Escândalo atinge coração da Fifa: entenda relação de acusado com entidade

Do UOL, em São Paulo

  • Vinicius Konchinski / UOL

    Detido pela Polícia Civil no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, Ray Whelan deixa o local em viatura

    Detido pela Polícia Civil no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, Ray Whelan deixa o local em viatura

Diretor-executivo da Match, Ray Whelan, preso pela Polícia Civil nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, é homem de confiança dos irmãos Jaime Byrom e Enrique Byrom, acionistas e responsáveis pela empresa. Ambos têm ganhado seguidas concorrências para os serviços de hospitalidade em eventos da Fifa. Seus contratos são válidos até 2022. Os negócios envolvem US$ 300 milhões em vendas de pacotes de hospitalidade só no Brasil. Foi pago esse valor para ganhar os direitos sobre as outras duas Copas do Mundo.

São cinco os donos da Match, a Dentsu, que organiza o Mundial de Clubes, a Bidvest, a Infront (empresa que tem como presidente Phillippe Blatter, sobrinho do presidente da Fifa), a Byrom Holdings plc (dos irmãos) e a Winterhil. Em nove deles, Whelan e seu filho Paulo Whelan negociaram com 840 hotéis brasileiros para fechar os pacotes de hospedagens para o Mundial. Impuseram diversas condições para quem quisesse atuar no Mundial, e chegaram a negociar com governos estaduais sobre detalhes de turismo durante a Copa.

O escândalo atinge o coração da Fifa já que Enrique Byrom é figura conhecida dentro da entidade, com conexões com todos os dirigentes da cúpula. É ele o todo-poderoso com muitos ingressos dentro de hotéis da Fifa. Em negociações com hotéis, é apresentado como diretor da Fifa e usa um terno com o símbolo da organização. Oficialmente, ele é diretor da Match.

O acionista majoritário da Match é o grupo Byrom PLC, controlado pelos irmãos Jaime e Enrique Byrom. A relação deles com a Fifa foi deslindada pelo livro "Um jogo cada vez mais sujo", escrito pelo inglês Andrew Jennings e lançado no dia 5 de maio deste ano.

Um dos capítulos mais polêmicos da obra é o sétimo, que fala sobre a caixa-preta de entradas para a Copa do Mundo. "Existe um mundo negro que os fãs do futebol não conhecem, que é o mundo dos negócios de ingressos. Há 209 associações nacionais de futebol na Fifa, como a CBF no Brasil. Algumas são bem honestas, mas a maioria não é. As associações nacionais pedem ingressos aos Byrom, que os fornecem em nome de Blatter e da Fifa. Os negociadores vão até essas pessoas em diferentes países da África, da Ásia e alguns da Europa – especialmente os do antigo bloco soviético – e conseguem ingressos com eles", disse Jennings em entrevista ao site da "Agência Pública".

Segundo Jennings, o negócio foi muito lucrativo em 2006, na Alemanha, mas teve menos sucesso na Copa de 2010. Ingressos corporativos e de camarotes estiveram entre os menos vendidos do Mundial disputado na África do Sul.

"Existem três diferentes contratos entre os Byrom e a Fifa. Um é para os 3 milhões de ingressos para todos os jogos que vocês vão ter no Brasil nos próximos meses. Esses ingressos são para pessoas como eu e você ficarmos nas arquibancadas de concreto gritando e torcendo pelos times. Outro é para acomodação, porque nós estrangeiros e vocês brasileiros de outras cidades precisam de um lugar para ficar. Então os Byrom reservam uma grande quantidade de quartos, perto da Copa do Mundo percebem que não venderam todos e começam a se livrar deles. A terceira coisa é a Match Hospitality, da qual os Byrom são acionistas majoritários, da qual o Philippe, sobrinho do sir Blatter, tem 5% e outros grupos também têm ações… A Match é responsável pela hospitalidade, que são aqueles grandes e caros camarotes de vidro nos estádios, todos novos, pagos, em sua maioria, pelos contribuintes. Tem muito dinheiro na hospitalidade", explicou o jornalista.

Nascidos no México, os irmãos Byrom conheceram Blatter em 1986. Os dois eram próximos de Guillermo Cañedo, que era vice-presidente da Fifa e comandava o futebol no país da América do Norte.

"Os Byrom prosperaram, mudaram-se para a Inglaterra, e hoje administram uma enorme fatia das gigantescas operações da Copa do Mundo da Fifa em um moderno edifício de dois andares, localizado em um parque comercial nos subúrbios verdejantes do sul de Manchester, perto do aeroporto internacional. Uma de suas empresas é a Byrom Holdings, cuja sede fica na Ilha de Man, território em que não precisam publicar seus balancetes. Uma de suas contas bancárias fica em Sotogrande, na Espanha. Os irmãos Byrom moram em agradáveis casas de luxo na área rural do condado de Cheshire, ombro a ombro com astros dos dois clubes de futebol de Manchester", escreveu Jennings.

Isso mostra a confusão entre os quadros da federação internacional e os da Match. São destinados 440 mil ingressos da Copa para a empresa para negociação de pacotes de hospitalidade. Isso significa mais de 10% do total de ingressos do Mundial, que somam 3,3 milhões. Isso significa que a empresa tem acesso a praticamente um número ilimitado de bilhetes do Mundial para revenda ilegal.

Outra empresa do grupo Match, cujo nome é Match Services, atua na própria operação de venda de bilhetes para o Mundial juntamente com a Fifa. Ou seja, o acesso do grupo a entradas é ainda maior.

Até agora, antes da prisão de Whelan, a Match se manifestou dizendo que poderia processar agentes cujos ingressos tivessem sido encontrados com a máfia dos cambistas após comprá-los por meio de pacotes de hospitalidade. Eram agências como a Atlanta Sportif, pertencente a Lamine Fofana, segundo homem na máfia desarmada pela polícia. E detalhou cada número de ingressos revendidos a essas companhias. No total, a Match informou que já vendeu 290 mil pacotes de hospitalidade para 11.400 empresas.

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