Robin Van Persie era a grande esperança da Holanda para a Copa de 2014. Artilheiro da equipe nas Eliminatórias, dono da camisa 9 e da faixa de capitão, o atacante consolidou essa posição ao marcar três gols nos dois primeiros jogos do Mundial. E neste sábado, contra o Brasil, tudo isso acabará de forma melancólica. Outrora aposta, Van Persie virou um problema.

A Holanda não anotou um gol sequer nos dois últimos jogos. Após dois empates por 0 a 0, a seleção europeia passou por duas disputas de pênaltis: venceu a Costa Rica nas quartas de final e perdeu para a Argentina na semi - Van Persie não foi cobrador nesta última partida.

Os últimos gols da Holanda na Copa aconteceram nas oitavas de final. O time laranja perdia por 1 a 0 para o México até os 44min do segundo tempo, quando Sneijder empatou, e Huntelaar virou aos 47min. Van Persie viu tudo isso do banco de reservas – tinha sido substituído pelo próprio Huntelaar.

A falta de gols – não marca desde a segunda rodada –, contudo, é apenas um aspecto na crise de Van Persie. O rendimento do jogador também caiu muito. Nos últimos jogos, o camisa 9 não passou perto do atacante que foi eleito pela Fifa o melhor em campo na primeira partida da Holanda na Copa (vitória por 5 a 1 sobre a Espanha).

A queda abrupta de Van Persie já gerou uma série de questionamentos na Holanda, e essa situação já chegou aos jogadores. Na última sexta-feira, o atacante Dirk Kuyt, que tem jogado na ala direita, defendeu o camisa 9.

"O nosso grupo tem o melhor espírito de time, e nós trabalhamos em cinco torneios com Van Persie como líder. Robin esteve machucado por dois meses e trabalhou demais para chegar à Copa. Ele voltou de forma fantástica e lidera o time", elogiou o companheiro em entrevista coletiva.

Até a Copa de 2010, Van Persie oscilava entre o comando e o lado esquerdo do ataque. O jogador, que na época defendia o Arsenal, anotou apenas um gol na África do Sul e foi alvo de muitas críticas da torcida holandesa.

A situação chegou a ponto de Van Persie ter perdido posição para Huntelaar na Eurocopa de 2012, torneio em que a Holanda foi eliminada na primeira fase. Novamente, o atacante fez apenas um gol no torneio.

Depois da Eurocopa, a situação de Van Persie na Holanda mudou muito. A seleção trocou o técnico Bert van Marwijk por Louis van Gaal, e o novo comandante deu status ao centroavante. Além de ter se firmado entre os titulares, o jogador ganhou a faixa de capitão.

Esse momento simbolizou uma ascensão na carreira de Van Persie. O jogador Holandês trocou o Arsenal pelo Manchester United em 2012, e no ano seguinte superou Patrick Kluiver como maior goleador da história da seleção holandesa.

"Apesar de ser canhoto, ele sabe usar bem a perna direita e ainda cabeceia muito bem. Não sei se posso dizer que é um jogador completo, mas ele tem evoluído constantemente", disse o ex-jogador brasileiro Gilberto Silva, companheiro de Van Persie no Arsenal.

"A responsabilidade de Van Persie na seleção mudou muito de 2010 para 2014. Antes ele não era um jogador chave no grupo. Não era 'o' jogador. A partir do momento em que houve a mudança de treinador e ele trocou Arsenal por Manchester United, ficou claro o quanto ele era importante. Isso deu uma melhorada no desempenho", completou Alessandro Shoenmaker, brasileiro que trabalha como preparador físico no holandês Twente.

O problema é que o centroavante não justificou na Copa esse status que havia atingido antes de o Mundial começar. Agora, aos 30 anos, Van Persie é um grande mistério para o futuro da Holanda. Sobretudo porque Van Gaal fará neste sábado o último jogo como treinador da seleção – ele vai assumir justamente o Manchester United, time do centroavante, e será substituído por Guus Hiddink.

O papel de Van Persie no próximo ciclo da Holanda é um mistério. A frustração que os torcedores tiveram com ele na Copa de 2014, no entanto, já está extremamente clara.