Pepe vê inexperiência como obstáculo para Brasil sem Neymar repetir 1962
Guilherme Costa
Do UOL, em São Paulo
Há um hiato de 52 anos entre as Copas de 2014 e 1962. O país é outro, a realidade é outra e os personagens são outros. No entanto, o Brasil teve a mesma experiência negativa nas duas edições: em ambas, uma lesão tirou da equipe o jogador que carregava a camisa 10 e grande parte das esperanças da torcida. Na primeira vez, a ausência de Pelé abriu espaço no time para a entrada de Amarildo e o protagonismo de Garrincha na campanha do bicampeonato mundial. Hoje, atletas que fizeram parte daquele time acham que é difícil que o roteiro seja repetido. Para eles, vai faltar experiência para isso.
"O baque foi muito grande quando ficamos sem o Pelé em 1962, mas era um grupo muito unido. Nós conversávamos muito na salinha do massagista enquanto tomávamos café, e alguns caras como o Didi, o Garrincha e o Nilton Santos falavam muito sobre o Amarildo. Eles nos disseram que podíamos ficar sossegados, que ele ia entrar e resolver", contou Pepe, que fez parte da seleção bicampeã mundial em 1962.
Além dos elogios a Amarildo, segundo Pepe, os jogadores mais experientes daquele time foram fundamentais para a reação do time: "Ele era um cara muito tímido e muito calado. Quem falava muito era o Nilton Santos, que era experiente e muito fã do Garrincha. Nilton Santos e Didi eram os mais experientes do time, e os dois pediam a todos para dar a bola para o Garrincha. E aí o Mané desequilibrou".
A lesão de Pelé na Copa de 1962 aconteceu no segundo jogo, em um chute para o gol contra a Tchecoslováquia. Logo depois do movimento, o camisa 10 levou a mão à virilha e acusou um problema muscular.
Sem Pelé, Garrincha conduziu o time. O atacante do Botafogo marcou quatro gols e foi eleito pela Fifa o melhor jogador da Copa de 1962. Todo o repertório dele ajudou o Brasil a conquistar o segundo título consecutivo no Mundial. Amarildo, com três gols, foi o vice-artilheiro da seleção.
"O problema é que os tempos são outros. Naquela época, a seleção tinha cinco ou seis atacantes. Hoje jogam apenas dois na frente, e é muito mais difícil substituir alguém como o Neymar, que é pelo menos um dos cinco melhores do mundo", opinou Pepe.
A avaliação de Pepe é que seria mais simples montar o Brasil para a semifinal se houvesse no elenco um jogador mais experiente: "Foi uma pena não terem levado o Robinho. É vivido, já esteve em Copa. Até o Ronaldinho [Gaúcho] seria uma opção agora. Ou então podíamos naturalizar o Robben".
O próprio Amarildo tem visão semelhante sobre a comparação entre a seleção brasileira atual e a de 1962. "Nosso grupo era muito experiente. Nós não tínhamos esse problema de sentir a ausência de um jogador", afirmou ele ao "Diário Catarinense".
"Não acho que tenhamos um substituto para o Neymar no elenco. Neste momento, ele é peça fundamental para a seleção. Neymar é o jogador mais fantástico do Brasil", adicionou Amarildo. "Poderíamos ter alguém para colocar no lugar dele se tivéssemos chamado o Robinho. Ele tem as mesmas características e não mudaria o estilo do time", finalizou o substituto de Pelé em 1962 em entrevista à "Rádio ESPN".