Torcedor violento da Argentina preso no DF foi reconhecido por anéis

Aiuri Rebello

Do UOL, em Brasília

O barra brava argentino Pablo "Bebote" Alvarez, preso pela Polícia Federal no estádio Mané Garrincha, em Brasília, no sábado (5) -- onde a Argentina venceu por um a zero a Bélgica e garantiu vaga em uma semifinal de Copa depois de 24 anos -- foi reconhecido mesmo disfarçado por conta de um "deslize" que cometeu: dois anéis de ouro grossos que o torcedor sempre usa, um em cada mão, ajudaram os policiais a confirmar a identidade do líder de torcida, que usava uma camisa do flamengo, óculos e um bigode falso, além de ter pintado o cabelo de verde para tentar passar incólume entre os cerca de 69 mil torcedores que lotaram as arquibancadas.

"Bebote" foi identificado e monitorado pouco depois de entrar na arena com a ajuda das 567 câmeras de vigilância de alta definição instaladas dentro e no entorno do estádio. Nos quase dois minutos de imagens obtidas com exclusividade pelo UOL Esporte é possível ver que, além dos cabelos verdes, ele usa também uma espécie de peruca da mesma cor e um adereço no pescoço que não é possível identificar.

Nas imagens é possível ver o barra brava torcendo, até que nota a aproximação de um segurança da Fifa na escada da arquibancada e percorre a fileira para o outro lado, passando por diversos torcedores. Ele não parece estar acompanhado. Quando chega na escadaria, onde há outro segurança da Fiifa e seis PMs, "Bebote" parece mostrar seu ingresso e fazer uma pergunta à "steward", quando é abordado por agentes da Polícia Federal que chegam por cima e por baixo de onde ele está nas escadas.

O torcedor é imobilizado e levado para fora por uma das saídas por quatro policiais. Não há confusão, conforme havia sido divulgado inicialmente.

De acordo com as investigações do CCPI (Centro de Cooperação Policial Internacional) da Copa, "Bebote" havia entrado ilegalmente no país pela fronteira do Uruguai com o Rio Grande do Sul, em Santana do Livramento, onde não há controle migratório. O nome do líder barra brava -- como são conhecidos torcedores com histórico de violência na Argentina -- estava em uma lista com cerca de 2.000 mil nomes passada pelo governo argentino ao brasileiro com torcedores potencialmente violentos, que estão proibidos de entrar no Brasil durante a Copa.

Segundo o Ministério da Justiça, ele foi deportado na noite de sábado depois de prestar depoimento. Mesmo sem ter cometido nenhum crime conhecido em território nacional, Alvarez foi mandado embora do Brasil com base no Estatuto do Estrangeiro. Ele foi levado pela PF ao aeroporto internacional de Brasília e embarcado em um voo das Aerolíneas Argentinas rumo a Buenos Aires às 20h55.

Pega-pega

"Bebote" foi a pelo menos dois jogos da Argentina -- a partida contra a Nigéria no Beira-Rio, em Porto Alegre, pela primeira fase do Mundial no dia 25 de junho, e a sofrida classificação por um a zero contra a Suíça nas oitavas, no dia 1, no Itaquerão, em São Paulo.

Ao longo deste tempo brincou de "gato e rato" com a polícia, usando as redes sociais para provocações. "Agradeço aos que me confiaram os ingressos para o jogo de hoje. Conseguimos essas entradas para celebrar: Bebote 2 x 0 Polícia Federal Argentina", comemorou ele por meio de uma rede social após a vitória contra a Suíça. Na mesma ocasião, postou uma foto "fantasiado de suíço", que foi como conseguiu entrar no Itaquerão sem ser notado.

Ele é líder da torcida organizada do clube argentino Independiente e das HUA (Hinchadas Unidas Argentinas, que une organizadas para torcer pela seleção), que é considerado um dos barras bravas -- como são conhecidos os torcedores de organizadas do pais vizinho famosos por casos de violência contra outros torcidas, dentro e fora de estádios -- mais perigosos da Argentina.

Policiais argentinos que atuam no centro de cooperação internacional da Copa identificaram o torcedor através das imagens de vigilância, e deslocaram equipes para prendê-lo. As imagens são centralizadas no CICC (Centro Integrado de Controle e Comando) da Copa -- que reúne representantes e informações de todos os órgãos públicos de segurança -- de onde foi coordenada a ação para identificar e prender o argentino. "Essa ação foi fruto da cooperação com a Polícia Federal argentina, que já garantiu resultados excelentes durante este período de Copa do Mundo", diz o delegado da PF Andrei Rodrigues, titular da Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos), vinculada ao Ministério da Justiça que coordena as ações de segurança para a Copa junto com as Forças Armadas.

A PF identificou que além de "Bebote", outros 10 líderes barras bravas argentinos proibidos de entrar no Brasil durante a Copa estão em território nacional para o Mundial. Foi difundida uma lista entre as policiais dos estados-sede com os nomes e fotos dos argentinos, que entraram ilegalmente no Brasil. Alvaréz estaria viajando com mais dois barras desta lista.

Desde o início da Copa cerca de 50 barras bravas foram impedidos de entrar no país pela PF e outros dois além de Bebote, mandados embora do Brasil. Um traficante mexicano foi preso tentando embarcar para Fortaleza para assistir ao jogo do México contra a seleção brasileira na primeira fase do Mundial. Nesta semana, um argentino e um alemão foram deportados por causa de crimes cometidos em seus países de origem.

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