Messi perde a Copa no palco perfeito e volta para o fim da fila das lendas

Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

O que falta para Lionel Messi? Uma Copa, todos dizem em uníssono quando alguém questiona o papel do camisa 10 argentino na história do futebol. A glória estava em suas mãos neste domingo. Era a Copa das Copas, no palco dos palcos, para o craque dos craques. Messi, pacientemente, caminhou para a glória. Não chegou a tempo. Agora, volta para o fim da fila dos grandes que nunca tiveram a honra de vencer o torneio mais importante do esporte.

Protagonista de uma Argentina histórica, embora não brilhante, Lionel Messi não foi decisivo como se esperava. Na final que poderia consagrá-lo, o craque do Barcelona não foi craque na seleção, e viu a Alemanha roubar-lhe a glória no Maracanã, com uma vitória por 1 a 0 na prorrogação.

E a fila que Messi terá de percorrer é longa. Como ele, Cruyff (pai do estilo que o consagrou na Espanha), Zico (um dos maiores gênios do Maracanã) e Di Stéfano (um de seus maiores compatriotas, morto há poucos dias) também sofreram com a ausência.

O argentino, aos 27 anos, ainda terá pelo menos mais uma Copa pela frente para dar sua última cartada, mas sabe que a história que poderia ter escrito neste domingo era especial. A Argentina não chegava sequer a uma semifinal de Copa do Mundo desde 1990, e se voltou tem muito o que agradecer ao seu camisa 10.

Messi, que passou o último ano inteiro ouvindo sobre Cristiano Ronaldo, o homem que lhe tomou a coroa, chegou ao Maracanã. Milhares de compatriotas, ao longo do torneio, cantaram a plenos pulmões o que sentiam os brasileiros e que ele ia dar-lhes a Copa. Sua final, porém, foi a de quem sabe que pode resolver a qualquer momento.

Messi corre pouco. Até a decisão, era o argentino que tinha percorrido a menor distância na Copa do Mundo. Ele não precisa, podem dizer. De fato, sobra quem corra por ele na Argentina. Em um time que tem a cara de Mascherano e aposta na marcação e no contra-ataque, Messi pode se dar ao luxo de caminhar.

Com os ombros caídos e o passo curto, ele sabe dar o pique na hora certa. No momento em que alguém recupera a bola na defesa, ele abre a passada e invariavelmente abre um espaço no meio. Quando recebe, invariavelmente dá trabalho.

O Messi da final deu arrancadas, tentou dribles quando estava cercado e arriscou um ou outro passe mais açucarado. Ainda que nada tenha dado muito certo, ele nunca passou despercebido. A cada toque, era observado ou apertado (às vezes as duas coisas) por pelo menos um rival.

Quem torce o nariz para o argentino que já venceu tudo o que podia com o Barcelona encherá a boca para falar do lance aos 2 minutos do segundo tempo. Messi, como raras vezes aconteceu na final, saiu livre, dentro da área, com a bola dominada na sua perna esquerda. O chute aberto demais, que passa na frente do gol e sai pela linha de fundo, foi um balde de água fria em quem esperava um Messi decisivo.

O camisa 10 da Argentina tem quatro gols na Copa, todos na primeira fase. No mata-mata, seu momento mais decisivo foi o passe para Di Maria decidir as oitavas de final contra a Suíça. Verdade que não foi uma nulidade depois disso, mas também não foi o craque que se espera.

Messi é o capitão do time, mas é discreto até nisso. Quando a arbitragem anulou corretamente um gol de Higuaín no primeiro tempo, ele tomou a iniciativa de conversar com o bandeirinha. Sem abrir os braços, sem gritar, sem fazer alarde, fez a pressão que poderia.

Seus melhores momentos foram quando o jogo se encheu de tensão, na segunda metade da etapa final. As armas foram as de sempre, as arrancadas com dribles curtos. Desta vez, os alemães foram mais imprecisos e chegaram a levar sufoco. A cena mais impressionante não foi com a bola nos pés.

No segundo tempo, Messi passou mal em campo. Visivelmente incomodado, o 10 da Argentina tenta coçar a garganta, cospe e vomita no gramado. O "vômito clássico" do craque, como definiu o jornal argentino Olé, lembrando que a cena já se repetiu outras vezes.

E foi só. O Messi da prorrogação mal pegou na bola. Viu Palacio perder um gol feito e rasgar o rosto de Schweinsteiger com um soco em uma disputa pelo alto. Depois que Gotze fez o gol decisivo para a Alemanha, só levou perigo em uma cabeçada de longe.

Seu último ato na Copa que poderia ser sua foi uma cobrança de falta, alta, longe do gol de Neuer. A chance de ganhar o mundo lhe escapava dos pés. Uma nova, só daqui a longos quatro anos. 

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