Cinco motivos que explicam a Argentina na final da Copa do Mundo
Jeremias Wernek
Do UOL, em Belo Horizonte
Vinte e quatro anos depois, a Argentina está de volta a uma final de Copa do Mundo. E justamente no Brasil, no Maracanã. A trajetória da equipe de Alejandro Sabella tem, pelo menos, cinco pontos que ajudam a explicar a classificação para a quinta decisão de Mundial da história dos hermanos. A lista inclui Lionel Messi, o crescimento da defesa e um capitão que não tem a braçadeira.
Na arrancada da Copa, a seleção argentina constava na lista dos favoritos ao título mais pela tradição do que realmente pela força de seu time. Só que fase após fase, jogo após jogo, a esperança foi crescendo. O futebol, de forma efetiva, deu um salto somente nas quartas de final com o ápice chegando diante da Holanda, na semi.
1. Messi carrega o time nas costas
Na primeira fase da Copa, no grupo F, Messi foi mais do que decisivo. Carregou a Argentina nas costas e fez de seus passos os passos do time. Empurrou a equipe para a próxima fase com quatro gols e uma assistência. Ganhou o prêmio de melhor em campo contra Bósnia-Herzegovina, Irã e Nigéria.
Diante dos bósnios, no Maracanã, o camisa 10 cobrou a falta que acabou em gol contra e depois fez o gol da vitória por 2 a 1. Contra os iranianos, no Mineirão, tirou um chute magistral da cartola e garantiu três pontos suados aos 45 minutos do segundo tempo. Na partida com a Nigéria fez mais dois – o primeiro se tornando o gol mais rápido de sua carreira, e o segundo de falta. Mesmo sem encher os olhos, a Argentina fez nove pontos e viu Messi brilhar.
2. Raro brilho de Di María e Higuain
Se Messi foi o cara da fase de grupos, Ángel Di María e Gonzalo Higuain retribuíram e dividiram o fardo nas oitavas e quartas de final. A missão deveria ser esta desde o primeiro jogo, mas demorou a acontecer. Com o ataque em baixa, os dois tiveram momentos isolados de brilho no Mundial até aqui, porém foram igualmente vitais para a caminhada.
Di María fez o gol da vitória contra a Suíça, no final do segundo tempo da prorrogação, nas oitavas de final. Sim, o passe saiu dos pés de Messi, mas para o camisa 7 o chute é, sim, seu ápice na Copa até aqui. Já Higuain foi desencantar nas quartas de final, diante da Bélgica. Um giro na frente da área e chute preciso no canto: fim do jejum de gols na Copa e o grande passo para a Argentina chegar à semi.
3. Demichelis ajeita a defesa com experiência
Alejandro Sabella sempre soube que a chaga de seu time era a defesa, mas só foi mexer nela nas quartas de final, contra a Bélgica. Antes, testou o esquema 5-3-2 e não deu certo. O rendimento pífio contra a Bósnia e as declarações de Messi e companhia pedindo o 4-3-3 implodiram a ideia. Mas o esquema preferido fez o técnico ter calafrios contra Irã e Nigéria, com a dupla Federico Fernández e Garay.
Contra uma Bélgica que tinha alto índice de finalizações e poderio muito superior aos rivais até então encarados, Martín Demichelis foi chamado. O zagueiro do Manchester City, aos 33 anos, caiu como uma luva em uma defesa que suplicava por experiência. Com ele, a Argentina fechou a porta para os belgas e foi outra vez segura contra a Holanda, na semifinal. O camisa 15 foi a surpresa da lista de convocados para o Mundial. Tanto que o próprio jogador cumpriu uma promessa e abandonou o cabelo cumprido antes de embarcar para o Brasil.
4. Mascherano impecável
Esqueça qualquer partícula da imagem de um volante violento. Javier Mascherano vem, jogo após jogo, empilhando estatísticas que lhe conferem um papel tão importante quanto o de Messi na seleção argentina. O camisa 14, apelidado de "chefinho", não só bloqueou o chute de Robben na semifinal. Ele atuou por 600 minutos, recuperou a bola 42 duas vezes e fez apenas sete faltas. Completou 86,6% dos passes e não levou nenhum cartão nas seis partidas.
A Copa irretocável de Mascherano até aqui pode se resumir em uma frase. Antes de pegar a Bélgica, na boca do túnel, o capitão da Argentina que não leva a braçadeira – item que repousa no braço de Messi, berrou que estava cansado de comer merda. O desabafo de quem viu o fracasso em 2006 e 2010 motivou ainda mais o time. E Mascherano fez sua parte também em campo para ajudar a mudar o cardápio.
5. Redenção do goleiro 'mão de manteiga'
Sergio Romero chegou à Copa do Mundo da pior maneira possível. Criticado ao extremo pela imprensa e pela torcida, sem jogar regularmente na Europa, no Monaco-FRA. E recebendo apelidos como 'mão de manteiga' de internautas. Mas jogo a jogo ele foi dando sinais de que decidiria. Contra a Bósnia salvou com as pernas, diante do Irã pulou duas vezes e espalmou por cima. Fase após fase ganhou mais bagagem até a semifinal.
Nas cobranças de pênalti contra a Holanda, Romero defendeu duas bolas e catapultou a Argentina para a decisão. Após cada intervenção, o goleiro saiu vibrando e dando a dimensão do feito – particular e coletivo. Com a redenção dele, a Argentina ressurge em uma final de Copa do Mundo. Justamente no Brasil, no Maracanã.