Drogas, funk, pagode e salto alto encerram festas na Vila Madalena

Paulo Anshowinhas

Do UOL, em São Paulo

Álcool, maconha e cocaína. Furtos, brigas, desacato e lesões corporais: esse é o balanço parcial de registros policiais mais frequentes que ocorreram durante um mês de atividades na Vila Madalena - no período da Copa, de acordo com relato do major Marcelo Francescon, comandante de operações que coordenou o Grupo Integrado de Serviços Públicos formado pela PM, GCM, CET, Prefeitura e outros órgãos públicos.

Carteiras, celulares e documentos foram os itens mais furtados ou perdidos entre os frequentadores da Vila Madalena na área de bloqueio, com uma média de 15 ocorrências diárias. No dia de maior movimento – jogo entre Brasil e Colômbia, a estimativa de público de acordo com a PM foi de cerca de 70 mil pessoas, quase o triplo do que verificado em dias de grande movimento na Fan Fest do Anhangabaú – evento com um efetivo e estrutura mais bem preparados para receber um grande número de visitantes.

"Mesmo assim acredito que o impacto na ordem pública como um todo foi positivo, visto que a maioria das ocorrências foi de baixo potencial ofensivo", analisa o major, que pretende apresentar um projeto de Gestão de Ordem Pública para a comunidade da Vila Madalena.

Neste domingo (13), último dia de Copa e de folia no bairro, a cena também não foi muito diferente de outras ocasiões, exceto que durante a tarde foram apreendidos 180 pinos de cocaína, que foram abandonados na rua depois de ação do Denarc, mas não houve detenções.

O consumo de maconha, principalmente na rua Aspicuelta, foi alvo de muitas denúncias por parte da população, mas com a chegada da policia ninguém foi detido em flagrante.

O álcool continua sendo o grande vilão da saúde, e de acordo com o major do início das operações até ontem, o número de atendimentos médicos caiu de 80 ao dia para apenas oito por noite, sendo a maioria por brigas, lesões, e excesso de álcool.

A questão da limpeza pública também foi levada em consideração e colocada como situação controlada depois da instalação de banheiros químicos e limpeza das ruas após cada noite de evento. Nos primeiros dias de aglomeração de público na região era comum ver pessoas urinarem e defecarem nas calçadas.

Brasileiros se pintaram de vermelho e preto

Os caras pintadas mudaram de cor, e o vermelho e preto assumiu o lugar do desaparecido verde e amarelo no último dia de festividades não oficiais na Vila Madalena.

A vibração em cada jogada arriscada ou tentativa de gol alemã era igual ou até maior do que as registradas em partidas da seleção brasileira em frente aos bares que dispunham de televisores com acesso das pessoas na rua. Muitos deles antes da partida tocavam em alto e bom som pagode ao vivo, e entre suas frequentadoras muitas mulheres que desfilavam pelas ruas de sapato alto e roupas provocantes. Atrair turistas europeus parecia uma estratégia na maioria desses casos.

Essa empatia pelos alemães podia ser vista em todos os bares, exceto no Porta Fortunam, da rua Mourato Coelho. Na fachada, o local ostentou uma faixa sobre a bandeira argentina com os dizeres: "Nenhum jogador é tão bom quanto todos juntos. Vamos, Argentina"

A mensagem de apoio parece que não funcionou. Até o final do jogo, o bar foi ocupado basicamente por três mesas, sendo duas de argentinos. "No se puede, no se puede", gritava uma torcedora portenha que saiu do bar apenas para fumar e resmungar.

"Nós somos melhores no futebol, os alemães são melhores na cerveja", tentou justificar o garçom Santiago Jesus, que vestia uma camisa com o número 10 da seleção argentina, Lionel Messi.

De fato. Bom exemplo disso estava a duas quadras dali. Com 200 rótulos em seu cardápio, o Empório de Cervejas, na rua Aspicuelta, exibia dezenas de latas chamativas e variadas logo na entrada. Mas nenhuma argentina. Nem mesmo a mais conhecida, a Quilmes. "Aqui não tem nem alemão nem argentino. Quem bebe mesmo são apenas brasileiros", comentou um funcionário da casa em frente à porta dessa taberna.

Mas quando o assunto é cerveja, quem entende do assunto tem uma lista de motivos para ativar a memória. Becks, Bitburger, Paulaner, Weihenstephan foram as marcas lembradas de "bier" por Jan Rase, que veio direto de Bremem, na Alemanha para assistir o jogo na Vila Madalena. "Nós gostamos de beber com calma para apreciar essa delicia, não precisa ser gelada demais, senão perde o sabor", explica.

Assim como ele, outro jovem de nome Johaness, estudante de relações internacionais na USP, fez sua lista de preciosidades que não podem faltar na geladeira, ou no armário: Augustinen, Hollanden, Erdinger, Tegernsee e Franciscanen. "Para mim é tudo novidade", riu a sua namorada brasileira que não entendia nada de alemão.

Acostumados com um sabor mais forte, esses alemães, tiveram de se contentar com marcas belgas, produzidas no Brasil e muito geladas. "É tudo festa", animou-se Johaness, para alegria de sua namorada.

O grande número de mulheres solteiras no evento animou até os policiais, que foram alvo dessas meninas - algumas com saias muito curtas - que pediam para serem fotografadas ao lado desses guardas na saída da rua Mourato Coelho.

"Olha as periguetes a perigo. Horrorosa, vai morrer solteira, mas não vou quebrar seu galho", recitou um grupo de jovens ao ver a cena em tom de funk para fechar a noite.

Tudo pelos gringos

Para o proprietário dos bares Posto 6, Patriarca e Salve Jorge, Wanderley Romano, a vinda de turistas estrangeiros foi a grande causa de todos esses problemas. Ou soluções.

"Com a chegada inesperada de um número tão grande de gringos nos primeiros dias de Copa, vieram junto muitas mulheres para pegarem esses gringos, e com elas veio todo tipo de gente da periferia que transformou as ruas em um zoológico", disse ao apontar para pessoas sentadas em frente a seu bar comendo, bebendo e fumando narguilé, como se fosse um piquenique, como ele mesmo disse.

Suas casas estão estrategicamente posicionadas no local mais movimentado e tumultuado da Vila Madalena, que se transformou em referência internacional, a esquina das ruas Aspicuelta e Mourato Coelho.

Embora afirme que não pode reclamar pois teve um aumento de cerca de 10% em seu faturamento, achou que a cidade não esperava um movimento tão intenso, e se houvesse organização esse número poderia chegar a 50% mais.

"Ruas bloqueadas não permitem que meus clientes venham de carro, e em dias de jogo, tenho de limitar a entrada senão entram apenas pessoas para usar o banheiro", lamenta ao explicar que por causa dessa movimentação começou a cobrar R$ 40 de entrada. "Antes eu cobrava consumação, e fui multado por isso, agora com esse valor posso selecionar melhor meus consumidores", conta.

"Agora com o fim da Copa, as coisas devem voltar ao normal, mas mesmo assim a expectativa é negativa. Com a falta de dinheiro, o movimento deve cair geral, não apenas para mim", profetiza.

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