Zen, arrumadinho e sem títulos: técnico da Alemanha é o oposto de Felipão

Fernando Duarte

Do UOL, em Belo Horizonte

Joachim Löw até apareceria para uma entrevista ao vivo na concentração da seleção da Alemanha usando um abrigo esportivo. Mas não sem antes aparecer com o cabelo "Beatle" minuciosamente arrumado. O treinador da Mannschaft não poderia ter o estilo mais diferente de seu adversário na semifinal de Copa do Mundo da última terça, Luiz Felipe Scolari. Enquanto Felipão tem no abrigo uma solução para todas as situações, o alemão apareceu no banco no Mineirão usando alguma de suas camisas sociais de grife imaculadamente passadas e engomadas. 

Foi assim também na decisão em que se sagrou tetracampeão em cima da Argentina. Neste caso, no entanto, encontrou um rival um pouco mais à altura, com Alejandro Sabella, que também gosta do terno. 

Löw, de 54 anos, é marcado pelo maneira quase "zen" com que se comporta em treinos e jogos. Sem os gritos ou gestos largos pelos quais o colega brasileiro ficou famoso à beira do gramado, o alemão é quase blasé em comparação com grande parte dos outros treinadores – apesar do incidente em que câmeras o flagraram "tirando ouro" do nariz num jogo da seleção.

Em vez de respostas mais passionais, suas entrevistas são marcadas pela maneira quase casual como desmonta autores de perguntas que lhe desagradam. Um grande exemplo foi na última Copa, há quatro anos, quando um jornalista o questionou sobre a Segunda Guerra Mundial às vésperas da partida entre Alemanha e Inglaterra pelas oitavas-de-final. "Estamos em 2010, e a Europa vive uma unificação política e econômica. Parece-me que voltar seis décadas no tempo é uma ideia fora de propósito", afirmou.

Na logística do dia a dia da seleção, Löw mantém outra grande diferença de Felipão. Esconde-se muito atrás da figura do diretor-técnico Oliver Bierhoff – algo comparável a Felipão deixar que Carlos Alberto Parreira fosse seu principal interlocutor. Por sinal, o jeito com que o treinador fala também vira assunto na mídia alemã: seu sotaque da região da Floresta Negra atrai um pouco de desdém da mídia dos grandes centros da Alemanha, ao passo que o "gauchês" de Felipão nunca foi problema, mas sim o estilo viril do futebol do sul do país.

O principal problema no entanto, é o currículo de Löw. Como jogador, foi um meia-atacante que marcou menos de 100 gols em 17 anos de carreira e nunca foi convocado para a seleção alemã. Um problema pelo qual Felipão não passou em sua carreira de treinador, mas que no caso do alemão vira mais um motivo de implicância da mídia.

O título deste ano resolveu a principal diferença: os troféus. Antes disso Scolari contava com uma coleção respeitável de troféus que inclui a Copa do Mundo de 2002. Löw estava "zerado". Agora, à frente da seleção a Alemanha conquistou um troféu e chegou às semifinais das últimas duas Eurocopas e Copas do Mundo.

"Löw difere muito dos treinadores típicos alemães e isso sempre causa alguma estranheza. É inegável que a Alemanha joga um futebol vistoso com ele no comando mas o problema é que o cara não conquista títulos", chegou a afirmar o escritor e jornalista alemão Raphael Honigstein, que cobria a Copa do Mundo no Brasil.

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