PM e prefeitura enxotam turistas das ruas e das calçadas da Vila Madalena

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

A Vila Madalena, bairro boêmio da cidade de São Paulo, está sob toque de recolher a partir da 1h da manhã. Quem tenta desobedecer, é retirado à força sob a coerção dos cacetetes da Polícia Militar, e pode até ser preso.  

Foi o que presenciou e gravou a reportagem do UOL Esporte na madrugada do dia 9 para o dia 10, quando cerca de 500 torcedores argentinos ocupavam as ruas e calçadas das ruas Mourato Coelho, Aspicuelta e imediações. Quando o relógio marcou 1h da manhã, um cordão policial com cerca de 30 homens passou a varrer os turistas das ruas.

Por volta da 0h45, as centenas de argentinos e demais estrangeiros ali concentrados começaram a se dar conta de que alguma operação policial estava se armando. Apesar disso, como o clima era de tranquilidade e a presença dos policiais era ostensiva desde o início da festa, não se prepararam para o que estava por vir.

A poucos minutos da 1h da manhã, o capitão da PM que comandava a ação passou a fazer uso de um megafone para dizer, em bom portunhol, que a Polícia Militar e a cidade de São Paulo agradeciam a presença de todos, mas que já era hora de ir para casa, que teria início a limpeza das ruas. 

Parte dos turistas e dos brasileiros, então, passaram a deixar o local. Outros permaneceram cantando e pulando, até porque eram centenas de pessoas, o processo de todos deixarem o local levaria tempo. 

Para acelerar tudo, os policiais passaram a se mover em linha, cacetetes em punho, literalmente enxotando os turistas dali. Alguns caíram (estava chovendo, escorregaram, explicou um policial à reportagem). Outros foram para as calçadas, procurando os amigos dos quais tinham se perdido. Foram devidamente retirados pelos PMs e seus instrumentos de trabalho.

Para registrar toda a cena, a reportagem do UOL Esporte também tentou ficar na calçada, junto à parede de um dos bares. Um policial disse que o repórter deveria sair dali. Diante de uma negativa, o PM disse, já aos empurrões, que aquilo era uma ordem policial, e que o repórter deveria sair dali, ou seria preso. 

Assim passou o cordão da Polícia Militar, seguido pelos caminhões e veículos de limpeza com jatos de água, e finalmente por motos e viaturas com suas giroflex ligadas. Desta vez, ao contrário do que ocorrera na noite anterior, após o jogo Brasil e Alemanha, não houve bombas de gás nem de efeito moral, apenas spray de pimenta para os retardatários. Em dez minutos, as ruas da Vila Madalena foram evacuadas. 

Exceto por seis turistas, um colombiano, dois mexicanos e três argentinos. Com medo, eles haviam se escondido atrás de um carro. A reportagem os abordou. Cada um tinha uma versão para o ocorrido. 

"Eu estava no Rio de Janeiro. Lá, a festa foi permitida até 4 da manhã. Agora, nos pegam de surpresa, assim, 1h da manhã. É porque perderam a Copa, não querem a festa argentina, se vingam nos argentinos", disse um. 

"Não é isso, o Rio de Janeiro é uma cidade mais acostumada a receber turistas, São Paulo é mais provinciana, não está acostumada a receber grandes eventos, não sabe como agir", arriscou outro.

"Polícia é polícia em qualquer lugar. É a mesma truculência que temos em Bogotá (capital da Colômbia), abusam da autoridade, fazem as próprias leis", definiu outro.

"Onde está meu amigo? Você tem um celular? Preciso encontrar meu amigo, não sei onde ele está, não sei se foi preso", desesperava-se outro.

A Prefeitura de São Paulo nega que tenha instaurado um toque de recolher na Vila Madalena. De acordo com o Comitê Especial para a Copa do Mundo de 2014, o que está em prática é a chamada "Operação de Desconcentração", em que se adianta a limpeza das ruas do bairro para 1h da manhã, dando a entender aos turistas que este é o horário-limite para o fim da festa.

Já segundo nota enviada ao UOL Esporte pela PM, "a Polícia Militar esclarece que as regras expressas na lei municipal assim como a fiscalização de seu cumprimento são, prioritariamente, de competência da prefeitura, contudo, está presente no evento para garantir a segurança pública e prestará o apoio necessário para garantir a tranquilidade do evento." 

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