Gallo sai fortalecido de vexame e vira "homem-chave" para a nova seleção

Ricardo Perrone e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O vexame histórico da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014 derrubou praticamente toda a comissão técnica montada pela CBF para o torneio. Um membro específico dessa comissão, entretanto, não caiu. Surpreendentemente, ganhou importância estratégica para o futuro da equipe nacional e já é considerado o "homem-chave" para a remontagem do time rumo à Olimpíada de 2016 e ao Mundial de 2018.

Esse personagem é Alexandre Gallo, que observava os adversários para Luiz Felipe Scolari durante o Mundial de 2014. Ele também é o atual coordenador da CBF para as categorias de base e, a partir de agora, o responsável pela criação de um padrão de jogo único o qual passará a ser usado em todas as seleções brasileiras –da sub-15 à principal, passando pela olímpica.

O novo status de Gallo dentro da CBF ficou claro nesta quinta-feira (17), na primeira entrevista coletiva concedida pela diretoria da entidade após o fim da Copa do Mundo. O evento foi convocado para a apresentação do novo coordenador técnico de seleções da CBF, o ex-goleiro e empresário Gilmar Rinaldi. Antes de Rinaldi ser anunciado, entretanto, Gallo recebeu o microfone das mãos de José Maria Marin, presidente da CBF, e mostrou que, de agora em diante, ele também manda.

"Apresentei ao presidente um plano olímpico para que pudéssemos dar uma atenção especial a esse objetivo", afirmou Gallo aos jornalistas, deixando claro que ele também terá ingerência sobre a preparação da seleção que tentará conquistar a inédita medalha de ouro no futebol já na Olimpíada do Rio. "Temos um planejamento sistematizado para essa competição."

Dentro desse planejamento, está prevista a utilização de jogadores indicados por Gallo na seleção principal já visando à Rio-2016. Ele próprio defendeu a criação de uma espécie de cota na seleção principal para jovens jogadores. Para Gallo, cerca de 40% dos atletas da equipe deveriam ser atletas da seleção sub-20 ou recém-saídos da base para fortalecer o projeto olímpico.

O uso desses jogadores ainda dependerá do novo técnico da seleção. O anúncio do treinador deve ocorrer na terça-feira (22). Gallo não terá poder decisório.

Padronização da seleção

Remanescente da comissão técnica da Copa de 2014, Gallo ainda será o responsável pela padronização do estilo de jogo das seleções brasileiras. A intenção dele é criar um esquema tático único, que passaria a ser usado sempre que possível em todas as seleções de base. "Queremos entrega tática, comprometimento", disse.

O coordenador das categorias de base da CBF afirmou que cerca de 35 atletas de cada faixa etária montarão quase que uma seleção permanente das diferentes categorias de base. Dessa forma, os jovens atletas serão doutrinados a jogar já da forma pensada pela confederação quando chegarem à seleção principal.

Um ano e meio de trabalho

Ao pedir que Gallo desse todas essas explicações, Marin teve o funcionário da CBF como escudo. A cúpula da entidade tem sido criticada pela imprensa e por políticos sob o argumento de não cuidar como deveria das categorias de base. O discurso do coordenador encaixa na tentativa do presidente da confederação de convencer os críticos de que já faz um trabalho voltado para a formação de atletas.

Gallo está na CBF desde janeiro de 2013. Assumiu a base após o técnico Émerson Ávila não ter conseguido classificar a seleção sub-20 para o Mundial da categoria. Desde então começou a conquistar a confiança da cúpula da confederação.

Dirigentes ligados a federações estaduais e próprio presidente da CBF admiram o trabalho de Gallo, conhecido por ser um técnico linha dura. O treinador não permite brincos, cabelo comprido e roupas chamativas nas seleções de base. Gallo também é reconhecido por sua organização. Apresenta relatórios periódicos à CBF, o que agrada Marin. Segundo cartolas próximos ao dirigente, ele considera os métodos de seu funcionário modernos. E modernidade é o que mais a CBF quer mostrar no momento em que seus críticos a chamam de retrógrada.

Dados desses relatórios foram apresentados nesta quinta à imprensa. Segundo Gallo, desde que ele assumiu, as seleções brasileiras sub-15 e sub-17 fizeram 53 jogos. Ganharam 37, empataram 13 empates e perderam três. "Somos protagonistas em todos os torneios", disse.

Marin aprovou. "A reformulação do futebol brasileiro já começou. O trabalho que vem sendo feito por Gallo vem ao encontro dos nossos objetivos", disse o presidente num recado aos críticos.

Viagens do coordenador para cativar jovens que atuam fora do país e que podem optar por outras seleções também ajudaram Gallo a se tornar o novo queridinho da CBF. Isso a ponto de aliados de Marin pedirem para ele não ter pressa na definição do substituto de Scolari. Argumentam que o responsável pelas categorias de base pode assumir interinamente o time principal nos amistosos deste ano.

A prova de fogo de Gallo será a chegada do novo técnico. Será possível notar se ele continuará com o mesmo status a partir da presença do treinador do time de cima.

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