Goleada alemã regada a pituconha acaba em ressaca cívica e "bad trip"

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Recife

A série de reportagens "UOL pelo Brasil" rodou tanto o país durante a Copa do Mundo que acabou passando pelo chamado "Polígono da Maconha" e trazendo o produto que virou atualmente o souvenir do sertão pernambucano: a pituconha.

A cachaça temperada com raiz de maconha é vendida em sua origem ao preço de R$ 30. E chega a ser leiloada em Recife por R$ 200. A equipe do UOL levou para o centro da capital de Pernambuco uma garrafa comprada em Serra Talhada, cidade encravada na região que mais produz maconha no Brasil e que fica a 414 quilômetros a oeste de Recife.

O dia marcado para a degustação coletiva não poderia ser mais propício para uma ressaca daquelas: a vexaminosa derrota do Brasil nas semifinais. A saraivada alemã ganhou contornos de uma viagem estilo "bad trip" causada pelo drinque canábico, ainda mais quando, no meio da torcida perto da Fan Fest recifense, pulularam brigas, policiais a cavalo, corre-corre e pânico geral.

O clima de ressaca cívica-patriótica-esportiva se antecipou. O Brasil esperava que isso acontecesse só na segunda, 13 de julho, com a Copa acabada e a vida do país voltando ao normal. Mas o 7 a 1 acabou multiplicando esse mal-estar geral da nação.

E a pobre da pituconha nada teve a ver com esse baque experimentado após a humilhação em casa. Afinal, a concentração de THC (tetrahidrocanabinol), princípio ativo da maconha, é mínima, para não falar nula, em sua composição, segundo testes periciais pedidos pela própria Polícia Federal em 2013.

Devido à invenção da pituconha e à febre de consumo em torno dela, policiais federais e colaboradores que participam das operações de erradicação de plantações da droga no Polígono da Maconha foram proibidos desde o começo de 2014 de distribuir as raízes.

Ao contrário do restante da planta, onde as concentrações de THC são maiores, as raízes não são incineradas nas operações. Boa parte delas, com a indiferença dos agentes policiais, acabava em um mercado paralelo que fornecia "o tempero especial" para a fabricação da pituconha.

A PF não faz nenhuma repressão sistemática ao comércio de pituconha, apesar de tentar barrar o fornecimento das raízes de suas operações. Por outro lado, quem fabrica e vende a "cachaçaconha" o faz na miúda desde que o assunto ganhou interesse nacional.

A reportagem do UOL encontrou uma garrafa em um bar perto da rodoviária de Serra Talhada. De início, os donos do estabelecimento desconversaram, mas logo mostraram a garrafa escondida em uma prateleira em meio a outras maceradas com carqueja e canela.

Os comerciantes repetiram o argumento já ouvido em outros lugares: a pituconha seria meramente medicinal, com fantásticos poderes de cura sobre tendinite, asma, gripe, dor na coluna e no estômago.  

Pela checagem jornalística da equipe do UOL, são imperceptíveis os efeitos curativos assim como a ação entorpecente da pituconha. A ressaca do dia seguinte foi igual a de todos os brasileiros, para os que beberam ou para os que não.

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