritar pelo nome de Julio Cesar”. O treinador brasileiro disse isso após a vitória do Brasil sobre o Uruguai, por 2 a 1, pelas eliminatórias da Copa, no Morumbi.

Pensamento positivo

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Goleiros consagrados, como o palmeirense Marcos e o italiano Luca Marchegiani, também já apontaram Julio Cesar como o melhor do mundo na atualidade.

No ano passado, o então treinador da Inter de Milão, José Mourinho, encantado com as atuações de Julio Cesar, disse a diretoria que não precisava se preocupar em conseguir reforços para o gol e impediu que o clube fizesse uma grande contratação: “Buffon é um grande goleiro, mas a Inter não precisa.”

Até a Fifa abdicou de sua tradicional formalidade para definir Julio Cesar como o autêntico fenômeno do futebol brasileiro, “retirando” o rótulo do centroavante Ronaldo.

Todo mundo gosta do Julio Cesar.

Para referendar sua imagem de moço cortês e prestativo, o goleiro sempre traz um sorriso quando é chamado para entrevistas, principalmente quando o repórter aparece acompanhado por câmeras de TV. Trata os jornalistas como velhos amigos da bola ou companheiros de boteco. Por pouco, você não tem a impressão de que será convidado por ele para tomar um cafezinho na confeitaria da esquina.

Quando quer fugir do assédio, Julio Cesar não se desgasta. Sua tropa de colaboradores são os responsáveis por dizer a palavra "não" para aqueles que desejam se aproximar do astro. A mulher Susana Werner, o assessor de imprensa da Inter de Milão, Luigi Crippa, e seus assessores particulares estão sempre prontos para fazer cara feia.

  • Julio Cesar
  • Para Mourinho, ex-Inter, quem tem Julio não precisa de Buffon

Em Milão, uma semana antes da divulgação da lista oficial dos convocados para a seleção, Julio Cesar optou pelo absoluto silêncio. Susana Werner explicou que ele estava muito cansado após a conquista da Copa da Itália, Crippa disse aos berros que o goleiro estava ocupadíssimo e não teria tempo para atender ninguém e os assessores particulares afirmavam que Julio não aceitaria fazer entrevistas por telefone.

Mas após a divulgação da lista de convocados para a Copa, a estrela da Inter de Milão resolveu falar de novo. Mais ousado que boa parte de seus companheiros de seleção, o goleiro descobriu rapidamente como chamar a atenção durante a modorrenta primeira semana de concentração do Brasil, época em que geralmente ninguém tem nada para dizer. Fugindo de comentários óbvios, o goleiro falou que a Jabulani, a bola da Copa fabricada pela Adidas, era “horrorosa” e que parecia “aquelas que são compradas em supermecados”.

As críticas sobre a Jabulani rodaram o mundo e poucos ousaram a contradizer as observações feitas pelo goleiro. Os companheiros de seleção deram apoio aos comentários de Julio, a mídia brasileira repercutiu o tema até deixar a multinacional Adidas constrangida e Dunga, que tende a coibir declarações polêmicas dos jogadores, sustentou as observações de seu goleiro e ainda desafiou o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, a dar um chute na bola oficial da Copa.

Números na seleção brasileira

Jogou 48 vezes
4.180 minutos em campo
Sofreu 31 gols
Com Dunga no comando,
a seleção fez 54 partidas.
Julio Cesar atuou em 37.
Ele só perde para Robinho e
Gilberto Silva, ambos com 48.
Maicon, 45, Elano, 41.

Como atleta, Julio Cesar se tornou um exemplo a ser seguido. A própria Fifa chegou a publicar em seu site oficial que ele era um goleiro “ágil, com espírito de liderança e corajoso sem hesitação”. Gianluigi Buffon, goleiro da seleção italiana campeã mundial em 2006 e titular absoluto da equipe na Copa da África do Sul, reconheceu o talento do oponente: "Júlio César está melhor do que eu atualmente". E o ex-goleiro Taffarel, atual espião da seleção brasileira e um dos nomes mais importantes na conquista brasileira na Copa de 1994, também não resistiu ao talento do amigo e o elegeu ao posto de melhor do mundo.

Julio Cesar se adaptou à imagem do bom moço sem demonstrar qualquer sinal de arrependimento. Casou-se em 2002 quando tinha apenas 22 anos com a modelo Susana Werner, então com 24. Os dois têm os filhos Cauet, 7 anos, e Giulia, 4. Sempre que pode, faz questão de afirmar que aprecia a vida caseira e se sente muito bem distante das baladas. Susana Werner também já deixou claro em entrevistas que “lugar de homem casado é em casa e não na noitada com amigos”.

Sua vida em Milão é discreta. Em Appiano Gentile, pequeno vilarejo que acolhe o centro de treinamento da Inter, o nome de Julio Cesar não traz muitas recordações aos habitantes do local exatamente porque não está na lista dos grandes baladeiros. “Não conheço muito os jogadores brasileiros da Inter. Lembro do Adriano. Era muito famoso por aqui. Sobre os outros, não ouço muitos comentários”, disse uma funcionária da prefeitura de Appiano Gentile, que preferiu não se identificar. “Os torcedores da Inter provocam muita confusão na nossa pequena cidade”, comentou.

  • Julio Cesar
  • Susana Werner e o filho Cauet torcendo na Copa de 2006

Nos locais mais disputados pelos jogadores que vivem em Milão, o goleiro é mais lembrado pelo bom comportamento. “O Ronaldinho vem muito aqui, o Pato também”, diz Lorenzo Tonetti, um dos proprietários do restaurante Giannino, reduto dos jogadores brasileiros que vivem na cidade italiana. “O Kaká jantava aqui várias vezes quando defendia o Milan. O Júlio veio algumas vezes. A mulher dele é brava. Ele só vem quando ela deixa”, brinca Tonetti. “Mas ele é um bom garfo e um rapaz muito gentil”, complementa.

No Twitter, Julio postou apenas cinco vezes. Começou no dia 13 de maio com um trocadilho: “Aê galera, como sempre: tô na área...”. E terminou no dia 28 do mesmo mês escrevendo: “Amigos, agradeço o carinho de todos nos poucos dias em que estive no Twitter. Como estou focado só na Copa do Mundo volto depois dela. Abs!”

O Twitter está liberado para os jogadores brasileiros, mas tudo indica que o goleiro ficará distante da popular rede de relacionamento durante o Mundial. Dunga agradece. Afinado com o ambiente introvertido disseminado pelo treinador, Julio Cesar pode ser simplesmente o Julio Cesar de sempre e não expor detalhes sobre sua intimidade.

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